EMPREENDEDOR DEDICADO... - 1ª PARTE.
- obomdemossoro
- 14 de fev. de 2016
- 5 min de leitura

JOÃO SABINO DE MOURA
Foi no sítio São José, município de São Rafael, que João Sabino, o quarto filho dos oito criados por dona Francisca Cavalcante de Moura nasceu, em 07 de março de 1944. O pai, Manoel Sabino de Moura, foi agricultor, pedreiro, carpinteiro, mestre de obra e armador de ferro de construção até entrar no Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER) na seca de 1953, onde se aposentou. Perto de completar 72 anos e com excelente memória, está com um livro que contará toda sua trajetória de vida quase pronto, a ser lançado pela editora Sarau das Letras nos próximos dias. No escritório onde administra seus quatro hotéis com paciência, dedicação e bom humor, nos contou de forma suave e organizada cada passo que deu até chegar aos dias de hoje. São pormenores que detalham o quanto foram importantes cada passo vivido, em um aprendizado constante, alternando estudo e trabalho que resultou em um belo exemplo de vida, iniciado ainda no sítio onde nasceu, quando aprendeu em um mês a Carta do ABC com a professora Maria Pereira. Depois a mãe o colocou nas mãos de uma parenta para os demais ensinos básicos. Quando tinha seis anos, o pai comprou o sítio Poço do Meio, hoje pertencente ao município de Governador Dix-sept Rosado, onde Sabino morou até dezembro de 1957, quando sua família decidiu vir de vez para Mossoró. Neste novo sítio quem lhe dava aulas era Ana Guiné, também da família, que tentava driblar as dificuldades de Sabino com sua gaguice. “Eu não conseguia pronunciar direito palavras com ‘R’ e ‘L’. Lembro até que meu pai me prometeu presentear se eu dissesse corretamente a palavra ‘rapadura’. Mas sempre tive uma vontade enorme de aprender e me entusiasmava com os ensinamentos nos dois sítios, com o incentivo constante de minha mãe que nunca deixou de acompanhar os deveres da escola”, relembra.

DESDE OS CINCO ANOS, COM UMA ENXADA adequada para seu tamanho, João Sabino se acostumou a capinar os terrenos para plantar. Se era diversão? “Nada disso. Tínhamos que ir mesmo, todos os irmãos. Mas ninguém reclamava da vida”, destaca. Em torno dos 12 anos, tirava madeira para construção da estrada de ferro, até o pai decidir morar em Mossoró para que os filhos tivessem a oportunidade de estudar. Antes chamou os filhos homens para o ajudar na tarefa de construir a própria casa na cidade maior. “Meu pai era muito organizado, otimista e comunicador, apesar de analfabeto. Estava sempre reclamando do meu avô que não o havia colocado para estudar. Faleceu em 1º de janeiro de 2013, com 98 anos e meio ainda lúcido, mas com o coração enfraquecido que não resistiu aos problemas da idade”, relata. Construída a casa no Alto de São Manoel, Sabino e mais três irmãos foram matriculados no colégio Padre Dehon, administrado pela Diocese, paroquia do bairro. Entrou no 2º ano do ensino fundamental, já fora de faixa, pois tinha 14 anos. Situação mais difícil ficou para os três irmãos mais velhos, que nem estudaram mais. Nesta escola fez até o 4º ano, em 1960. Como o sítio só foi vendido em 1961, o menino Sabino mantinha negócios ligados a terra. Primeiro foi em sociedade com o irmão mais velho Manoel Filho, quando ainda lá moravam. Os dois vendiam fósforo e fumo. “Um rolo de fumo e um pacote de fósforo dava para o mês. Dois dedos de fumo fazia um cigarro de palha. Nosso marketing era que quem mascasse fumo e fosse mordido por uma cobra não teria problemas”, conta. O segundo negócio já se deu com Sabino morando em Mossoró. Com um saldo de algodão, comprou sua primeira bicicleta e passou a vender ovos. Comprava-os em Poço do Meio e no Chafariz, comunidades do leito do rio Upanema, nos domingos a tarde. Calçava cerca de 120 ovos com algodão em uma lata de 20 litros de querosene e na segunda-feira vendia todos em Mossoró. Certa vez, não escorou bem a bicicleta e ela caiu. “O estrago foi grande. Cheguei em casa com vários ovos quebrados e para não perder bebi vários deles até enjoar. Minha mãe ainda estalou outros para quem quisesse”, conta. Em 1962, Sabino foi aprovado no Exame de Admissão com a professora Luzia Bispo, necessário para ingressar no ginasial, feito no Colégio Dinarte Mariz. Com a enchente daquele ano, um anexo foi criado na União Caixeral e ele para lá foi estudar. Era na época o colégio com as melhores cabeças da cidade (entre outros Padre Américo, João Batista Cascudo, Vingt-um Rosado), embrião para a criação posterior da Universidade Estadual (UERN). “Estudei neste colégio sete anos e de lá sai com o técnico em contabilidade, inscrevendo-me logo no dia seguinte no Conselho Regional de Contabilidade”, registra Sabino.

