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DE PAIXÃO EM PAIXÃO.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 11 de mar. de 2016
  • 6 min de leitura

GABRIELA BARROS DOS ANJOS

Crateús é uma cidade polo de outras dez, em pleno sertão cearense, ponto estratégico para vários segmentos, como o de transporte, por exemplo. Esta foi a razão pela qual a Viação Itapemirim ter mantido lá, por anos, um escritório próprio, vendendo passagens e distribuindo encomendas na região. O gerente era Nivaldo Adogrin dos Anjos, casado com Maria de Fátima Barros dos Anjos. Ambos já haviam saído de relacionamentos anteriores e resolveram recomeçar, fazendo nascerem três meninas: Regina, engenheira de segurança em empresa prestadora de serviço à Petrobrás; Daniela, técnica de segurança e empreendedora; e Gabriela, arquiteta, personagem de nossa história de hoje, nascida em 27 de outubro de 1981. Em 1987, a empresa transferiu seu Nivaldo para Mossoró com o objetivo de conquistar também o mercado na região oeste do estado vizinho. Foi quando toda família de Gabriela chegou por estas bandas para ficar. Um quarto filho apareceu, André Luiz, estudante de Letras na UERN, este deixado na porta de casa juntamente com uma carta de uma mãe desesperada que dizia ter ele nove dias de nascido. Anos depois seu Nivaldo foi contratado pela Viação Planalto, enquanto dona Fátima, logo que chegou a nova cidade, fez um curso de cabeleireira e abriu seu próprio salão, na casa da família, bairro Nova Betânia. Mesmo quando se mudaram para o bairro Aeroporto, o salão foi junto. Ela só deixou de trabalhar por motivo de doença em 2012. Devido a relação dos dois nunca ter sido de calmaria, os filhos cresceram em um ambiente minado de incertezas e angustias, mas que nunca faltou respeito e carinho. Natural que a independência financeira e a liberdade pessoal acabassem se tornando sonhos prioritários para cada um deles.

EM MOSSORÓ, GABRIELA ESTUDOU NO INSTITUTO MONTESSORI, depois no Colégio Evangélico Leôncio José de Santana e ainda no Colégio Pequeno Príncipe, quando na 5ª série foi reprovada. O pai não gostou e a colocou em escola pública, indo repetir o ano na Escola Estadual Professor Eliseu Viana, onde concluiu o ensino fundamental. “A mudança me mostrou que eu deveria me dedicar mais aos estudos, pois senti na escola pública muita bagunça, desorganização, indisciplina e desinteresse por parte dos alunos e também dos profissionais da educação. A partir daquela experiência, aprendi a valorizar mais os estudos”, conta. O pai concordou em matricula-la no Diocesano para que fizesse um bom ensino médio. O padrão de vida da família era bom e comportava esta despesa. Mas és que ela é novamente reprovada e faz com que ela volte para o ensino público, repetindo o 1º e fazendo o 2º ano na Escola Estadual Abel Cabral. Desta vez, no entanto, o motivo da nova reprovação foi uma grande paixão amorosa. Dois anos antes Paulo, colega de supletivo da mãe, três anos mais velho que Gabriela, havia pedido ela em namoro e teve o consentimento de toda família. A relação durou um ano de muita intensidade. Na cabeça da menina o casamento já era um sonho próximo até que, de repente, Paulo e toda sua família vão embora de Mossoró para São Paulo. “Ele nem teve a coragem de me avisar. Ainda de menor, era dependente da mãe e não podia decidir nada sem o apoio dela, que não queria o namoro. Nós dois sofremos e choramos muito”, descreve. Para Gabriela ir para escola passou a ser um sacrífico, ainda mais com a promessa dele de que viria lhe buscar em breve. Ela só pensava neste momento. Foi nesta ansiedade que durante as férias embarcou para São Paulo com a ajuda do pai para encontrar o amado. Mas a mãe dele não deixou que eles se vissem. Voltou para Mossoró desolada e sofredora, preferindo o mundo da rebeldia e da bagunça, o que lhe causou mais este atraso escolar.

