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A VIDA É UM DOCE!

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 20 de nov. de 2015
  • 6 min de leitura

MARIA LUZETE MAIA DUARTE

Ela nasceu em uma Mossoró completamente diferente dos dias de hoje, tempo em que o trem passava em frente a sua casa e provocava os resmungos de sua mãe e onde a maior diversão era ir ao ‘Vesperal’ do cinema. Apesar do tempo, da mudança de costumes, da modernidade, da tecnologia, dos avanços e evolução, dona Luzete continua a fazer a mesma coisa que fazia há muitos anos, desde adolescente, por opção, por amor, por ter nascido predestinada para fazer de sua atividade profissional algo delicioso e gratificante. Ela é uma boleira de mão cheia. Apesar de estar perto de completar 84 anos, pois veio ao mundo em 29 de novembro de 1931, pediu que registrasse 83, em uma demonstração não só do seu bom humor permanente, como de sua vitalidade admirável pela vida. Filha de Jorge Moreira Maia, um delegado da Marinha Mercante que trabalhava em Areia Branca, e de Luzia Helena Maia, uma dona de casa com grande personalidade, que teve apenas mais um filho, Lenilton Moreira Maia, hoje aposentado como funcionário do INSS. “Meus pais já faleceram há algum tempo, mas deixaram um exemplo de amor pela vida, da simplicidade boa de bem curtir cada momento, buscando fazer tudo valer a pena”, descreve dona Luzete.

POUCO ESTUDO, MUITA ARTE – Estudo mesmo pouco se importou de ter. Fez somente até o ensino fundamental no colégio das freiras, pois o que queria mesmo era se meter na cozinha de casa fazendo doces e bolos para as visitas. Já aos 16 anos ficava realizada quando servia o seu exclusivo bolo ‘Xadrez’. “O segredo era colocar as três camadas na hora certa no forno, com as grelhas dando sustentação. A primeira camada era de baba de moça, a segunda de chocolate e a terceira com crocante de castanha. Passei anos fazendo muito mais para minha diversão do que para vender. Mas deixei de fazer por ser bastante trabalhoso”, conta. O prazer da filha era ao mesmo tempo o maior desgosto da mãe. Seu irmão sempre foi estudioso, orgulho da família. Hoje ele mora no bairro Nova Betânia com a filha Valéria. Dos outros três sobrinhos de dona Luzete, dois moram em Mossoró, Lenilton Junior e Claudio, e uma em Natal, Luciana. “Nós morávamos em uma casa amarela da Avenida Rio Branco. Éramos uma família de classe média, sem nenhuma dificuldade para investir no saber escolar. Mas eu é que nunca tive vontade de me formar, ter os estudos, obter um diploma. Para mim bastava que eu pudesse trabalhar fazendo bolo, e nem era para ganhar dinheiro. Era por puro prazer”, relembra. Somente em 01 de fevereiro de 1961, aos 29 anos, dona Luzete veio a se casar. Manoel Duarte Filho na época trabalhava na oficina de peças de caminhão de seu pai, era um homem bondoso e o maior admirador de seus trabalhos culinários manuais. Depois foi caminhoneiro durante um tempo, e com a ascensão do amigo Dix-huit Rosado à Prefeitura se tornou um de seus principais assessores. O casal teve dois filhos: Jorge Moreira Maia Neto, engenheiro agrônomo e proprietário de loja de campo e irrigação; e Liana Maia Duarte de Miranda, professora aposentada e recém-formada em Nutrição. De Jorge dona Luzete tem o neto Pedro Victor, estudante que só fala em ser médico. De Liana são duas netas: Rafaela, que estudou os quatro anos com a mãe e festejou uma noite inteira a formação em Nutrição; e Yasmim, concluinte do ensino médio no Diocesano, que curte arte, teatro e dança, membro do grupo Diocesena, inclusive fazendo parte da turma que recentemente viajou para apresentação em Joinvile/SC. Dona Luzete tem ainda outra filha especialíssima. Trata-se de Rita Carvalho, sua companheira de jornada há mais de 50 anos. Chegou novinha a sua casa para ajudar a cuidar do filho Jorge, se tornou membro da família. “Dona Luzete é a minha mãe de coração e seus dois filhos se tornaram também meus filhos”, resume Rita. O amor entre elas é tão grande que quando Rita casou e teve seu único filho, colocou o nome de Jorge. Seu relacionamento não foi duradouro, mas já rendeu três netos que também chamam dona Luzete de avó.

