É SÓ OLHAR TUDO COM O DEVIDO AMOR.
- obomdemossoro
- 24 de jan. de 2016
- 5 min de leitura

ECRISTIANE HENRIQUE DO AMARAL
Ela nada sabe dizer, nem sua mãe nunca soube explicar, sobre a presença da letra ‘E’ no inicio de seu nome. Para ela é muito provável que tenha havido um erro humano na hora de registrar. O fato é que Ecristiane não é um nome comum, assim como sua história de vida. Nascida em Mossoró no dia 23 de fevereiro de 1980, é filha de Euriglácia Faustino do Amaral, uma técnica de enfermagem que durante muitos anos trabalhou no hospital Tarcísio Maia, no posto de saúde do Liberdade I e na UPA do Alto de São Manoel, falecendo em 2010 vitima de uma infecção generalizada. A mais velha de nove irmãos, Euriglácia conheceu José Henrique do Nascimento em uma viagem dele por Mossoró. Acabou a levando para Recife, onde morava, e de lá ela voltou grávida de Ecristiane para tê-la ao lado da família. Poucos dias de nascida, no entanto, uma briga do casal desfez o relacionamento e a menina acabou sendo criada pelos avós maternos Edmilson Amaral e Rita Faustino do Amaral, a quem sempre chamou de ‘papai’ e mamãe’, no bairro Paredões. Apesar dos inúmeros relacionamentos que vieram na sequência da vida de sua mãe, Ecristiane acabou mesmo sendo filha única. Estudou no União Caixeral enquanto morou com os avós, até o falecimento de seu Edmilson, fato que a fez vir morar com sua mãe no bairro Sumaré. Neste período estudou na escola municipal Ronald Pinheiro e na escola estadual José Martins Vasconcelos, onde terminou o ensino médio.

TINHA 14 ANOS QUANDO EM UM SHOW DE ROCK, aqui mesmo em Mossoró, conheceu Francisco de Assis da Silva, um pintor apaixonado por motos, com temperamento introvertido, mas dono de um olhar contagiante, que fez a garota acreditar que ‘ali estava um amor à primeira vista’. Depois de algumas ‘ficadas’, que duraram cerca de dois anos, Ecristiane acabou grávida de Natália, hoje uma estudante de 18 anos que se tornou o braço direito da mãe, muito a ajudando nas batalhas diárias de sua vida. “Quando engravidei minha mãe comprou uma casa na mesma rua em que a gente morava, casei com Chico e fomos morar nela. A partir daí fiquei dividida entre as duas casas, pois ela trabalhava muito, em plantões seguidos, e por isso pouco parava para cuidar dos afazeres domésticos. Depois até minha avó também veio morar próximo à gente, em uma terceira casa, já que sempre foi mamãe que deu apoio a ela e a todos os seus irmãos”, conta. Ecristiane e Chico concluíram o ensino médio no turno noturno e neste tempo nasceu o segundo filho do casal: Erick Henrique Amaral, estudante de 15 anos e com um estilo bem característico desta geração independente e criativa. Chico, que já trabalhava na construção civil, passou a adotar a profissão de pintor como sua atividade principal. No entanto, sua grande paixão deste a infância eram as motos. Tinha coleção de motos custom. Passou boa parte de sua vida andando e se virando com suas bicicletas, até que em 2007, finalmente, pôde comprar sua própria moto no modelo que sempre sonhou: uma Kansas 250cc da Darwin. Com ela Chico da Moto, como passou a ser conhecido, recebeu o convite para fazer parte da irmandade Falcões Peregrinos, que o possibilitou viajar com Ecristiane para muitas cidades, conhecendo pessoas novas e se divertindo. “Um estilo de vida que nos identifica pelo espírito de rebeldia e amor à liberdade, sentimentos que nos uniu desde o primeiro contato, quando nos ligamos através do olhar até hoje”, resume Chico.

MAS COMO A VIDA NÃO É SÓ DE ALEGRIAS E DIVERSÕES, a partir de 2010 Ecristiane teve que enfrentar obstáculos difíceis, pois eles também fazem parte de nossas histórias. A perda de sua mãe em outubro a deixou-a sem chão. Elas já estavam novamente morando juntas e perder a alegria de viver de dona Euriglácia foi um golpe de grande intensidade. “Fiquei muito triste, ela era para mim uma irmã de luz, intensa e cheia de vida. Passei a frequentar os cultos da Igreja Presbiteriana ao lado de minha avó e passei a dedicar mais tempo para ela. O que eu não esperava é que devido uma pneumonia ela também viesse a falecer oito meses depois de minha mãe. A tristeza então virou depressão”, relata. Para combater esta doença interior que fere a alma através dos pensamentos negativos, o melhor remédio acabou vindo da irmandade do motociclismo. Foi a época em que o casal mais viajou. Não perdiam um encontro, em finais de semana de aventura, alegria e união fraternal. “São irmãos parceiros que nos recebem em suas cidades, respeitando códigos de ética com espírito comum de fazer o bem. Isso me deu forças e me fez sobreviver às dúvidas e inseguranças que me perseguiam”, conta Ecristiane. Há um ano, com o objetivo de valorizar ainda mais o grupo do qual faz parte, fortalecendo as ações sociais deste que considera um ‘estilo de vida’, já que não é um hobby que visa competições, Chico resolveu ao lado de outros seis companheiros, criar uma nova entidade denominada Moto Clube Rota 304, da qual ele é o atual diretor presidente. “Queremos fazer com que nosso grupo, através de organização e disciplina, possa ajudar ainda mais entidades necessitadas de Mossoró com campanhas de incentivo a doações”, descreve.

EM 2013, VEIO ENTÃO A NOTÍCIA DE UMA NOVA GRAVIDEZ. Inesperada e assustadora foi vital para que ela tivesse força para Ecristiane deixar de tomar os remédios antidepressivos. “Foi uma alegria com preocupação, pois teria que voltar a criar um filho após tantos anos”, lembra. O que não estava programado durante sua gravidez foi o acidente de moto sofrido por Natalia, que quebrou seu fêmur e a fez passar um mês em cadeira de roda e mais dois meses de muleta, gerando um stress a mais para a mãe. Em dezembro, com apenas 29 semanas de gestação, Artur chega ao mundo pesando 1,2 quilo e com problema de cardiopatia congênita, além de fragilidades comuns aos prematuros. Superado os mais graves momentos, ele já vivia normalmente quando com seis meses de vida teve uma febre e foi levado para um hospital da cidade. Devido a equipe de plantão ter tido dificuldades em encontrar uma veia para aplicação de uma simples injeção, a criança acabou tendo uma parada respiratória que causou traumas neurológicos. Acabou sendo transferido para outro hospital onde em vários momentos seu quadro foi considerado irreversível. Mas foi forte pela segunda vez em sua curta vida e sobreviveu. Hoje Arthur é uma criança especial, mas recebendo todo o amor de uma família cheia de paz, luz e alegria de viver. Aos nove meses fez a necessária cirurgia cardíaca no hospital de Mecejana, no Ceará, o que o faz ter que todos os meses passar por tratamento e avaliação clínica com médicos de várias especialidades. “Ele é um vencedor e muito nos orgulha. Passou a ser o centro das atenções e razão de acreditarmos que tudo vale a pena quando se tem amor no coração. Uniu ainda mais nossa família e nos deu força para enfrentarmos qualquer obstáculo com a confiança de que tudo parte de nosso Pai. Só ele sabe as razões de tudo que vivemos nesta vida”, conclui Ecristiane.

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