TUDO PASSA!
- obomdemossoro
- 19 de nov. de 2015
- 6 min de leitura

CID AUGUSTO DA ESCÓSSIA ROSADO
O primeiro filho do casal Laire Rosado Filho e Sandra Maria da Escóssia Rosado nunca quis emprestar seu nome para os caminhos ‘mirabolantes’ que levam às urnas eleitorais, diferentemente de todos os demais membros de sua família. “Nunca tive nem filiação partidária”, revela Cid Augusto, nascido em Mossoró no dia 16 de novembro de 1971. “Não vou a comício, não peço voto, não participo das mobilizações. Ajudo nas minhas áreas profissionais, de inicio na comunicação e, mais recentemente, também na área da advocacia”, explica. Todos sabem que o pai já foi deputado estadual e federal; que a mãe foi prefeita, vice-prefeita, deputada estadual e federal; que a irmã, Larissa Rosado, foi deputada estadual e candidata à prefeita por quatro ocasiões; que o irmão Jerônimo Vingt Rosado Maia Neto foi vereador; e que o outro irmão, Jeronymo Lahyre de Mello Rosado Neto, atualmente é vereador em Mossoró. “Definitivamente não é a área onde me sinto confortável. Somos muito unidos e solidários uns com os outros dentro da família, mas candidatura minha a qualquer cargo público nem pensar”, delimita.

FASE ESCOLAR REBELDE E SEM CAUSA – Cid viveu seus primeiros anos na casa do avô paterno, na rua Meira e Sá, Centro de Mossoró. Quando tinha ainda três anos, o pai médico e a mãe assistente social compraram um sítio no distante Rabo da Gata, hoje Nova Betânia, esquina com o colégio Elizeu Viana. “Ninguém queria morar por lá, pois era muito distante. Só tínhamos dona Dida como vizinha e uma vacaria, que meu pai comprou tempos depois”, relembra. Estudou no Instituto Montessori e no colégio Dom Bosco antes de chegar ao Diocesano, onde fez até a oitava série. Quando foi para Natal a contragosto, entrou em uma fase de ‘rebeldia sem causa’, como ele mesmo definiu. No colégio Marista, foi reprovado dois anos, tendo que voltar para Mossoró para concluir o ensino médio. Mesmo assim deu trabalho. “Dos meus 13 até os 18 anos passei por uma fase de questionamentos grandes. Eu nem mesmo sei explicar exatamente o que passava em minha cabeça. Não conseguia me concentrar e receava não dar conta de minhas responsabilidades”, conta. Somente depois deste período, resolveu se matricular no supletivo Alfredo Simonetti e concluir o ensino médio. Passou então, de imediato, no recém-criado curso de Biologia da UERN, onde só cursou o primeiro ano. Preferiu iniciar o curso de Letras, que também não concluiu, pois havia passado em dois vestibulares de Comunicação: UNP e UFRN. Optou em fazer o curso de sua preferência na universidade federal, concluído em 2003. Ainda na área de formação, fez logo em seguida, por sugestão de um amigo, o mestrado em Estudos da Linguagem, experiência que para ele acabou sendo um marco em sua vida pessoal e profissional. “Conheci autores que transformaram muitos de meus pensamentos, o meu prisma de ver a vida, meus conflitos internos foram sendo aos poucos esclarecidos, me engrandeci e vi clarearem, principalmente, questões como imparcialidade e objetividade na comunicação”, descreve Cid.

CLAREANDO IDEIAS E IDEAIS – Para melhor entender o que acontecia na cabeça deste jovem, é preciso voltar um pouco ao tempo. Já aos 13 anos iniciava sua carreira no jornal O Mossoroense, de propriedade de sua família. A primeira tarefa não foi nada fácil. Era o ano de 1984 e a cheia do rio Mossoró prometia ser violenta. Cid foi encarregado de levar um pedreiro para levantar uma mureta de proteção, evitando que as águas tomassem conta da sede do jornal. “Não valeu de nada aquele esforço, pois além da água subir além do normal, o piso do jornal foi levantado pela proximidade do rio. Perdemos xilogravuras, peças de valor inestimável, as máquinas ficaram imprestáveis e o acervo do jornal entre 1872 a 1984 foram desmanchados por completo”, conta. No ano seguinte, teve sua carteira assinada pelo jornal. Começou a escrever já aos 15 anos, como repórter policial. Também passou pelas notícias da cidade e de cultura, criando, inclusive, o Caderno Universo. Só não escrevia sobre política. Sempre muito idealista, sabia das suas responsabilidades por ser filho do dono e ao mesmo tempo possuidor de elevado senso crítico sobre tudo e mais um pouco. “Só quando voltei do mestrado fiquei convicto que deveríamos assumir uma posição clara em nossa linha editorial, defendendo nossas posições de forma transparente, reconhecendo a inteligência do leitor e o respeitando acima de tudo. Meus anseios e culpas se evaporaram por completo”, revela Cid. Entre 1989 e1990 chegou a assumir a direção geral do jornal, mas percebeu que seu lugar era mesmo na redação. Diante das mudanças aceleradas nos hábitos e costumes dos leitores, aliada a crise econômica que afeta toda a economia, Cid adianta que em 2016, possivelmente, o jornal O Mossoroense deixará de ser impresso, encerrando de vez a atividade secular da impressão que Jeremias da Rocha Nogueira fez nascer em 17 de outubro de 1872. “Estamos estudando manter o jornal apenas na plataforma digital, diminuindo os custos para investir no conteúdo, que é o mais importante para um veiculo de comunicação”, revela.

