top of page
Buscar

A CASA QUE A FOME MORA.

  • Poeta Antonio Francisco
  • 13 de dez. de 2015
  • 2 min de leitura

Eu de tanto ouvir falar Dos danos que a fome faz, Um dia eu sai atrás Da casa que ela mora. Passei mais de uma hora Rodando numa favela Por gueto, beco e viela, Mas voltei desanimado, Aborrecido e cansado.

Sem ter visto o rosto dela.

Vi a cara da miséria Zombando da humildade, Vi a mão da caridade Num gesto de um mendigo Que dividiu o abrigo, A cama e o travesseiro, Com um velho companheiro Que estava desempregado,

Vi da fome o resultado, Mas dela nem o roteiro.

Vi o orgulho ferido Nos braços da ilusão Vi pedaços de perdão Pelos iníquos quebrados, Vi sonhos despedaçados Partidos antes da hora, Vi o amor indo embora, Vi o tridente da dor, Mas nem de longe via a cor Da casa que a fome mora.

Vi num barraco de lona Um fio de esperança, Nos olhos de uma criança, De um pai abandonado, Primo carnal do pecado, Irmão dos raios da lua, Com as costas seminuas Tatuadas de caliça, Pedindo um pão de justiça Do outro lado da rua.

Vi a gula pendurada No peito da precisão, Vi a preguiça no chão Sem ter força de vontade, Vi o caldo da verdade Fervendo numa panela Dizendo: aqui ninguém come! Ouvi os gritos da fome, Mas não vi a boca dela.

Passei a noite acordado Sem saber o que fazer, Louco, louco pra saber Onde a fome residia E por que naquele dia Ela não foi na favela E qual o segredo dela, Quando queria pisava, Amolecia e Matava E ninguém matava ela?

No outro dia eu saio De novo a procura dela, Mas não naquela favela, Fui procurar num sobrado Que tinha do outro lado Onde morava um sultão. Quando eu pulei o portão Eu vi a fome deitada Em uma rede estirada No alpendre da mansão.

Eu pensava que a fome Fosse magricela e feia, Mas era uma sereia De corpo espetacular E quem iria culpar Aquela linda princesa De tirar o pão da mesa Dos subúrbios da cidade Ou pisar sem piedade Numa criança indefesa?

Engoli três vezes nada E perguntei o seu nome Respondeu-me: sou a fome Que assola a humanidade, Ataco vila e cidade, Deixo o campo moribundo, Eu não descanso um segundo Atrofiando e matando, Me escondendo e zombando Dos governantes do mundo.

Me alimento das obras Que são superfaturadas, Das verbas que são guiadas Pro bolsos dos marajás E me escondo por trás Da fumaça do canhão, Dos supérfluos da mansão, Da soma dos desperdícios, Da queima dos artifícios Que cega a população

Tenho pavor da justiça E medo da igualdade, Me banho na vaidade Da modelo desnutrida Da renda mal dividida Na mão do cheque sem fundo, Sou pesadelo profundo Do sonho do bóia fria E almoço todo dia Nos cinco estrelas do mundo.

Se vocês continuarem Me caçando nas favelas, Nos lamaçais das vielas, Nunca vão me encontar, Eu vou continuar Usando o terno Xadrez, Metendo a bola da vez, Atrofiando e matando, Me escondendo e zombando Da Burrice de vocês.

 
 
 

Comments


DIÁRIOS DE MOSSORÓ
SIGA
  • Grey YouTube Icon
PARCEIROS
PENSAMENTO DO DIA

 

Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

Cazuza

 

PROCURE POR TAGS
  • Grey Facebook Icon

© 2015 por O bom de Mossoró

bottom of page