O QUE POSSIBILITOU SEUS ESTUDOS foi uma ‘bolsa de estudos’ conseguida por José Leite, Chefe da Estatística (atual IBGE), fundamental para sua trajetória futura. O que o sensibilizou foi ver e saber dos esforços daquele menino que trabalhava de pedreiro durante o dia para estudar no período noturno. Sabino já tinha trabalhado por conta própria carregando água de roladeira a partir das 4 horas da madrugada para sua própria casa e para vender. “A melhor água era da fonte perto da ponte de ferro, localidade de Maria Rodrigues. De caneca em caneca enchia a roladeira duas vezes para começar o dia, depois estudava e a tarde quebrava pedra, já que naquela época não tinha britadeira. O Alto de São Manoel era cheio de montes de pedras quebradas pelos meninos, que as construtoras compravam”, relembra. Quis ainda ser carroceiro e chegou a vender uma cabra para comprar a carroça, mas o dinheiro só deu mesmo para adquirir dez sacos de farinha, que por ter comprado em tempo de alta acabou mofando para aumentar o prejuízo. Também tentou ser gari da Prefeitura e nunca deu certo. O que lhe rendeu uma receita segura foram os trabalhos de ajudante de pedreiro do irmão mais velho, Manoel Filho. A partir dele surgiram outras oportunidades como o de pintor de cal com pincel de agave, o que lhe rendia um bom extra. “Era meu novo grande negócio: empreitar serviços. Com ele pude construir minha primeira casa, onde hoje funciona o Hotel Sabino Palace. Só não a levantei toda sozinho porque na hora de colocar a madeira pedi ajuda. Terminei após quatro meses de muita dedicação, e logo aluguei, para ter uma nova receita”, relata Sabino, que neste período ainda encontrou tempo para servir ao Tiro de Guerra e fazer um curso de datilografia.

QUANDO TINHA 20 ANOS, CONHECEU Francisca Maria da Fonseca, filha de um agricultor de Carnaubais que tinha certo parentesco com seu pai. Após as primeiras trocas de olhares, foi ela que puxou conversa para saber a razão dele viver estudando. Bastou isto para chamar a atenção do garoto tímido e lhe dar coragem, no dia seguinte, para prometer fazer a ela uma visita. Três meses depois, ao lado do pai, ambos de bicicleta, foi ao encontro da jovem em Carnaubais, vencendo os obstáculos de um terreno de areia onde anos depois seriam erguidas as vilas do município de Serra do Mel. Em 13 de dezembro de 1964, após outras visitas, casaram por lá mesmo, tendo Sabino pago dois taxis para levar a família e as testemunhas. Vieram morar na casa que ele havia construído. Após um ano, no entanto, preferiram se mudar para o barraco que haviam alugado na parte externa do Mercado Central e de onde tiravam o ganha pão. Nele vendiam café, sopa e outras refeições, além de cereais diversos. Dormiam em um colchão que colocavam embaixo do balcão. Quando nasceu Ciro Sabino, o primeiro filho do casal, o colchão passou a comportar os três. Aos 25 anos, terminado o técnico de contabilidade, Sabino passou a utilizar o barraco como escritório e os rendimentos foram melhorando. Sua estrutura era um birô, feito por ele mesmo, uma máquina de escrever carro 20 Olivetti e uma maquina de somar com manivela. Com a ajuda do padre Alfredo Simonetti colocou telha Brasilit e viu nascer ainda Rosilda, Davi, Sara e Dario, os dois últimos já com a família morando em uma casa na Avenida Dix-sept Rosado, Centro da cidade.
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