A GRANDEZA DA RELAÇÃO COM OS FILHOS – Aos 17 anos, ainda no período de maiores conturbações, casou com Francisca Florêncio, com quem teve Sandra Maria, hoje fisioterapeuta com 24 anos. Após sete anos de relacionamento, separou-se e casou novamente com Maria da Conceição, bióloga, com quem viveu doze anos e ganhou Cid Filho, estudante de 16 anos. Com o fim desta relação, Cid casa-se logo em seguida com a advogada Samara Maria Morais do Couto, uma amiga de infância do Diocesano que em uma brincadeira de ‘Tô no Poço’ recebeu de Cid o seu primeiro beijo, que a fez sair correndo sem direção. Vinte anos depois, em uma festa em Tibau, Samara conversava em inglês com uma amiga professora da língua contando esta história, certa de que Cid nada entenderia. Ela dizia que se fosse naquele momento não mais iria correr. Cid, que acabara de chegar de três meses na Inglaterra, onde foi justamente aprimorar seu inglês, perguntou em português mesmo: ‘tem certeza? E beijou-a novamente. Desta vez Samara não correu, pelo contrário, correspondeu a sua atitude de forma positiva, lhe dando o filho Jeronimo Augusto, que hoje tem sete anos. “Minha mãe costumava dizer que eu não namorava. Casava. Todos os três relacionamentos me ajudaram a construir a pessoa que sou hoje. Acho até difícil falar do sentimento grandioso que sinto por Samara e pelos meus três filhos. São experiências que nos dignificam, nos dão sentido, nos norteiam, nos balizam”, resume. Em 2011, Cid se formou em Direito pela UNP ao lado do pai, responsável por ter lhe incentivado a entrar no curso que ele havia se matriculado. “Com uma semana de aula ele me liga dizendo que eu também deveria fazer Direito. Respondi que não me interessava. Uma semana depois ele me ligou novamente dizendo que já havia feito minha matrícula. Aí não teve jeito. Nós estudamos juntos e nos formamos juntos”, descreve. “Passei a ser um apaixonado também pelo Direito, em particular pelas ciências criminais”, complementa Cid.

CONSUMIDOR DE LIVROS – Quando ainda menino, Cid pediu ao tio Vingt-un, proprietário da Coleção Mossoroense, um livro sobre a história de Mossoró para fazer um trabalho escolar. Recebeu 50 livros e sua mãe logo adiantou: quando ele empresta um livro depois cobra a leitura. Comece a ler tudinho para quando ele perguntar algo. Para Cid aquele momento o torturante. Passou a ficar se escondendo do tio até terminar de ler todos os 50 livros. “Tinha medo dele me cobrar a leitura de repente e eu não saber responder nada”, lembra. A partir deste episódio, Cid passou a ser um comprador costumeiro de livros, reunindo hoje cerca de doze mil unidades entre seu escritório, no jornal e em uma casa de um sítio. Agnóstico, gosta de refletir sobre a vida e as crenças diversas, sem deixar de respeitar todas elas. “Gostaria de crer mais, pois vejo que quanto mais às pessoas acreditam em um mundo superior, em vida após a morte, mais parece que vive-se bem, com mais alegria”, identifica. A morte prematura de seu irmão Vingt foi para ele uma tragédia familiar que abalou a todos. Mas Cid acredita que todas as experiências acabam trazendo ensinamentos, mesmo as mais dolorosas. “Uma vez ganhei um quadro de um amigo árabe, Ibrahim Maramad, onde tem escrito: ‘Tudo Passa!’ É a mais pura verdade. Nenhuma dor ou tristeza será permanente, assim como nenhuma alegria ou vitória. Assim é a vida”, conclui.
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