LUTAS, SONHOS, IDEIAS E IDEAIS.
- obomdemossoro
- 3 de fev. de 2016
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MARIA IVONETE SOARES COELHO
A professora, militante de movimentos sociais e ativista política Ivonete Soares é uma dessas aguerridas defensoras do sistema socialista, historicamente chamado de esquerda. Mesmo diante deste quadro desconfortável do atual Governo Federal, de impopularidade, recheado de denuncias de corrupção e evidenciados equívocos administrativos, ela continua o apoiando com a consciência da necessidade de seu fortalecimento, mantendo-se firme na visão de que os partidos de esquerda oferecem a melhor perspectiva de modelo administrativo e político para o país. “Combater a exclusão histórica, a miséria e a desigualdade foi a minha vida e continuo acreditando ser este um dever de todos nós cidadãos”, justifica. Nascida em Mossoró em 13 de dezembro de 1962, Ivonete é a primogênita de Francisco Andrade Souza e Terezinha Soares de Souza. Ainda pequena foi morar com a avó materna Virgília Soares de Andrade, enquanto seus dois irmãos, Souza Junior, professor de educação física e eletricista, e Júlio Cesar, técnico administrativo da UERN, ficaram com seus pais. Quando tinha cerca de 10 anos, e os pais se separaram, a mãe e os irmãos vieram morar com ela e a avó na Ilha de Santa Luzia. Enquanto sua mãe, hoje com 74 anos, não mais casou, seu pai, que era mecânico de automóveis e havia trabalhado um bom tempo na Oficina da Ford, do médico José Holanda, construiu outra família em São Luiz do Maranhão, da qual Ivonete tem duas irmãs: Andrea e Arita. Tradicionalmente, todos os finais de ano a nova família de seu Francisco vem para Mossoró visitar seus familiares, mas desta vez, pouco lúcido devido os efeitos da doença de Alzheimer, ele só reconheceu Ivonete. “Acho que por ele ter convivido comigo por mais tempo do que com meus irmãos”, justifica.

SUA INFÂNCIA FOI A BEIRA DO RIO MOSSORÓ, quando estudou no Ginásio Municipal onde hoje funciona a Escola de Artes, e depois na Escola Estadual Jerônimo Rosado. Para chegar a ambos, saia de casa, atravessava a ponte ou a barragem, dependendo do nível do rio e continuava a pé até as escolas. “Pela barragem o caminho era pouco mais curto, e ainda tinha a aventura de atravessar com a água correndo em nossos pés”, relembra. Na Ilha de Santa Luzia uma das boas brincadeiras era a de pegar camarão em garrafas de vidro. “Cortávamos o fundo usando cordão com querosene para que o fogo quebrasse bem certinho, depois colocávamos farinha na garrafa e esperávamos os camarões entrarem. Depois levávamos para casa para comer. Camarão era a comida dos pobres naquele tempo”, relata. Ela recorda também colhiam muita batata doce na beira do rio e que ouvia as conversas das inúmeras lavadeiras nas pedras localizadas logo que desciam a ponte, próximo onde hoje está o Centro de Artesanato. “Todos os dias, o dia todo, elas trabalhavam, cantavam e brincavam. Tinha uma que se chamava Baliza, uma negra linda e alta, que para mim era uma referência”, conta Ivonete. Outra lembrança daqueles tempos eram as cheias que cobriam muitas casas do bairro. “Dona Odete então colocava seu barco para servir de transporte de pessoas de um lado ao outro da General Péricles, rua em que morávamos, ao preço de, vamos dizer, dez centavos. Era dela também os picolés de caçamba que ela fazia para vender e que guardava em sua geladeira, uma das poucas que existiam no lugar”, destaca. Justamente outra cheia, a de 1974, que fez com que a família se mudasse para o bairro Paredões.

