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NORDESTINO DE BOM CORAÇÃO.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 19 de fev. de 2016
  • 5 min de leitura

MARCOS CESAR DE PAIVA

Hoje em dia é muito difícil não encontrar um endereço quando pesquisamos no Google Mapas. Imagine então não encontrar uma comunidade inteira. No entanto, a de Serra Nova, município de Martins, não aparece. Foi nela onde Marcos Paiva foi criado e onde sua mãe ensinou, na escola Juscelino Paiva, alunos do 1º ao 4º ano do ensino fundamental. Ele nasceu no dia 15 de fevereiro de 1974, primeiro filho dos nove criados por Maria de Fátima de Paiva, hoje professora aposentada, e José Vicente de Paiva, agricultor aposentado, que nunca teve suas terras próprias, mas que até hoje cuida de gado para tirar o leite diário, enquanto espera a chegada da chuva teimosa para plantar milho e feijão. Marcos só estudou até o 4º ano primário. Dos seus irmãos, apenas a sétima, Márcia, se formou em Pedagogia e hoje é professora e vice-diretora em uma escola de Frutuoso Gomes, cidade vizinha para onde a família se mudou quando Marcos tinha dez anos. Os demais, assim como Marcos, tiveram que ir à luta sem esperar pelo tão almejado canudo universitário: Cesar Marcos é marceneiro; Maria José funcionária pública; Ivoneide casou e mora em São Paulo; Augusto é pedreiro; Gustavo é técnico em segurança e mora em Caicó; Moésio trabalho em uma empresa de distribuição de alimentos; e Messias é funcionário de uma prestadora de serviços para Petrobrás em Guamaré.

EM SERRA NOVA MARCOS ACORDAVA CEDINHO para ir à roça com o pai. Quando a mãe percebia já era tarde. Ela não podia ir atrás porque tinha o compromisso com os demais alunos na pequena escola da comunidade. “Muitas vezes meus pais brigavam entre si por eu não ter ido à aula. Meu pai gostava de me ver trabalhando com ele na terra, já minha mãe queria que eu estudasse”, recorda. A família de sua mãe, preocupada, acabou facilitando as coisas para que viessem para Frutuoso Gomes onde poderiam melhorar a frequência dos meninos na escola e, com televisão, diminuísse o ritmo de nascimento na casa dos ‘Paivas’. “Mas a estratégia não deu muito certo. Haviam nascido cinco filhos quando morávamos em Serra Nova e em Frutuoso nasceram mais quatro. Em relação aos meus estudos é que a situação degringolou mesmo. Eu criava ovelhas na vazante do Açude de Lucrécia, manancial de águas que abastecia várias outras cidades, já que hoje está seco. Cheguei a ter mais de 30 cabeças. Era de onde tirava meu sustento, pois quando precisava, vendia um carneiro para comprar roupas e alimentos. Com esta atividade perdi três anos de estudos e acabei desistindo da escola em definitivo”, recorda. A família chegou à nova cidade morando em casa alugada. Apenas dois anos atrás é que a mãe conseguiu quitar as parcelas que devia aos seus irmãos de uma casa fruto de herança. Segundo Marcos, o trabalho em sua família nunca foi para se obter bens materiais. “Meus pais sempre visaram uma boa alimentação, vestir os filhos, comprar coisas para casa que servissem para todos”, enaltece. O salário da mãe e os ganhos do pai só davam para sobrevivência, ainda mais com uma inflação que corroía os preços. Marcos teve que se virar. O pai também. Enquanto a casa do sítio se desgastava com o abandono, até ser completamente destruída, retrato de uma zona rural que pede socorro, antes d evirar deserto, o pai cumpria a rotina de tantos nordestinos e viajava para São Paulo com o objetivo de melhorar as condições de vida da família.

EM 1990, UM ANO DEPOIS QUE HAVIA DEIXADO O NORDESTE, seu Vicente voltou para visitar a família e levou com ele o filho mais velho. Marcos estava na cidade grande onde o sinônimo de viver é trabalhar. Logo estava entregando pizza nos bairros Pacaembu, Higienópolis, Santa Cecília, Barra funda e Campos Elísios. Foi um ano e meio na ‘Pizzaria Em Casa’, especializada na entrega domiciliar. Marcos teve a ajuda do Guia dos Bairros para logo conhecer toda a região. Quando esta empresa fechou, foi ser esfiheiro durante dois anos no mesmo grupo empresarial que o pai trabalhava, só que a a do pai era em Santa Cecília, enquanto a sua no bairro Consolação, trabalhando das 16 à 4h. Ainda foi entregador de pizzas por mais seis meses e forneiro por mais um ano antes de se fixar na empresa do primo Sueldo, onde ficou por dez anos. Seu trabalho era vender livros técnicos e especializados. A experiência na Livraria Central Livros Técnicos lhe proporcionou um saber que não esperava. Convivendo com alunos e professores universitários, ganhou uma dimensão intelectual e consciência crítica facilmente percebida em suas postagens nas redes sociais. Frases como: ‘A consciência é o que todo ser humano deveria ter de melhor, pois é a partir daí que seu caráter inspirará a formação de outras virtudes’; ou ‘A verdadeira felicidade vem da alegria de atos bem feitos, do sabor de criar coisas renovadas’.


“FOI O TRABALHO QUE ME DEU A OPORTUNIDADE de me informar e me formar como cidadão. Ampliei minha visão de mercado de trabalho e vi que nós, nordestinos, temos muito que aprender ainda em relação ao trabalho. Em São Paulo convivi com muitas pessoas com diploma universitário se virando para ganhar a vida. Já aqui, para muitos, ter um diploma parece que é coisa do outro mundo, não podendo trabalhar em qualquer coisa, ‘pois o nível não é para ele’. O paulista é um trabalhador nato, propício à luta. Já por aqui a maioria quer fazer concurso público e ter estabilidade para o resto da vida”, relata. Para Marcos, enquanto o nordestino não se libertar da dependência com o poder público, “Seremos sempre a região mais atrasada do país, prejudicando o desenvolvimento econômico e o futuro das novas gerações”, destaca. Ele critica aqueles que não pensam no próximo e que de forma egoísta acha que estando bem para ele o resto da sociedade que se vire. “Espero ainda ver nossa região mais disposta a investir em indústrias, em um comércio forte e em serviços de qualidade que gerem emprego e renda para todos”, defende. No último dia de 2014, quando retornou a Frutuoso Gomes para as festividades de fim de ano, Marcos foi questionado pela tia Zezinha se não queria voltar para região. Ele disse de imediato que se tivesse uma oferta de emprego toparia, pois o custo de vida em São Paulo e a distancia da família pesariam a favor da sua volta. E assim aconteceu no dia 26 de fevereiro de 2015, quando apareceu uma vaga em uma churrascaria de Mossoró pertencente a um casal de origem da própria Frutuoso Gomes. Seu José Alves, conhecido por Edu, e sua esposa Wildma, o receberam de braços abertos. Neste quase um ano de trabalho incansável, Marcos demonstra dedicação no atendimento que dispensa aos clientes, autoestima no que faz e uma vontade incansável de fazer sempre o melhor. “Somos nordestinos e precisamos mostrar nossa força através do bom trabalho, da vontade de vencer e do carisma de nosso bom coração”, finaliza.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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