CERTO DIA, QUANDO ESTAVA AJUDANDO O PAI NA AGÊNCIA DE PASSAGENS, teve a enorme surpresa da presença de Paulo, que havia vindo lhe buscar para viver com ele. Ia fazer em breve 18 anos e já podia decidir sozinha seu destino. Topou, com a aprovação de seus pais, e foi morar em São Paulo, justamente na casa da sogra. Durante oito meses de difícil convivência, além da saudade da família que lhe angustiava, Gabriela optou em voltar para Mossoró, divorciando-se de Paulo. “Meu sentimento por ele ainda durou cerca de dois anos, até eu perceber que tudo não passará de uma ilusão, aquela coisa de primeiro amor da vida”, conta Gabriela. Decidiu pensar mais em sua vida profissional. Mostrou ao pai que queria estudar, e ele a apoiou, matriculando-a no Colégio Darwin para concluir o ensino médio. Em 2001, passou em concurso da Prefeitura de Mossoró na função de merendeira, pois era a que achava ser de menor concorrência. O que queria mesmo era ter a garantia uma renda mensal. Na época, o setor de transporte começava a sentir as mudanças com a entrada dos alternativos, e o pai perdia poder aquisitivo. Até ser chamada em 2002, trabalhou como vendedora em uma loja de calçados e auxiliar em estúdio fotográfico, ambos conseguidos com seu próprio esforço, pedindo emprego de porta em porta. Depois assumiu seu cargo público em escolas da cidade, durante dois anos como merendeira, e até recentemente na secretaria de administração do município. Enquanto buscava um lugar ao sol, Gabriela havia conhecido Zander Silva, um brasiliense que estava em Mossoró estudando Administração na UERN. Uma paixão de três meses que resultou em uma gravidez surpreendente. Eles resolveram assumir a criança e a relação. Os primeiros seis meses de gestação ela ficou ainda na casa da mãe, até alugar uma casa vizinha e levar o rapaz para morar com ela. Zander não trabalhava, mas quando Pedro Gabriel, hoje com 13 anos, nasceu, ele viu que teria que se virar para assumir as responsabilidades do mundo adulto. “Foram cinco anos de uma relação distante, sem a devida cumplicidade. Aprendi que a vida não é construída como nos contos de fada, um mar de rosas que a gente cria em nossos pensamentos e acredita que se tornarão realidade sem o devido esforço”, descreve. Acabaram se separando e Gabriela resolveu agir mais, investindo em seus conhecimentos.

INICIOU O CURSO DE MECÂNICA INDUSTRIAL NA ETFERN, hoje Instituto Federal (IFRN), mas não se identificou com a área. Queria mesmo algo ligado a arquitetura, design, ambientação, um sonho de adolescente. Além do emprego público, fazia lembrancinhas em biscuit, em parceria com a mãe que com a doença fechara o salão e passou a costurar, fazendo enxovais que Gabriela desenhava. Muito inquieta, impaciente, sem saber o que fazer com o pouco tempo que tinha livre, pois ainda tinha as obrigações de mãe, arranjou espaço para iniciar o curso de Automação Industrial no SENAI, que também não concluiu pelo fato de terem abertas as inscrições na UNP para o curso de seus sonhos: Arquitetura. Entre 2010 e 2014, se esforçou para pagar as mensalidades e conquistar seu caminho profissional no qual era apaixonada. Logo no inicio, a partir da disciplina Sustentabilidade, descobriu uma atividade que muito lhe ajudou na parte financeira: criava móveis a partir de Pallets descartados. “Andava pelas ruas de Mossoró procurando onde tinha estes gradeados, pois depois que eles ficavam sujos, desgastados e até quebrados, as empresas e os caminhoneiros joga-os em qualquer lugar”, lembra. Gabriela desmontava, lixava, pintava e os transformava em móveis com arte, postando as peças em redes sociais. Acabou criando uma clientela que de boca em boca se multiplicou. Com os conhecimentos que ia adquirindo no curso, foi se preocupando em buscar um material que tivesse mais refino e sutileza, sem que seus produtos tornassem elitizados. Gabriela queria continuar alcançando uma clientela nas diversas faixas de poder aquisitivo, pois para ela bom gosto e qualidade são direitos de todos. Foi quando conhecemos a madeira Pinos Elliottii, de reflorestamento, ideal para móveis pela beleza, resistência e infinitas possibilidades que proporciona”, explica. Pediu exoneração da Prefeitura e abriu um espaço com a sócia Daniela Câmara onde respira arquitetura e arte, refletindo seu novo momento de vida. Ela agora está se especializando em design de móveis, desenhando e produzindo peças com sua assinatura, dentro de uma filosofia de trabalho que respeita o meio ambiente e possibilita a socialização da beleza e da sofisticação de móveis para todos, independente de classe social. “Virou minha verdadeira e grande paixão, claro, depois da paixão que sinto por Pedro Gabriel, minha maior razão de acreditar que podemos fazer tudo o que sonhamos, meu tesouro, meu sentido de viver”, emociona-se Gabriela.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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