QUANDO CONCLUIU O ENSINO MÉDIO, Ivonete logo passou no vestibular para Serviço Social da FURRN, na época uma universidade paga, e que ela conseguiu fazer devido o Crédito Educativo. Foi nessa época em que começou a participar do movimento estudantil e estagiar em programas sociais, experiências que lhe deram uma visão crítica da sociedade e posições questionadoras em relação as políticas públicas. Entre as atividades importantes para sua formação estavam as Semanas de Filosofia, organizadas pela Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas, ligada aos professores do curso de Filosofia mas que aglutinava todos os que tinham visão social crítica. “Os professores do curso de Serviço Social como João Batista Xavier, Lourdes Lima, Walbia Carlos e Zélia Rodrigues foram alguns que me incentivaram a participar desses encontros”, diz. Durante o período de graduação, Ivonete foi aprovada em um processo de seleção para o Movimento de Educação de Base (MEB), ligado à Diocese de Mossoró e coordenado pela professora Zilda de Siqueira Gê, o que lhe fez ganhar seus primeiros salários. “Pude, nos cinco anos em que trabalhei no MEB pagar meu crédito educativo, ajudar minha mãe e decidir casar”, enumera. O pretendente veio de longe, era estudante da Escola Superior de Agronomia de Piracicaba/SP e havia conseguido transferir o curso para a UFERSA. De família cearense, Odilo Neto Luna Coelho também era militante do movimento estudantil e filiado ao PCdoB, partido ao qual Ivonete também acabou se filiando. Conheceram-se na casa do poeta Crispiniano Neto, então presidente do Diretório Central dos Estudantes da UERN. Em meio às lutas progressistas surgiu o afeto. Era final de 1980. Muito correto, educado e gentil, pediu Ivonete em namoro, dando-lhe o tempo razoável de um mês para a devida analise conjuntural da situação. Como tudo no mundo da esquerda é organizado, após cumprir rigorosamente o prazo estabelecido e antes de iniciar uma das inúmeras reuniões de praxe, ela o chamou reservadamente para dizer-lhe que aceitava o namoro.

A PARTIR DAQUELE MOMENTO, IVONETE E ODILO passaram a viver as emoções e lutas dos movimentos estudantis e sociais juntos. Graduaram-se, começaram a trabalhar e resolveram casar em 17 de abril de 1984. A ideia era a cerimônia apenas no cartório, mas como Ivonete atuava na Diocese, o bispo Dom José Freire a mandou chamar e disse-lhe que também deveria se casar no religioso. Assim o fizeram na mesma data, na igreja de São Manoel, celebrada pelo padre Sátiro Cavalcanti Dantas. Foram 25 anos de casamento. Apenas com 18 anos é que nasceu o único filho do casal, Virgílio Soares Luna Coelho, hoje com 13 anos, estudante do ensino fundamental. Odilo foi contratado pela Maisa e passava a semana toda no campo, só voltando nos finais de semana. Depois em fazendas de fruticultura em outros estados. Já Ivonete passou em concurso do estado no setor de saúde, onde trabalhou no Hospital de Grossos e no Posto de saúde do Abolição II. Também passou em 1988 no concurso da UERN para professora, lecionando Política Social, Estágio Supervisionado e outras disciplinas temáticas. A pouca convivência do casal pode ter influenciado na separação ocorrida em 2009, como pode também ter evitado uma separação mais precoce. “Passamos momentos juntos que precisávamos ter vivido para nosso amadurecimento. Hoje somos bons amigos e constantemente ele ver o filho, acompanha sua evolução, dando-lhe o apoio necessário”, descreve Ivonete. Virgílio, inclusive, tem um irmão por parte do pai com quem se dá muito bem, também chamado de Odilo.

DESDE 1993 IVONETE DEIXOU A ÁREA DA SAÚDE para se dedicar de forma exclusiva a UERN, onde tem um vasto histórico de contribuição. Foi presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) em 1983, presidente da ADUERN em 1997, membros dos Conselhos Superiores, vice-diretora da Faculdade de Serviço Social, coordenadora do Programa de Bolsas de Iniciação Científica, cargo que a levou a ser a atual pró-reitora adjunta de pesquisa e pós-graduação. Bastante atuante na política estudantil e partidária, tendo sido candidata a vereadora pelo PCdoB uma vez, também construiu uma história nos movimentos sociais da cidade. Participou da construção do centro Popular da Mulher Mossoroense e do Centro de Estudos e Atividades Culturais Negro Lindo, ambos já extintos. Para lhe oferecer uma maior racionalidade no trato destas inúmeras questões sociais e políticas, acabou sentindo a necessidade de cursar Direito, bem como de ter feito o mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente, ambos na UERN, e ainda ter feito o doutorado em Ciências Sociais na UFRN. “Esta é a minha vida. De lutas, sonhos, ideias e ideais. Sempre em busca da justiça dos homens e tendo a certeza do amor infinito de nosso Deus, sigo acreditando que podemos construir um mundo mais digno, humano e feliz para todos”, conclui a forte militante Ivonete Soares.
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