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NO OLHAR AO PRÓXIMO, O DESTINO QUE SE CLAREIA.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 1 de abr. de 2016
  • 8 min de leitura

JOSÉ ANTENOR SARAIVA


O primogênito do casal Antenor Dantas Saraiva e Teresinha Vidal de Oliveira é hoje um reconhecido advogado em Mossoró, especializado em causas na área da previdência social. Mas até chegar a esta condição muita estrada foi percorrida, muita poeira comida, muitas bênçãos recebidas. Dr. Saraiva, antes Zé Nô, quando criança, e Zé Saraiva, a partir da adolescência, nasceu no sítio Orós, município de Brejo do Cruz, Paraíba, em 28 de fevereiro de 1950. Até seus 13 anos, juntamente com seus nove irmãos, vivia na área rural ajudando o pai no tanger do gado e no cultivo do milho, feijão e arroz, plantado as margens do açude do tio Saraiva. “Na época era a opção que existia para os jovens: ajudar os pais nas tarefas diárias. Era dali onde saia o pão para alimentar toda a família. Hoje falta quem queira ir para roça, pois além de continuar sendo um trabalho duro, muitas facilidades foram criadas para sustentar as pessoas na cidade”, comenta. Para estudar, Zé Nô subia no lombo de um jumento e encarava 12 quilômetros até a escolinha da tia Francisquinha, esposa do tio Francisco Dantas Saraiva. Levava seu ‘cotoco’ de lápis e um único caderno para estudar a cartilha do ABC. Maiorzinho, acompanhava as aulas particulares que a professora Osnira dava aos seus primos, pagas pelo tio Luizinho. Como seu pai não tinha recursos, o jeito era pegar carona no saber, coisa que ele fez com competência. Em 1963, ao seguir com estes primos para estudar em Caicó, Zé Nô não decepcionou. “Ao fazer as provas para entrar no Externato São Francisco de Assis, fui aproveitado já no 3º ano, graças aos conhecimentos que acumulei nas aulas com os primos”, destaca. Neste momento, ele se comprometeu com os pais a ajudar a todos os irmãos assim que os estudos lhe dessem o retorno financeiro adequado. E assim o fez.

DURANTE OS TRÊS ANOS SEGUINTES SEU NÔ SE ESFORÇOU para bancar os estudos do filho nesta conceituada escola. Foi só quando a Casa do Estudante de Caicó fechou as portas, não tendo como pagar um hotel para o filho, que ele deu um novo jeito para que aquela caminhada tivesse continuidade. Mandou-o para casa da tia Olívia, em Mossoró, onde Zé Nô morou apenas cinco meses, pois acabou preferindo se alojar novamente na Casa do Estudante desta cidade. Chegando de trem com uma mala contendo duas calças, dois calções, duas cuecas ‘samba canção’ e algumas camisas de botão, terminou o 5º ano e fez o Exame de Admissão aos 16 anos. “Tirei 9,5 na prova de matemática e ganhei minha vaga na Escola Estadual Jerônimo Rosado, onde conclui o ensino fundamental e também o ensino médio”, lembra. Neste período, também encarou o trabalho com muita vontade, embalado por suas peculiares características de trabalhador, persistente, de boa conversa e com a firmeza de quem jamais leva desaforo para casa. O primo José Saraiva logo arranjou um lugar na Pedra do Mercado para ele vender confecções. Todos os dias, a partir das quatro da madrugada, estava a postos para vender aos trabalhadores das salinas, época em que o setor não era mecanizado e empregava milhares de pais de família da região. “As roupas feitas que vinham de São Paulo tinham muita procura. Calças de Nylon, Tergal, Lee Americana e a US Top vinham através do porto de Areia Branca. A tradição de comprar o tecido e mandar fazer as roupas estava começando a ser substituída pela praticidade de já compra-las prontas”, descreve. Morando na Casa do Estudante, o agora Zé Saraiva não tinha transporte para se deslocar nem para Pedra do Mercado, nem para seus estudos no anexo da Escola Estadual do Alto da Conceição. Seu trajeto era sempre a pé, e por isso mantinha uma arma devidamente guardada na cintura. Apesar de seu grande coração, sempre foi de discutir e brigar por aquilo que acreditava. Certa vez, na escola, um professor proveniente do Ceará, segundo ele ‘um bossal’, quis lhe humilhar diante de toda a turma. Jogou um giz em sua direção e o desacatou. “Quando lhe apontei minha arma e o ameacei, este homem correu da sala de aula e nunca mais apareceu na escola. Só não fui expulso pelo fato de todos terem me defendido, dizendo que eu estava com a razão”, conta.

