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SENTIMENTO DE UM AMBULANTE.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 22 de jan. de 2016
  • 4 min de leitura

RAIMUNDO QUEIROS DE SOUSA

Raimundo nasceu na praia de Redonda, município de Areia Branca, em 17 de maio de 1967, filho de Damião Teixeira de Sousa e Maria Albino de Sousa. Ele falecido recentemente, foi um pesqueiro e depois marítimo, contratado por empresas ‘offshore’ do setor. Trabalhou por mais de vinte anos em navios rebocadores por todo o litoral brasileiro. Ela mora atualmente em Macau e sempre foi a dona de casa cuidadosa no zelo de seus cinco filhos, sendo Raimundo o segundo. A infância deixou registrada na memória do menino algumas brincadeiras de sua época. As trocas que a criançada fazia dos peixes agulha que os barcos traziam do alto mar por cocadas de dona Albina era uma delas. “É comum entre os pescadores distribuir o pescado entre os demais colegas que se aproximam do barco, ou dos seus familiares, antes da comercialização. Todos sabem que se um pescador se aproximou do barco que chega do mar não é para comprar. Então é traticada a solidariedade fraternal comum nas comunidades pesqueiras”, relembra Raimundo. E assim era em Redonda, onde ele também brincava de futebol, carrinho de rolimã, de empurrar pneu, bandeirinha e mancha tropa, que era uma disputa entre dois grupos para conquistar o terreno do outro. Era um tempo feliz, mas não isento de dificuldades. “As famílias daquela praia não tinham o patrimônio que possuem hoje. Eram todas casas de barro e apenas uma TV na praça, ligada através de gerador apenas no horário das três novelas da Rede Globo. Apenas quando tinha futebol é que fazíamos uma cotinha para comprar óleo e assistir o jogo”, conta.

RAIMUNDO ESTUDOU ATÉ A QUARTA SÉRIE no colégio da própria praia. Já em 1981, fez o quinto ano na recém-inaugurada Escola Estadual da entrada da cidade de Areia Branca. Até que a estabilidade financeira de seu pai pôde oferecer à família uma casa melhor em Macau, onde já residiam algumas irmãs de seu Damião. Nesta cidade, Raimundo estudou até o Unificado, que na época era o primeiro ano do ensino médio. Aos 18 anos, se alistou para servir na Marinha, pois Macau era uma das poucas cidades do estado a possuir a Capitania dos Portos. Aprovado, acabou servindo na Base Almirante Ari Parreira (BAAP), em Natal. “As amizades, os ensinamentos adquiridos e o meio salário que recebíamos fizeram valer muito a pena. Foi um ano de enriquecer os conhecimentos e provar da liberdade de morar sem os familiares”, revela. Em janeiro de 1987, Raimundo estava de volta a Macau, onde concluiu o ensino médio. Chegou a fazer o vestibular para Pedagogia, mas a não aprovação o frustrou, e ele nunca mais tentou um curso universitário. “Só mais tarde é que descobri como meus estudos haviam sido fracos, pois criança era difícil fazer a correta avaliação”, destaca. Para ele, a presença dos pais é muito importante no acompanhamento dos estudos dos filhos, mas no seu caso, eles só tinham até a terceira série primária, e não possuíam segurança para ensinar ou orientar os filhos. Como a faculdade era também um sonho distante para a maioria das famílias, não estava entre os principais objetivos e por isso os filhos não eram tão exigidos.

SEU PRIMEIRO E ÚNICO EMPREGO foi na loja de Dantas, a Cred Discos, onde gravava fitas e, posteriormente, CD’s. Foram 11 anos neste serviço. Tempo em que casou com Hilda Marcelino, em 1993, com quem teve dois filhos: Hugo Renan, estudante de CIT na UFERSA, de 22 anos; e Caio, falecido com sete dias de nascido. Com a fiscalização sobre os CD’s e DVD’s piratas, a loja acabou fechando e Raimundo buscou novos rumos. Em 2002, a convite do amigo Arimateia, topou vir morar em Mossoró. Comprou uma casa no conjunto Vingt Rosado e trouxe a família. No entanto, o negócio de vender CD’s que colocou com o amigo não prosperou. Até que outro amigo, Joacir, sugeriu que comprasse um carrinho de água de coco na esquina da Praça do Pax, na Rua Coronel Gurgel. Já são 13 anos e meio de comercialização deste único produto, que nesta época chega a vender uma média diária de 40 unidades. “Já teve tempos melhores, pois o Centro de Mossoró perdeu nos últimos anos transeuntes e clientes devido a expansão dos negócios em outras localidades da cidade”, comenta. A esposa tem um salão de beleza anexo à residência do casal, uma outra receita que os deixam com tranquilidade para levarem a vida. Raimundo acorda diariamente cedo e abre seu negócio antes das 7:30h, fechando no final da tarde. Os cocos vendidos acabam sendo levados pela coleta regular de lixo, ou por criadores de animais que os utilizam para ração. Seus fornecedores são de Assu e Natal, o abastecendo nas terças e sextas-feiras. “Estarei por aqui até quando nos deixarem trabalhar. Por enquanto nenhuma autoridade apresentou um projeto viável para retirada dos ambulantes das calçadas da cidade. Sem fiscalização ninguém garante que após a retirada tudo não volte ao que era antes em pouco tempo. Mas acredito que qualquer medida esbarrará na falta de organização e na má vontade daqueles que deveriam administrar com seriedade os problemas da cidade”, desabafa. Consciente de que o simples afastamento dos ambulantes do Centro acabará com o negócio de 90% deles, Raimundo sugere que a melhor ideia seria a de transformar uma das ruas em um grande calçadão, para onde iriam os ambulantes devidamente cadastrados de forma organizada e padronizada. “Enquanto o poder público não define, vou fazendo de meu negócio meu sustento”, relata.


 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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