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NOS TRILHOS DE UMA VIDA.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 24 de fev. de 2016
  • 6 min de leitura

MANOEL SEBASTIÃO FERNANDES PEDROSA

Tião Pedrosa nasceu em Caraúbas no dia 26 de novembro de 1937, quarto filho dos catorze do casal Raimundo (Dedé) de Oliveira Fernandes e Luzia de Albuquerque Pedrosa. Sob os trilhos do belo vagão da vida, escreveu sua história com a sensibilidade, valentia e saber de um bom nordestino. Mas começamos a contar sua história pelo pai de sua mãe, o avô Ehisberto Napoleão Pedrosa, que participou de toda a construção da linha férrea ligando Mossoró a Sousa/PB, um marco da economia do século 20 na região. Inicialmente topografo, foi ele quem fez as medições do primeiro trecho da obra, em 1912, entre Porto Franco (Grossos) e Mossoró, inaugurado em 1915. Por seus primeiros vagões passavam sal, algodão e gesso, pessoas e encomendas que fizeram o progresso da região litorânea onde hoje despontam Areia Branca, Grossos e Tibau. Até aquela data as mercadorias que aqui chegavam vinham, principalmente, nos lombos dos jumentos, quase todas provenientes de Fortaleza ou Campina Grande. O trem passou a ser a melhor opção de transporte para a chegada dos produtos que abasteciam o comércio, por sua agilidade, segurança e preço baixo. Infelizmente, como tudo no Brasil já naquela época, foi apenas em 1950, 35 anos depois, que ocorreu a inauguração do trecho restante, ligando a capital do Oeste à cidade paraibana de Sousa. Durante este longo período, seu Ehisberto foi uma das peças importantes para a concretização do sonho, quando chegou a ser o administrador em determinados períodos. Aposentou-se na empresa como Mestre de Linha em Alexandria, após concluída as obras.

MORANDO EM CARAÚBAS COM TODA A FAMÍLIA, seu Ehisberto não gostou nadinha de saber que sua filha Luzia havia fugido com o filho de um fazendeiro da cidade, Sr. José Fernandes de Oliveira, da Fazenda São José, pois todos sabiam que Dedé gostava mesmo era de tocar sanfona. Era o ano de 1932, e as obras da linha férrea chegavam por aquelas bandas. “Se não fosse esta obra como era que meu pai iria conhecer minha mãe?”, pergunta Tião Pedrosa. No começo não foi fácil a relação, mas o casal foi se dando bem e Dedé foi tomando gosto pelo trabalho. Era feitor de obras para Prefeitura da cidade, e já havia dado conta da construção do açude público Santo Antônio. Assim, em 1944, o sogro resolveu lhe dar uma oportunidade na grande obra daquele tempo. Contratou-o para ser feitor em trechos da estrada de ferro, juntando trabalhadores para abrir os caminhos dentro da mata onde passariam os trilhos do progresso. “Eu tinha sete anos, e a partir daquele momento passamos a morar em várias localidades até os meus 13 anos. Fomos para Antônio Martins, depois Vaca Morta, Juazerinho e Alexandria, Agreste e São Pedro, município de Santa Cruz(PB), até morar em Poço de Pedra, já em Sousa”, conta Tião. “Nesta última parada lembro que a mata era completamente fechada, e eu e meu pai dormíamos embaixo de um pé de Pau Branco ouvi um canto diferente. Meu pai logo falou: este é o canto da Curicaca. Nunca mais ouviu aquele som, mas aquilo ficou em minha memória até hoje”, relata. As matas eram ricas em fauna e flora. Gatos do mato, raposas, pebas, tatus, tamanduás, tijuaçus e tejos não faltavam. Pássaros diversos e até gambá se encontravam na caatinga nordestina. O tempo, as estiagens prolongadas e as caças trataram de devastar esta riqueza.

DA FAMÍLIA DE SEU DEDÉ OS ÚLTIMOS FILHOS NASCERAM EM ALEXANDRIA. Inaugurada a obra, se instalaram nesta cidade onde ele assumiu a função de guarda da estação. Até então Tião estudava com as professoras particulares contratadas pela mãe, tendo o reforço da irmã mais velha Maria José. Em 1950 pôde conhecer a escola, matriculado no 2º ano primário após devidas avaliações, no Grupo Escolar Coronel João Bernardino, onde fez até o quinto ano em 1953, que na época era um grande feito, com direito a diploma, foto com paletó e gravata, além do baile dançante de formatura. A professora da turma, para oportuno registro, era dona Naná, Francisca Alves de Oliveira. Eis que no dia da festa, com toda a turma arrumando o salão, um toque sutil de mãos faz surgir um sentimento devastador entre Tião e Francisca Maia Pedrosa, ou Francinete Maia, como ele já a chamava nos três anos em que estudaram juntos, até os dias de hoje. Naquele dia iniciou-se o namoro, sem beijo, até cerca de um mês depois, quando ele se aproveitou do primeiro sinal do desligamento do motor que gerava energia para a cidade, quando era desligada e ligada a energia rapidamente para avisar que em instantes ela iria ser desligada até o outro dia. Tião roubou o primeiro beijo e quando a luz voltou já estava afastado de Francinete. Depois correu para casa com os dois felizes da vida. O namoro durou seis anos, com alguns afastamentos, divergências naturais da juventude, até casarem em 20 de maio de 1959. Em 1954 havia sido nomeado como auxiliar de agante na estação de Baixa Verde, 11 km de Alexandria. Morava na própria estação e todo sábado pegava a bicicleta e vinha para cidade maior, retornando nas segundas cedinho. Em 13 de maio de 1958 foi transferido para Mossoró, vindo morar na casa do avô Ehisberto, no Córrego do Barbosa, bairro Paraíba. Sua função era de grande responsabilidade, mesmo tendo apenas 20 anos: Controlador de Trem. “Recebíamos as informações por telefone de como estava a situação de toda a Estrada de Ferros, até Sousa, para orientar os maquinistas de todas as locomotivas em circulação, para que não ocorresse o indesejável encontro delas pelo percurso”, descreve Tião, que lembra de tempo em que chegou a ter 16 trens rodando ao mesmo tempo, entre os de passageiros, cargas, de lastro e de gesso.