A VIDA INDEPENDENTE QUE LEVAVA DESDES OS TEMPOS DE CAICÓ, continuada em Mossoró, o ajudou ainda mais a ter responsabilidade e disciplina necessárias para cumprir com sua promessa aos pais e irmãos. Através do trabalho duro, adquiriu condições para assumir a família quando da morte inesperada do pai, em 1969, quando este tinha apenas 36 anos e ele 19. Em um acidente casual, um amigo apertou o gatilho de uma arma de fogo e atingiu fatalmente Seu Nô. Durante dois anos, foi Zé Saraiva que ajudou a família enviando recursos para o sustento básico. Bom de venda, passou três anos negociando na Pedra do Mercado até ser contratado por Hugo Pinto para ser vendedor na Casa Pinto. Durante a semana trabalhava na loja e nos finais de semana viajava para Apodi e Baraúna com as roupas que negociava com seu Hugo Pinto. Esforço que o possibilitou trazer sua mãe e irmãos para Mossoró em 1971. No ano anterior, Zé Saraiva havia casado com Rita Nunes Fernandes Saraiva, uma colega de escola que foi sua primeira grande paixão e que lhe deu quatro filhos: Carlos Magno, advogado; Samela Roraya, administradora; Yaskara Karine, agrônoma; e Max Rezziery, advogado. “Para casar comprei uma casa no bairro Doze Anos e sai da Casa do Estudante. Uma Casa que ficará eternamente no meu coração, pois nela passei anos fundamentais, que me prepararam para os desafios que viriam”, revela. Sua trajetória profissional continuou na Casa Porcino, vendendo móveis e eletrodomésticos, de onde saiu para gerenciar a Veneza Decorações, de Israel Damião. Neste momento da vida, com 28 anos, conheceu e contratou para trabalhar com ele a hoje advogada Maria do Socorro Alves, com quem tem uma relação afetiva até hoje, trabalhando ao seu lado, e que lhe deu três filhos: Marcia Viviane, médica veterinária e professora da Faculdade de Medicina de Sobral; e os advogados Marcio Victor e Marcelo Vagner. “Ensino aos meus filhos e netos que sempre devemos ter responsabilidade pelos nossos atos, mesmo que eles sejam irresponsáveis. Assumir os erros é fundamental. Não fazê-lo de forma alguma evitará a futura cobrança, ‘centil por centil’. Ao assumir uma segunda família gerei sentimentos doloridos para todos os envolvidos, me fazendo amadurecer com a convivência constante da resignação”, destaca.

