top of page

LÁGRIMAS DE CHUMBO.

  • Poeta Antonio Francisco
  • 20 de nov. de 2015
  • 2 min de leitura

Eu ontem pensando na última campanha Lembrei-me dos falsos sorrisos que dei, Dos beijos gelados dos rostos sem carne, Das mãos calejadas que eu apertei, Dos vários enterros que eu fui sem ter ido E das lágrimas de chumbo que lá derramei. Lembrei-me dos olhos de uma mocinha, Que estava sentada em uma calçada Com uma bandeira caída nos ombros, Com minha carranca no pano estampada Meus olhos brilhando de tanta alegria Os dela opacos, sem brilho de nada. Lembrei-me de cada tostão que eu gastei Com faixas, com bombas, com som e com flores, Tijolos, arisco, foguete e cimento Santinhos, pneus, bujões, refletores E de cada centavo que fora joguei No saco sem fundo dos bajuladores. Pensei no total que cada político Gastou na conquista de sua cidade – Se fosse aplicado na agricultura E na reeducação da comunidade Talvez nunca mais que a fome tocasse Nas teclas do peito da humanidade. Entrei no banheiro e olhei-me no espelho E saí procurando aquele rapaz Que tinha entrado no mundo político Há vinte e dois anos e meio atrás, Sonhando em fazer da sua cidade Um ninho de ética, forrado de paz. Mas encontrei outro ser diferente – Coberto de orgulho pela vaidade, Num barco de engodo, coberto de inveja, Num mar de mentira, cobiça e maldade Com medo de olhar nos olhos dos justos Pra não se ferir na luz da verdade. Pensei em deixar de lado a política. Mas como, se eu já tinha provado Do mel que aniquila a nossa virtude E deixa o nosso caráter quebrado? Eu que tanto falei do mal do açúcar Terminei me melando no mel do pecado. Olhei novamente meus olhos no espelho E multipliquei a minha amargura, Seguindo as veredas das rugas do rosto Olhando as pegadas da minha aventura Pensando na última saída que eu tinha Pra sair dos tentáculos da minha tortura. Quebrei o espelho e voltei pro meu quarto, Abri um dos freezers e tirei uma fria E uma fatia de queijo importado, E caí como estava na cama macia Esquecido de tudo que estava pensando Nos braços de seda da democracia.

* Cordel do livro 'Veredas de Sombras'.

 
 
 

Comentários


DIÁRIOS DE MOSSORÓ
SIGA
  • Grey YouTube Icon
PARCEIROS
PENSAMENTO DO DIA

 

Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

Cazuza

 

PROCURE POR TAGS
  • Grey Facebook Icon

© 2015 por O bom de Mossoró

bottom of page