DURAS ANDANÇAS DE UM VIOLEIRO.
- Lindomarcos Faustino
- 17 de nov. de 2015
- 2 min de leitura

ELIZEU ‘VENTANIA’ ELIAS DA SILVA (In Memoriam)
No dia 20 de julho de 1924 nasceu em Martins o artista popular Elizeu Ventania, filho de Eustáquio Rodrigues da Silva e Maria Raimunda da Conceição. Desde menino, no sítio onde morava ajudando o pai na agricultura, já demonstrava o sentido da poesia em suas veias. Apanhando algodão ou trabalhando com a enxada, todos já o admiravam quando apresentava suas próprias canções. Seu pai era tocador de rebeca e ‘ele se fez na rebeca dele’. Depois que aprendeu direitinho, seu desejo foi o de comprar uma viola, pois sentia que dava para ser um bom violeiro. Elizeu Ventania não frequentou nenhuma escola, pelo motivo que desde cedo teve problemas na visão, não enxergando bem. Seus pais, sobrevivendo da bruteza da terra, nunca se expressaram pelo seu futuro.

VIAGENS A PÉ PELO NORDESTE IMENSO – No ano de 1942, Elizeu começou a viajar e cantar com os cantadores, de um Estado para outro. Naquele tempo transporte era muito difícil, quando dava pegavam o trem, mas para muitas cidades o jeito era ir a pé mesmo. Este cantador sofreu mais nas estradas do Maranhão, naquelas matas enormes. No Piauí e no Ceará também. Ele começou a cantar aos 16 anos de idade, viajando muito pelo Nordeste, mostrando suas belas canções. Morou em Fortaleza durante oito anos, retornando em 1947 para o Rio Grande do Norte, onde ficou viajando pelo interior. Morou em Natal por sete anos e depois se aportou em Mossoró, onde durante 15 anos fez um programa na Rádio Difusora. Elizeu fez suas apresentações em diversas estações de rádio, onde fundou um programa na Rádio Poti, em Natal, no ano de 1953. Este Programa foi muito censurando por alguns de seus amigos, que achavam que a canção não era cabível na literatura de cordel, mas ele não se importava com isso, pois enquanto fazia o programa, recebia vários telefonemas do povo pedindo bis da canção. Alguns de seus colegas telefonavam para a Rádio e perguntavam se aquilo era programa de violeiro ou ‘A Hora da Saudade’.

VIDA DIFÍCIL, MAS JUSTAMENTE HOMENAGEADA – Eliseu Ventania foi o primeiro violeiro que implantou a canção na literatura do cordel, por isto que era muito censurado, mas ele era muito feliz em sua profissão. O poeta que mais ele apreciava era João Martins Ataíde e o primeiro romance que decorou foi ‘O Pavão Misterioso’. Escreveu dois folhetos, que foram muito bem vendidos: ‘A Traição que o Sogro Fez a Nora’ e ‘As Quatro Mortes de Sergipe’. Começou a escrever suas canções desde o ano de 1953. Também publicou um livro com 39 canções, com 500 exemplares. Para ajudar dentro de casa, Elizeu vendia fitas K7 com suas produções lá no Mercado Central. Ficou um pouco afastado do público por não ser reconhecido com suas produções e por ter ficado cego, porém, apesar dessas pedras em seu caminho, nunca deixou de compor. Faleceu pobre numa casinha modesta, no dia 19 de outubro de 1998. Deixou aproximadamente 100 canções inéditas. A antiga Estação Ferroviária de Mossoró, quando transformada em espaço cultural, ganhou a denominação de ‘Estação das Artes Elizeu Ventania’.
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