ESTÁ DE RACHAR... HISTÓRIA DE UMA ADAPTAÇÃO
- Larissa Amaral
- 25 de jan. de 2016
- 4 min de leitura

Eu resolvi seguir um conselho de um amigo brasileiro, que seria trazer um post sobre minha adaptação em Genebra, e usei ‘-1º celsius’ como resposta para isso, porque desde que cheguei a este lugar, meu único problema com a Suíça estava exatamente nesse período. Hoje, não quero trazer dados científicos ou quaisquer informações que nos leve a entender o porquê desse frio todo, mas tão somente dispor de uma experiência fantástica que tem sido apreender a amar e contemplar todas as estações do ano. A Suíça me deu essa oportunidade de conhecer aquilo que só via em livros e revistas. Nessa 'aventura', percebi que temos três estações frias, outono, inverno e a primavera, sim, porque mesmo nos dias de sol, corremos o risco de termos vento gelado ou chuva. E nosso cansaço está exatamente aí. Genebra é uma espécie de 'buraco', cercada por montanhas, e se não bastasse a sensação de 'inverno longo', quando chega nosso verão, tudo fica tão abafado quanto Mossoró, porque circula pouco vento. Imaginaram? Mas vamos nos concentrar no hoje, até para seguir um princípio bíblico de vivermos cada dia seu próprio 'mal'. Não estou descartando a beleza do inverno, nem sendo ingrata a Deus pelo dia que Ele me deu, mas a neve é linda, brilhante, porém exaustiva.

DURANTE ESSA SEMANA, POR EXEMPLO, houve dias que não tivemos neve nas ruas nem caindo, mas tive que me agasalhar com um cachecol, um casaco grosso, três blusas, duas calças (meia calça e jeans), meias grossas, botas de montanha para tentar assistir uma aula. Ir para academia após, se torna uma prova de fogo, pois a preguiça não está nem em fazer os exercícios, mas em uma simples troca de roupa. Com tantas, ainda não foi suficiente para me aquecer, pois meus pés estavam pedindo socorro nesse dia! Esse problema foi desde que pisei em solo 'Genevoise' no final de janeiro de 2012 para morar, período do inverno ‘grosso’. Eu quase não tinha viajado para lugares tão frios, a parte da Serra de Guaramiranga no Ceará e da própria Suiça, em 2009, na primavera, e minhas roupas eram bem tropicais mas dava para disfarçar por curtos períodos de tempo (finais de semana e 40 dias de férias). Lembro-me que os primeiros dias eram super legais, a novidade estava me deixando grata e fazer as fotos respirando naquele ar era sensacional. Eu estava vivendo agora o que famosos viviam e publicavam na Caras, mas no decorrer dos meses, aquilo foi me estressando.

PRIMEIRO PORQUE EU NÃO SABIA ME ARRUMAR NO FRIO, me enchia de roupas que não me esquentavam e meus sapatos não eram adequados, só tinha estilo bailarina, e quando nevava forte, meus pés tinham quase uma hipotermia. Eu só tinha os casacos que enfeitavam, e somando a isso, minhas mãos sofriam pela ausência das luvas. Segundo, acordar cedo num dia chuvoso no Brasil fica difícil, agora vocês imaginem em um ar condicionado diariamente ligado... Meu corpo tinha a sensação de está eternamente cansado e com o frio, tendemos a nos tensionar muito, e por isso só vivia com dores musculares, chegando a pensar que poderia até ser a idade se avançando. Terceiro eu só vivia doente... mas a vida em Genebra não para, faça chuva, faça sol, e tivemos que pegar esse ritmo para não ficarmos para trás. Graças a Deus, tudo se aprende e somos seres adaptáveis, eu comecei a formar meu guarda roupa de inverno. Passei observar que todas as minhas amigas vestiam uma blusa regata antes de um 'pull' ou de uma blusa de manga longa, era exatamente isso que faltava para fazer toda a diferença no meu 'look', porque ela servia para esquentar os pulmões antes de qualquer outra parte do nosso corpo. É uma informação aparentemente boba, mas que se praticada por alguém que esteja pensando em visitar a neve, evita muitos desânimos para se sair nesse frio.

DEPOIS PASSEI A VER CORES NA NEVE. Mesmo 'morrendo' eu saia de casa, muitas vezes somente para contempla-la ou para fazer bonecos com Laetitia, minha prima. Fazíamos fotos e vídeos e mesmo congeladas nos divertíamos. Aproveitava para viajar para montanha, comer 'fondue' ou 'raclette' vendo a neve cair não tem preço. Fazíamos caminhadas e visitávamos banhos térmicos que os hotéis e SPA's nos enchem os olhos. No ano passado dei outro passo: fui esquiar. Como uma debutante no esporte, modéstia parte, me sai muito bem, não cai, e consegui trilhar alguns metros de pista. Posso trazer outro post contando essa experiência magnífica, pois ela contribuiu para eu quebrar meus medos de coisas grandes e pequenas. Hoje eu sou feliz, não estou dizendo que passou meu frio, mas aprendi a sorrir mesmo estando tudo 'branquinho' lá fora. Engraçado que antes, eu julgava os suíços um povo frio, e associava a época do ano, hoje eu entendo que eu não recebia um 'bonjour' de um desconhecido na rua durante esse período porque meu rosto não resplandecia satisfação e ninguém gosta de falar ou está perto de alguém assim. Fiz pequenas mudanças em mim, e enxerguei que os suíços são educados e muitos dos que conheço tem um excelente coração.

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