UM NEGÓCIO DE DAR ÁGUA NA BOCA – Ao casar com Manoel, foram morar no bairro de Santa Luzia, em uma casa alugada, depois, compraram a casa no bairro Doze Anos onde até hoje mora e faz seus bolos profissionalmente. Naquela época sua fama de boleira já estava espalhada na cidade. Começou a receber encomendas para casamentos, 15 anos e festas infantis em um ritmo que dava para sobreviver com folga, sem aperreios. Para ela, quanto mais camadas tivesse a encomenda do bolo mais ela se entusiasmava. Com o tempo foram sendo introduzidas as maquetes, facilitando a execução da obra de arte que é admirada por todos durante o evento. Hoje em dia, geralmente, o bolo comestível fica mesmo na cozinha, e é servido pelos garçons na hora adequada. “É comum clientes que fizeram comigo o seu batizado, os 15 anos e casamento. Mas é elas que me lembram, pois não tem como eu decorar de quem foram todos os trabalhos que já fiz nestes anos todos”, conta. Dona Luzete conta que em mais de 50 anos de profissão nunca teve reclamação de seu trabalho. “Gosto de tudo, desde os pequenos enfeites até a compra dos ingredientes para dar a máxima qualidade ao sabor da encomenda. Uso o que tem de melhor. “Mesquinhes não combina com este mercado de alimentação. Uso vinho do porto, licor de cacau, recheio crocante, damasco, leite condensado da melhor marca, entre outros produtos que dão qualidade especial ao bolo”, revela. Para ajudar no gerenciamento das encomendas, tratar dos orçamentos e prazos, a filha assumiu o papel de administradora do negócio. “Mamãe sempre foi mão aberta, não se preocupava muito com os lucros de seu trabalho. Para ela o que vale é mesmo o prazer e a satisfação em fazê-lo”, conta Liana. Para quem pensa que a idade está pesando nas atividades diárias desta mulher incansável, basta dizer que todo dia levanta às cinco horas para adiantar o serviço. “Muitas vezes de sete horas já estou com todos os bolos assados”, exemplifica. Também não costuma perder Encontros ou Congressos de boleiros pelo Brasil. Recentemente tirou até foto com Buddy Valastro, estrela do programa de TV Cake Boss, série de televisão americana em formato reality show agora também transmitido pela Rede Record. “Na Expo Brasil Chocolate 2015 eu era a única representante de Mossoró”, conta dona Luzete. E tem mais: todo ano vai para Buenos Aires fazer os famosos cursos portenhos de bolo. Para Maime, foi uma vez com o esposo, somente passear.

PROFISSIONALISMO A TODA PROVA – Ela conta que as maiores preocupações em sua vida sempre foram as doenças dos outros. Ela mesma, que lembre, só teve uma pequena bursite, tratada adequadamente e pacientemente. Seu casamento durou 37 anos com muita harmonia e cumplicidade, pois ele nunca deixou de lhe apoiar e incentivar para que viajasse e aprendesse sempre mais sobre sua arte. Em 1998, seu Manoel que sofria com problemas no coração teve um acidente vascular cerebral e veio a falecer, após oito anos em uma cadeira de rodas. “Nós adorávamos o carnaval, nos tempos em que o auge era a ACDP. Não perdíamos uma noite. Como eu não bebia, me divertia achando graça com as turmas de amigos”, destaca. Outra diversão que gosta é o veraneio na praia de Tibau, quando reúne a família para receber a alegria e o amor de todos. Um de seus orgulhos é a pontualidade. Nunca chegou atrasada para entregar suas encomendas. “Muitas vezes nem a mesa do bolo está pronta ainda, mas eu chego na hora que prometi. É uma falta de elegância não cumprir com o combinado. Seria uma falta de respeito para com quem confiou em meu trabalho”, revela. Estes ensinamentos ela costuma oferecer as boleiras de Mossoró como forma de incentivo. Gosta de ensinar a quem está chegando ao mercado, e muitas reconhecem dizendo que é nela que se espelharam para iniciar-se na profissão. A neta Rafaela comentou há poucos dias em uma rede social uma foto com diversos bolos feitos por sua avó: ‘A arte é singular e plural. Singular quando aquele minúsculo detalhezinho nos faz único. Plural quando transformamos esse pequeno detalhe em algo grandioso, nobre e o expandimos por aí... Compartilhe sua arte com o mundo, mesmo que pareça meio boba rsrs afinal essa bobagem faz algo incrível, faz com que seja VOCÊ!’ Durante a entrevista dona Luzete soltou uma frase que pode muito bem resumir a sua própria história, e que serve de título para ela: A vida é um doce! Que possamos, com o seu exemplo, saber contornar os problemas e preocupações diários, transformando nossas vidas também em um grande tabuleiro de guloseimas.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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