UM SÉCULO DE ALTOS E BAIXOS.
- Arquivos da História
- 2 de dez. de 2015
- 4 min de leitura

Uma história de altos e baixos. Essa é a frase que mais pode se adequar à trajetória econômica de Mossoró ao longo do século 20. A cidade, que viveu ápices e em seguida quedas vertiginosas com a decadência de seus alicerces econômicos, possui a incrível capacidade de se recuperar e ganhar notoriedade por conta de seu desenvolvimento. "É assim que pode ser resumida a história econômica da cidade", conta o historiador e pesquisador Wladimir Oliveira de Moraes, que, ao longo de dez anos de pesquisa, reuniu farto material a cerca dos ciclos econômicos vivenciados por Mossoró, no qual pretende transformá-los em livro, mas ainda sem patrocínio. "Fiz essa pesquisa ao longo de dez anos aliando a história econômica de nossa cidade com paralelo ao que ocorre no mundo", explica Wladimir Oliveira. No resgate do passado, o historiador relata que entre 1900 e 1950 a cidade de Mossoró vivia numa ascendência econômica por conta do comércio do algodão. "Considero o suíço Ulrich Graf um grande pensador da Mossoró daquela época. Foi ele que em 1900 pensou numa ligação entre Mossoró e a cidade de Petrolina para escoamento da produção do algodão e quem sabe ligar Mossoró ao sudeste do país", conta o historiador que também é assistente social. Nos textos, Wladimir afirma que "Graf era um homem mais do que arrojado para sua época". O suíço foi o concessionário da estrada de ferro que ligaria Mossoró em direção ao rio São Francisco, mediante a lei provincial 748 de 26 de agosto de 1875 e confirmada pelo decreto imperial 6.319 de março de 1876. O objetivo, segundo Wladimir, era dar escoamento a crescente produção de algodão que na época chegava a 200.000 sacas de 60kg. Com cerca de 30% da produção dirigidos ao mercado local e o restante para as cidades de Aracati (CE), Macau, Macaíba, Maranguape (CE), além de outras cidades dos estados de Pernambuco e Ceará. O algodão oriundo de Mossoró era o mais aceito comercialmente na Europa, quase não se exigia grandes investimentos pesados para a sua produção.

DO APOGEU AO DECLÍNIO INDUSTRIAL – Entretanto, a velha máxima da cidade ‘do já teve’ é sentida e a linha férrea que tinha sido imaginada para chegar até Pernambuco estacionou na cidade de Souza (PB) e com isso um canal de escoamento de produção foi aos poucos sendo esvaziado. "Grande parte pela falta de interesse do governo brasileiro em dar continuidade ao transporte ferroviário nacional", explica o historiador. Além disso, a decadência do algodão abalou a região com seu fim total já na década de 80, provocados pela praga do bicudo e que teve seu apogeu como ciclo econômico, sobretudo, durante as 1ª (1914 a 1918) e 2ª (1939 e 1944) guerras mundiais. Em Mossoró, as empresas de algodão Tertuliano Fernandes S.A. e M.F. Monte & Cia deram à cidade o título de maior parque industrial do Estado em 1920, onde se destacavam duas usinas de beneficiamento de algodão, três fábricas de óleo (sendo duas de oiticica e uma de caroço de algodão) e uma fiação. Mas o declínio definitivo do algodão na década de 80 por conta da praga do bicudo que dizimou a produção estava acompanhado por outras mudanças no campo econômico, que resultaram em desemprego em massa na época. Tratava-se do início da mecanização das salinas em meados da década de 60 e 70. "Quando as salinas começaram a usar as primeiras máquinas, muitas pessoas desempregadas que viviam próximas às salinas ao longo de nossa costa vieram para Mossoró, fincando residência onde hoje é o bairro Santo Antônio. Aquela região era bastante pobre e possuía uma grande massa de trabalhadores analfabetos dispensados com a extinção das salinas artesanais", diz Morais. Um fato também viria consolidar o declínio econômico de Mossoró, iniciado na década de 50 e encerrado na década de 80. Era a morte trágica do então governador do Rio Grande do Norte, Dix-sept Rosado Maia. Nascido em Mossoró, o governador morreu em acidente aéreo no dia 12 de junho de 1951. "A perda do governador foi sem dúvida um grande empecilho ao desenvolvimento da cidade, haja vista que problemas como, o inicio do declínio do algodão e a mecanização das salinas poderia ter sido, pelo menos, abrandada de forma mais contundente pelo Governo do Estado, com o governador substituto Silvio Pedrosa isso não foi bem objetivado", explica Wladimir Oliveira.

RENASCIMENTO E PERSPECTIVAS – Passado o ciclo do algodão, a cidade sofria com perdas de emprego e importância no contexto estadual. Mas ainda na década de 80 e início da década de 90, a descoberta do petróleo trouxe enormes dividendos à cidade que desfruta até os dias atuais essas benesses. "O petróleo veio consolidar a indústria da construção civil da cidade e podemos observar até mesmo nascimento de bairros, como o Alto do Sumaré e Bom Jesus que surgiram após o início deste ciclo econômico", relata Wladimir Queiroz. Mas nem só de boas notícias viveria a década de 90, iniciado ainda na década de 80 o projeto Maísa (Mossoró Agroindustrial S.A) que trouxe para a região o plantio de melão e as culturas irrigáveis segurou juntamente com o sal e o recém-descoberto petróleo a economia mossoroense, depois do declínio do algodão. Em meados da década de 90, a Maísa fecha suas portas devido a problemas de gestão e a fruticultura irrigada sofre uma profunda mudança em sua organização o que acabou por resultar em demissões em massa no setor. "Em vez de grandes fazendas, a fruticultura em Mossoró deu lugar a pequenos núcleos de produção que são comprados pelas empresas", conta Wladimir. Essa mudança na fruticultura irrigada é vista até os dias atuais. Se no passado a grande perda da cidade foi sua ferrovia e, consequentemente, sua possível ligação com o Sudeste do Brasil, no futuro a qualificação profissional é a chave para se manter no rumo da ascensão. "Mossoró deve educar e treinar sua população. É necessária mão-de-obra qualificada para que possamos atrair novas empresas e assim pulverizar nosso eixo econômico", diz. Além disso, políticas públicas de caráter estrutural aliada a responsabilidades ambientais é outra chave: "Devemos pensar como podemos despoluir nosso único rio, cuidar de nossos mananciais de água para que possamos ter vantagens sobre outros centros no futuro", finaliza Wladimir Oliveira.
Obs: o BOM DE MOSSORÓ não conseguiu identificar o autor e a publicação deste texto que faz parte de nosso arquivo. Se algum leitor identificá-los, solicitamos que nos informe para as devidas menções. Este texto foi publicado originalmente em 2010.

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