ENTRE INTUIÇÕES E INSPIRAÇÕES.
- obomdemossoro
- 30 de jan. de 2016
- 6 min de leitura

KATIA SILENE FLEISCHMANN FERREIRA MACEDO
Apesar de ter nascido em Cicero Dantas/BA em 07 de novembro de 1967, aos dois anos a artista plástica Katia Fleischmann já aportava em Mossoró com sua família, onde morou na Avenida Alberto Maranhão e estudou no Jardim de Infância Modelo, que funcionava perto do Hospital Almeida Castro e foi demolido recentemente. Seu pai, Francisco Macedo do Lago, era soldador de grandes obras ligadas à perfuração de poços. Foi justamente o famoso poço que deu origem ao Hotel Thermas que o trouxe para cidade, trazendo com ele a esposa, Eurides Ferreira Alves, e os seis filhos. Segunda da prole, Katia lembra que desde menina via a mãe costurando para ajudar nas despesas da casa. “Ela ainda hoje é uma costureira de ‘mão cheia’. Em determinados momentos seus serviços chegaram a representar a principal receita da família, como no tempo em que voltaram a morar na Bahia, enquanto o pai fazia serviços temporários em São Paulo. “Foram suas costuras que seguraram as pontas naquela época. Hoje em dia, de vez em quando, ainda faz suas costuras para família”, revela a filha. A dificuldade diminuiu quando seu ‘Chico Baiano’, como o pai acabou conhecido, foi transferido pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), levando toda família para morar nove anos no Paraná, em uma colônia japonesa de Londrina. “Foi onde aprendi a importância da disciplina, dedicação e busca da perfeição, características do povo japonês. Acreditar nos sonhos e trabalhar para que eles se realizem foi o meu legado daquele tempo, convivendo com a cultura oriental”, afirma Katia.

“VÍAMOS OS JAPONESES CULTIVANDO FLORES E LEGUMES, enquanto ensinávamos coisas de nossa cultura nordestina, como preparar um bom peixe cozido ou uma deliciosa moqueca. Para eles, a natureza é sábia e responde de acordo com o respeito que dermos a ela, nos retribuindo o saber e a dedicação com vida em abundância”, descreve. Naquela cidade Katia estudou na Escola Municipal Norman Prochet e no Colégio Estadual Vicente Rijo. Foi depois que seu Chico Baiano retornou de uma viagem ao Amazonas com suspeita de tuberculose, que por solicitação sua conseguiu da empresa uma transferência para Mossoró, onde trabalharia com poços artesianos. Em 1983 estavam de volta à Mossoró, desta vez no Alto de São Manoel. Na Escola Estadual Abel Coelho Katia estudou o técnico de edificações, no período noturno, e mesmo antes de concluir conseguiu um emprego na empresa CAVIM, uma construtora do ex-vereador Vicente Rêgo. “Eu desenhava plantas. Para minha carreira artística foi um período fundamental de enriquecimento e base para futuros projetos”, acredita. Em seguida se especializou também em desenhos elétricos com o objetivo de prestar serviços à Petrobrás, o que ocorreu em um curto período. Neste período, uma paixão fulminante que o tempo mostrou ser muito mais uma ilusão natural de uma jovem, fez nascer seu primeiro filho: Wallace Atze, hoje com 27 anos, gastrônomo, mas trabalhando na área de marketing de computação na Suíça, para onde a mãe acabou se mudando após uma história inesperada.

