ELE DISSE SIM AO TRABALHO.
- obomdemossoro
- 21 de fev. de 2016
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HÉLIO ALMEIDA DA SILVA
Hélio nasceu em Mossoró no dia 29 de novembro de 1978, caçula dos quatro filhos de Vicente Paulino da Silva e Maria Almeida da Silva. Criado no bairro Boa Vista, deu muito trabalho em sua infância de muitas brincadeiras e traquinagens. Para ir à escola era preciso que a tia Dorinha o levasse na ‘pêia’, mesmo assim, ‘gazeava’ muitas aulas para jogar bola. Estudou na Escola Estadual Monsenhor Raimundo Gurgel até ser expulso na sétima série por quebrar carteira, soltar bomba, entre outras ações de um menino inquieto e ansioso em descobrir o mundo. Na Escola Estadual Moreira Dias fez até o segundo ano do ensino médio, quando o pai perguntou o que ele queria da vida. “Respondi que era trabalhar. Minha cabeça não estava focada em estudar”, afirma convicto. Seu pai foi um cabeceiro de sal que hoje está aposentado aos 76 anos, doente devido problemas na musculatura de um corpo que muito fez. A mãe, que acaba de ser cirurgiada e está se recuperando com a filha em Natal, também aposentada, foi costureira, ajeitava colchões e sofás, cortava cabelos, se virava para ajudar nas finanças da casa, pois tinha que alimentar os filhos Almeidinha, Hermes, Hélia e Hélio. Em 1991 a família teve que enfrentar a dor do falecimento de Almeidinha, aos 19 anos, em decorrência de uma convulsão provocada por uma veia entupida. “Eu tinha 13 anos e vi meu irmão mais velho, meu amigão, morrer sem que eu pudesse fazer nada. Ele já trabalhava de mecânico e digo com certeza que me faz muita falta. Ficou uma tristeza, um vazio difícil de ser preenchido”, conta Hélio. Hermes é hoje um motorista de carreta e Hélia, formada em contabilidade, possui escritório em Natal.

NESTA ÉPOCA HÉLIO JÁ ESTAVA ENVOLVIDO EM OFICINAS MECÂNICAS, mas não ganhava dinheiro, era mais um aprendizado de curioso. Em casa as dificuldades financeiras eram grandes. O peixe era seu avô que trazia de suas pescarias quase diárias. “Cuscuz, feijão, arroz, mas tudo no limite. Com meu primo Manoel, saia vendendo cajarana nos bares e bodegas que pegávamos na casa de nossa avó, onde íamos dormir só para acordar cedinho”, lembra. “Hélio era meio tímido e ficava sempre com a lata dele por trás, envergonhado das pessoas o verem vendendo para ganhar o pão de cada dia. Mas não tinha como se esconder. Também vendíamos pamonha e canjica na época da fartura de milho”, conta o primo e parceiro Manoel. Adolescentes, os dois tiveram que driblar situações difíceis que para alguns acabaram sendo o atestado de morte. Para entrar no mundo da marginalidade não faltaram convites. Mas os ensinamentos de seu Vicente sempre falaram mais alto. “Nunca tive vida fácil, sempre foi tudo apertado, mas nunca me deixei levar pelo lado errado. Hoje procuro ajudar aqueles meninos que vejo estarem em situação difícil, correndo os mesmos riscos que a gente correu. Digo a eles que dinheiro fácil não vale a pena. Devo muito ao meu pai e a minha irmã pelos conselhos que me deram”, revela Hélio. Quando tinha 17 anos, sua mãe foi com ele pedir um emprego na empresa POLOCAR, de refrigeração em automóveis. O proprietário Elieber perguntou o que ele sabia fazer e disse que lhe daria um período de experiência. Foi o passo inicial em uma profissão que o fez crescer na vida e se tornar um profissional reconhecido e admirado. Passou quatro anos na empresa até ser dispensado, mas o principal ele já havia obtido: a base de sua formação em um serviço que exige muita especialização técnica.

