O MUNDO EM VERSOS.
- Lalauzinho de Lalau
- 19 de fev. de 2016
- 2 min de leitura

Pra lembrar o mote: Toda casa de taipa abandonada, guarda um grito de fome dentro dela...
Visitei meu sertão de ponta a ponta Só pra ver o casebre onde morei A porteira na frente eu avistei Só o mato que fez tomar de conta Minha ânsia no peito estava pronta Pra dizer quero ver o jeito dela Minha casa na frente era amarela Mas com o tempo, a cor é desbotada Toda casa de taipa abandonada Guarda um grito de fome dentro dela
Foi papai quem caiou a sua frente Quando a chuva passou despercebida Tendo água melhora a nossa vida Fica a terra molhada ao invés de quente Depois passa essa chuva derepente E a seca ocupando o lugar dela Deixa a vaca mais gorda magricela E o leite não dá pra meninada Toda casa de taipa abandonada Guarda um grito de fome dentro dela
Sem comida, sem pão e sem inverno Na casinha de barro do roceiro Não tem mais as galinhas no terreiro E a mata vestindo um novo terno Desse jeito o sertão vira um inferno Foi assim que deixei de morar nela Pai vendeu o cavalo e sua sela E depois levou nós pela estrada Toda casa de taipa abandonada Guarda um grito de fome dentro dela
Eu voltei com saudades do recinto Do viver da pequena moradia Mas eu vi dentro dela a agonia Que essa dor que bateu ainda sinto É verdade, eu chorei, pois eu não minto Quando vi o pedaço da tigela A chinela que mãe calçava ela E caindo um pedaço da latada Toda casa de taipa abandonada Guarda um grito de fome dentro dela
Escutei um gemido lá no quarto Mas só vi rachadura no oitão Vi quebrada a mão velha do pilão Vi rasgado um pedalo de um retrato Era uma casa de taipa lá no mato Que pra mim era pobre mais singela Eu, papai e mamãe morava nela Mas a casa hoje está quase arriada Toda casa de taipa abandonada Guarda um grito de fome dentro dela
Ô saudade do pé de cajarana Que ficava no fundo do quintal Ô saudade do gado no curral Do engenho e papai moendo cana A saudade que eu sinto é mais tirana Que espinha furando a minha goela Sei que o tempo torou sua tramela E de porta não tem é quase nada Toda casa de taipa abandonada Guarda um grito de fome dentro dela
Vi um vulto passando pra cozinha Eu lembrei de mamãe lá no fogão Eu lembrei do comer no caldeirão E do caco de mãe deitar galinha Mas eu vi que a acasa que era minha No passado eu queria viver nela Sei que hoje não tem mais nem janela E o cupim na madeira faz morada Toda casa de taipa abandonada Guarda um grito de fome dentro dela
Vi a casa que estava no abandono E chorei sem saber o que fazer Com a terra sem água pra beber Deixa o pobre roceiro sem ter sono E a casa sem vida sem ter dono Faz o pobre chorar junto com ela Mas eu posso dizer morei naquela Que hoje em dia o fantasma faz morada Toda casa de taipa abandonada Guarda um grito de fome dentro dela
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