EM 1990, EM UM FINAL DE SEMANA, Katia foi com Cristiane, sua irmã caçula, para um banho de mar na praia de Canoa Quebrada e acabou conheceu o engenheiro Thomas Fleischmann, um suíço que pela primeira vez visitava o Brasil. Ele havia chegado de um curso de língua espanhola que estava fazendo no México e as praias do Ceará foram incluídas em seu roteiro turístico pelo Brasil. Avistou Katia na areia da praia quando ela estava próxima a uma bela ‘nativa’ que fazia Tererê nos cabelos dos turistas, moda na época que acabou virando tendência. Enquanto Cristiane fazia suas tranças, Thomas se aproximou de Katia perguntando se ela falava espanhol. Sim, Katia já falava espanhol, pois havia estudado a língua de forma autodidata com a ajuda de amigos de língua latina. Depois ela soube que o que fez atrair Thomas para seu encontro não havia sido a linda arte do Tererê, e sim o brilho dourado daquela morena ao vê-la saindo do mar. “Foi exatamente aquele momento em que ele me confessou que seu coração bateu mais forte e o fez se aproximar para laçar meu coração para sempre”, revela. A partir dali, trocaram contatos e durante um ano e meio foram se conhecendo melhor através de telefonemas e cartas. Desde o começo eram cartas semanais, demonstrando que já estavam apaixonados. Com a relação se fortificando, Thomas retornou ao Brasil e a convite de Katia foram visitar a Bahia, momento em que ele conheceu sua família e recebeu a necessária benção de seus pais para o relacionamento. Katia ainda precisou de um tempo para organizar sua vida profissional até decidir ir morar com Thomas na Suíça. “Cheguei no dia 13 de março de 1992, em uma noite de lua cheia que jamais esquecerei pelo tamanho em que ela se apresentava. Como a daquela noite nunca mais vi em minha vida”, conta. Durante três meses realizou um curso intensivo de estudo da língua para se adaptar o mais rápido possível ao dia-a-dia local. Katia havia mudado o rumo de sua vida. Mas não queria deixar de trabalhar, coisa que sempre fez. “Ao me dedicar aos estudos, acabei sendo contratada para alguns trabalhos específicos como tradutora na região de Jona, cidade próxima a Zurique, onde moramos até hoje”, conta. Para completar a família, além da companhia de Wallace, que Thomas adotou como seu filho, nasceu posteriormente Daniel, hoje com 22 anos, estudante de restauração de obras.

A ARQUITETURA, NATUREZA E INTENSIDADE da pequena cidade de Jona deixaram Katia deslumbrada. Thomas aproveitou aquele espírito inspirador para lhe presentear com um estojo de aquarela que ela guarda até hoje, fazendo florescer na esposa a pintora que estava guardada em seu íntimo ser. Seu primeiro trabalho artístico foi detalhar paisagens da cidade e da região com a peculiaridade de utilizar apenas a cor azul, na tonalidade ‘Indigo Blue’. Realizou então sua primeira exposição com aquarelas denominada ‘Blue Phase’ e vendeu todos os 23 quadros para moradores locais, iniciando assim sua carreira artística inesperada. Encomendas de pinturas começaram a surgir, e ela foi se sentindo ambientada naquele lugar que mais parecia de uma cidade no tempo medieval. Mais Katia queria mais, e o mais foi chegando. O artista plástico Roland Rötlisberger a convidou para participar de um grupo de artistas, o que lhe fez abrir novas portas. A partir de 1995, foi enveredando para trabalhos em formatos grandes em tinta óleo e sentiu necessidade de fazer o curso com a reconhecida Monica Dieziger Rossi, na Escola de Cerâmica Artística, onde aprendeu novas técnicas. Desenvolvendo esculturas e painéis de cerâmica e criando novas técnicas também com tinta acrílica com seu atual formato de pintura e estilo Barroco Surreal. Através de convites, Katia passou a expor seus trabalhos de forma mais abrangente, realizando exposições, sendo a segunda na galeria do First Collection, exposição de pinturas a óleo ‘Fertilidade’. Além disso, abriu em 1996 seu próprio atelier.

A ARTE POSSIBILITOU KATIA INVESTIR EM OUTRO SONHO: o de voltar a se conectar com suas raízes. O sítio Umari, no município de Governador Dix-sept Rosado a beira do rio Mossoró, onde seu pai morou, plantou e criou durante um bom tempo antes de se aposentar, e que ela adquiriu exatamente para ele descansar, pois era um sonho dele, uma espécie de prêmio merecido por toda sua trajetória de trabalho e superação, era tudo que precisava para tal. Doze anos atrás, Katia e Thomas projetaram novos desafios para o lugar, plantando manga tipo Tomy e Tâmara, além de prepara-lo para se transformar em um Sítio Ecológico. Atualmente ele está em reforma para abrigar seus hospedes que poderão se beneficiar de plantas da medicina alternativa, energizações e terapias, banhos com ervas aromáticas e orientações alimentícias, desintoxicações, em um clima de encantamento, paz e luz. “Queremos fazer de nossa ‘Casa Mandala’ um refugio para quem quer e precisa de momentos de intuições e inspirações. É uma homenagem que quero fazer a minha avó Ana Rosa Macedo, que era uma ‘mulher de muita fé', rezadeira que nasceu em Barrocão, região de Canudos, e que inspira minha arte e minha vida espiritual”, revela. Katia acredita que na vida o inteligente recua e o tolo insiste. "O que aprendemos é que poucos praticam a paz, construindo um caminho de leveza e positividade. Pelo contrário, a maioria de nós está sempre com os pensamentos acelerados, o que nem sempre facilita o encontro dos caminhos certos para construção do destino a que nos propomos, como missão", completa.

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