NÃO DEMOROU PARA HÉLIO SER CONTRATADO por outra empresa do ramo: a Nosso Frio, do empresário Joilson, conhecido por Goinho. Passou três anos neste emprego onde muitas vezes fazia o papel de gerente geral da oficina devido os conhecimentos que já possuía. Nesta época, foi pai de Vitória, hoje com 16 anos e estudante do ensino médio, fruto de um relacionamento ocasional. A menina foi criada na casa dos pais dele, onde mora até hoje. Deixou a Nosso Frio em 2001, quando aceitou o convite de Bilau, dono da Friotec, que o chamou para tomar conta da oficina, emprego onde ficou por sete anos. Neste tempo, conseguiu reunir umas economias com a ajuda dos serviços que fazia no período noturno e nos finais de semana em sua própria casa. Foi ganhando responsabilidade, podendo ajudar financeiramente os pais, e a fama de namorador foi resfriada ao conhecer Raissa Cavalcante Assis, que morava perto de sua casa. “Ele me deu uma carona e eu lhe disse que não precisava me deixar na porta de casa, bastava parar na esquina, pois não queria que meus pais me vissem saindo de um carro. Ao parar, me pediu um beijo e eu só permiti se fosse no rosto. Foi assim que começamos a namorar”, conta Raissa. Foi a primeira vez que Hélio se interessou por alguém de verdade. Os outros foram relacionamentos ocasionais, sem o despertar maiores sentimentos. Um deles resultou no nascimento do menino Nicholas, que tem cinco anos, e na vida do qual Hélio sempre procura está presente. “Com Raissa foi diferente. Bonita, pessoa direita, estudante, de família conhecida”, pensou Hélio. Pronto, o coração do inquieto mecânico estava fisgado. A relação teve seu coroamento com o nascimento de Maria Alice, hoje com cinco anos. No entanto, somente em 2014 é que os dois passaram a morar juntos, quando ficou pronto o apartamento construído no prédio onde funciona a oficina, investimento que teve o incentivo de seu Vicente e a coragem empreendedora de Hélio. “Quando o prédio ficou pronto é que eu e Raissa nos mudamos, pois antes era cada um em sua casa”, descreve.

FOI EM 2007, POR JÁ TER MUITOS CLIENTES EM SUA CASA, que Hélio resolveu montar seu próprio negócio, no Alto da Conceição. O nome só veio depois (Hélio Frio), pois segundo ele, o que fica na cabeça é sempre o trabalho correto e o esforço para resolver cada serviço no menor espaço de tempo possível. “Assim o cliente fica satisfeito e acaba tendo nossa empresa como referência”, acredita. Sua empresa já chegou a ter 19 funcionários, mas por apostar na qualidade do serviço, preferiu reduzir o quadro para dez e melhorar o atendimento, a agilidade e confiança no negócio. “Não senti efeitos desta crise. Nunca falta clientes pra gente. Os maiores problemas são na quebra do compressor ou o evaporador do ar condicionado furar. São trabalhos que duram pelo menos meio dia de serviço pela complexidade dos serviços”, explica Hélio. Para ele, Mossoró está crescendo rapidamente e o número de carros não para de aumentar. Sua maior dificuldade é com mão de obra de qualidade, daí a ideia de promover nos próximos dias um curso de ‘Ar Condicionado Automotivo, com 60 horas, onde será oferecido certificado de conclusão, estágio garantido e material didático. “O pior é quando a gente ensina, investe no cara e ele acaba indo embora para outra empresa”, conta. O segredo de seu crescimento, conta Hélio, foi trabalhar muito, fazer o serviço com segurança e ganhar a confiança do cliente. “Dando o resultado esperado não tem erro”, diz. Também investiu muito em mídia para ganhar espaço no mercado, só parando para investir em prédio próprio. “Mas vou voltar a anunciar para garantir novos negócios. Não podemos descansar nem um segundo, senão somos atropelados pelos concorrentes”, afirma o destemido mecânico.

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