ZÉ SARAIVA ENTROU NO CURSO DE HISTÓRIA na UERN em 1977, antes de concluí-lo, em 1980, foi instalado o curso de Direito, profissão que estava em seus pensamentos desde sempre, pois era ‘bom de briga’, de argumentações. Como não era de desistir de nada, preferiu concluir o curso já começado. Quando iniciou o novo curso, já estava gerenciando as três lojas da Casas Régis, de Reginaldo Teófilo. Depois montou sua própria loja de móveis usados, local onde abriu seu primeiro escritório de advocacia logo depois de concluir Direito em 1987. Foi neste escritório que aconteceu um fato que mudaria para sempre o seu destino. Nos três anos em que passou em Caicó, Zé Saraiva conquistou uma amizade muito especial com um menino de sua idade que ele todos chamavam de Neguinho de Maria de Assis, a dona do Hotel Brasil que o criava. Todo dia estavam juntos brincando de ‘bila’, entre outras diversões da época. Quando deixou Caicó, em 1965, não mais havia tido notícia daquele amigo fraternal. Faziam então mais de 21 anos que não se viam. Certo dia, preocupado com o pagamento do aluguel do prédio de seu negócio, Dr. Saraiva recebe duas, mulheres e uma menina, esta com cerca de sete anos de idade. A mulher mais velha contou então que a outra havia casado com um rapaz a contragosto de todos da família e tinha ido morar em Castanhal, cidade do Pará. Por lá seu marido perdeu a vida em um acidente de trabalho. Ela então voltou para Mossoró com a filha e nunca havia conseguido receber aquilo que a lei lhe conferia como direitos, inclusive a pensão. Já haviam passado por outros advogados e ninguém havia pegado o caso devido as despesas que seriam necessárias para levantar as provas e agilizar a devida reclamação junto a justiça. O problema é que elas não tinham nenhum dinheiro para contratar um profissional. E por este motivo também Dr. Saraiva dispensou o caso. Porém, ao saírem do escritório, quando ia fechar a porta, a menina se virou e olhou nos olhos dele. “Algo muito estranho aconteceu naquele olhar. De repente fui levado a correr e chamar aquelas mulheres de volta para o escritório. Senti que deveria procurar fazer alguma coisa por elas e pedi pelo menos o telefone da empresa na qual ele tinha se acidentado. No entanto, elas só tinham o telefone da agência do INSS de Castanhal, e como já passava do meio dia, hora do almoço, provavelmente não iria conseguir resolver nada naquele momento”, conta Dr. Saraiva. Para sua surpresa, foi o próprio diretor da agência que estava ao telefone. Dr. Saraiva então se identifica e começa a contar a história. No entanto, seu interlocutor o interrompe pedindo para ele repetir seu nome. Confirmado, do outro lado da linha o diretor da agencia começa a perguntar se por acaso ele era aquele menino de Brejo do Cruz que havia ido morar em Caicó para estudar. Sob lágrimas, de ambas as partes, Neguinho de Maria de Assis se identifica, não conseguindo esconder a grande emoção que sentia em voltar a falar com seu grande amigo de infância.


FOI ASSIM QUE O RECÉM-FORMADO DR. SARAIVA pegou e resolveu seu primeiro caso ligado à Previdência Social, especialidade que abraçou a partir daquele momento e que lhe possibilitou conquistar tudo que mais queria em sua vida: ajudar os seus familiares a também conquistarem seus próprios sonhos. Acabou fechando a loja de móveis usados, abrindo novo escritório na Avenida Alberto Maranhão. No início dos anos 2000 comprou seu próprio prédio em frente ao da agência do INSS, centro de Mossoró, onde trabalham hoje seus filhos e netos, alguns já advogados, outros estudantes do Direito. Também abriu filiais em feira de Santana/BA e Parnaíba/PI, ambas recentemente fechadas devido as distâncias e a necessidade constante de suas próprias visitas pessoais. Mantém, no entanto, sob a administração de seus filhos, as filiais de Itapipoca, Itarema, Irauçuba e Camucim, todas no Ceará. Certa vez chegou a ganhar 50 das 54 causas que colocou contra o INSS em relação a Mandato de Segurança sobre execução das aposentadorias rurais que foram excluídas pela revisão rural de 1995. “Feitos que ajudam a divulgar nosso nome neste mercado de trabalho tão conflituoso e ao mesmo tempo tão importante para sociedade”, explica. Sua mãe faleceu em 25 de janeiro de 2007, vendo com orgulho seus filhos todos bem encaminhados e sob a proteção do primogênito dedicado e bondoso, que em muito contribuiu para que muitos se formassem e formassem seus netos. Apesar dos contratempos, frutos das relações entrelaçadas, Dr. Saraiva se orgulha de toda sua trajetória na qual acredita ter sido sempre iluminada por anjos que ele mesmo não sabe atribuir de onde vieram e como chegaram a sua vida. “Só sei que muito tenho a agradecer ao Nosso Deus por todas as graças que recebi em minha trajetória de vida. Hoje tenho muito mais do que pedi, podendo continuar ajudando, na medida do possível, as pessoas que acreditaram ser possível o briguento Zé Nô se formar Doutor”, finaliza.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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