ACABOU SENDO NOMEADO TEMPOS DEPOIS PARA AGENTE SUBSTITUTO, tirando férias dos chefes das diversas estações. Neste período, aproveitou uma ida para Alexandria e casou com Francinete. Alugou uma casa na Rua Princesa Isabel , bairro Doze Anos, e conseguiu ser transferido para Inspetoria de Materiais, ficando em definitivo em Mossoró. Pensando que era ‘Doutor’, durante dez anos negligenciou os estudos. Francinete era professora e trabalhava na escola estadual Moreira Dias, enquanto Tião, depois do expediente, gostava mesmo era de assistir os treinos de futebol no campo da Rua Benjamim Constant. Até que um amigo, Vinicius de Oliveira Miranda, o perguntou se ele não queria voltar a estudar, pois tinha chegado na cidade um tal de ‘Supletivo’, que ele tinha feito e gostado muito. Tião sentiu remorso em ver seus colegas de trabalho estudando, enquanto ele ia ficando para trás, e topou o desafio. Fez logo o cursinho de português de Dorgival de Souza para recomeçar seus estudos, mas logo na primeira prova do supletivo foi reprovado. Pensou em desistir, pois achava que nada entrava em sua cabeça. Fez um esforço maior a partir do incentivo da esposa e de amigos, passando nas provas e concluindo o ensino fundamental em 1969, aos 32 anos. Logo em seguida, se matriculou no curso técnico de contabilidade do União Caixeral, concluído em 1972. Bráulia, sua irmã mais nova, então com 16 anos, disputava com outra garota bem humilde as duas melhores notas do curso. Tião era sempre o terceiro melhor. “Acabei tomando gosto pelos estudos, e assim que conclui, passei no vestibular de Administração de Empresas da UERN, me formando em 1976, aos 39 anos de idade. Uma vitória inesquecível em minha vida”, conta emocionado.

DURANTE ALGUM TEMPO, TIÃO SAIA DA AGORA RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.) para trabalhar no escritório de contabilidade do irmão Oliveira Pedrosa, até montar seu próprio escritório, que mantém até hoje, ao lado de sua residência na Rua Frei Miguelinho, onde nasceram os filhos Mara, pedagoga, e Marcílio, contador. Os seus quatro primeiros filhos nasceram ainda quando morava na casa alugada da Rua Pirncesa Isabel: Marcia, economista; Marcos, técnico em contabilidade; Marcondes, técnico em ótica morando em Porto Alegre/RS; e Marta, pedagoga, atual diretora da escola municipal Monsenhor Mota. Nestes quase 40 anos no mundo da contabilidade, Tião fez amigos e história na cidade de Mossoró. Já em 1960 foi um dos nove integrantes da reunião que fundou o Baraúnas Futebol Clube, a convite do amigo Manoel Marinho. Foi também professor de Economia e Mercado do União Caixeral a convite do diretor Hermogenes Nogueira, onde só ficou um ano e meio devido seue outros afazeres não lhe permitir tempo para corrigir, criteriosamente, provas e trabalhos dos seus mais de 250 alunos. Em 16 de agosto de 1969, iniciou ainda uma das mais antigas trajetórias na maçonaria de Mossoró, quando entrou na loja 24 de Junho. Neste tempo exerceu diversos cargos, entre eles, tesoureiro, mestre de cerimônia e venerável, entre 1983 e 1985. “A maçonaria significa tudo na minha vida. Mudou meu comportamento, aprendi a melhor viver em sociedade, respeitando as opiniões, vendo a importância da humildade no convívio social”, resume. O pior momento de sua vida foi quando em 1972 um tumor na cabeça o deixou cerca de 15 dias me pré-coma, tendo que ser levado para Recife onde fez três cirurgias para tirar em definitivo o ‘dito cujo’, que pelas graças de Deus era benigno. Tião conta que naqueles dias não teve medo de morrer, pois quando estava doente nem tinha como pensar nisso. Hoje sim, diz ter este medo, pois não quer se afastar de Francinete, seu porto seguro, ou melhor, sua locomotiva, que carrega os filhos e netos como se fossem vagões cheios de amor, carinho e atenção para com este casal de tantas histórias e viagens pelos trilhos da vida.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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