A ESPERA DE UM DOADOR.
- obomdemossoro
- 7 de nov. de 2015
- 6 min de leitura

ERANA BENAIA PONTES BELARMINO
O nascimento da filha Erana Benaia foi uma benção para o casal Eron Belarmino de Souza e Rita de Cassia Pontes Belarmino. Veio ao mundo faltavam apenas três horas para chegar o ano novo, no dia 31 de dezembro de 1974, após seis anos da união, mesmo dona Rita jamais tendo utilizado qualquer método contraceptivo. “Foi a gestação única de minha mãe, que jamais soube as razões que a fizeram não mais engravidar”, revelou Erana. O pai nasceu em Santa Cruz, município paraibano que faz fronteira com Alexandria, rota do saudoso trem Mossoró-Sousa. Era comerciante de gado e de cereais em Mossoró, já viúvo quando conheceu dona Rita. Sua esposa havia morrido logo após o nascimento do filho Sadraque Eronilson, auditor fiscal da Petrobrás, morando atualmente em Natal. A mãe, natural de Alexandria, mais precisamente da comunidade de Baixa Verde, após conhecer Eron, acabou decidindo morar em Mossoró, na casa de uma irmã, para ficar perto do namorado, evitando suas viagens semanais de trem para lhe encontrar na cidade do Alto-Oeste. Até os doze anos, Erana e seus pais moraram na rua Juvenal Lamartine, no bairro Bom Jardim. Ela estudou no Colégio Pequeno Príncipe todo o ensino fundamental e fez o médio no União Colégio e Curso. “Sempre senti falta de um irmão, não importava se fosse um homem ou uma mulher. Tanto que quando soube que tinha um irmão por parte de pai, minha alegria foi enorme. Ultimamente, todos os anos ele traz a família para passar o Natal com a gente”, conta.

A PAIXÃO, A GRAVIDEZ E O CASAMENTO – Criada com cuidados extremos, superproteção comum às mães que só possuem um filho, Erana teve uma infância contida, de poucos amigos e muito restrita a sua própria casa, ao alcance dos olhos e ouvidos de dona Rita. Certo dia, quando ainda tinha doze anos, saindo de uma aula de inglês no CCAA, um rapaz de moto se aproximou perguntando quem ela era, se estava tudo bem, onde morava. Erana, mesmo desconfiada, permitiu que ele a acompanhasse até sua casa. Era Cássio Menezes Duarte, com quem só viria se encontrar novamente no ano seguinte, quando já morava na rua Tibério Bulamarque, casa em que seus pais, ambos aposentados, moram até hoje. Um ano depois, em um culto da igreja Assembleia de Deus, Cássio a reconheceu e novamente a acompanhou até sua casa. Neste mesmo dia a pediu em namoro, mesmo tendo oito anos a mais do que Erana. Apaixonada e com pouca experiência, bastaram alguns meses para a inevitável notícia de uma gravidez inesperada. “Na verdade foi minha mãe que percebeu algumas mudanças em meu corpo e me levou para fazer uns exames. Eu tinha problemas hormonais e meu ciclo era irregular. Quando descobri que estava grávida me senti como uma árvore cortada ao meio, precisando a partir dali crescer de uma nova forma, com novos sonhos”, descreveu. Criou-se um grande impasse nas duas famílias, prontamente resolvido pelas duas mães do casal de namorados, que acabou casando em 21 de dezembro de 1989, indo morar na casa dos pais de Erana para que Cássio Filho pudesse nascer com todo conforto e amor em 12 de março de 1990. “Contei com o irrestrito apoio de meus pais neste momento de tanta incerteza. Até hoje eles tratam meu filho não só como um neto, mas como um novo filho que chegou a suas vidas”, revela. Após cinco anos de casamento, conseguiram comprar a própria casa e foram morar no bairro Planalto 13 de Maio. Cássio na época era comerciante na área de informática. Começou uma nova fase de mais responsabilidades e desafios, pois agora eram somente os três para administrar o dia-a-dia de um lar. Alias três não, eram quatro, pois Kimberly Naairi, a segunda filha do casal, havia nascido há apenas um mês.

A VIDA RECOMEÇA A CADA NOVO CAPÍTULO – Nos nove anos que se seguiram o casal viveu em uma atmosfera de muitos conflitos, com separações, idas e vindas, desentendimentos, até que um dia Erana resolveu tomar a difícil atitude de por um fim ao casamento. Saiu de casa com os dois filhos e voltou a morar com os pais. “Não foi fácil administrar todas as consequências de uma situação como esta, mas apesar de ainda hoje existirem conflitos, nos consideramos amigos, pois Cássio mantem uma boa relação com nossos filhos, passada as fases de maiores tensão”, explica. Um ano depois da separação, Erana conheceu Francisco de Assis da Silva, um técnico na área de petróleo dez anos mais velho do que ela. Bastou mais um ano para que ele a convidasse para morar em sua casa. “Francisco se tornou meu príncipe, minha cara metade, meu companheiro, amigo e protetor. Um presente de Deus para completar minha vida. Meus filhos têm muito apreço e respeito por ele, o considerando um segundo pai”, conta Erana com alegria. Francisco acabou se tornando uma companhia fundamental para Erana, um apoio necessário para a situação inesperada que iria viver a partir do final do ano de 2012. Antes, Erana já havia percebido que precisava voltar a investir em sua formação educacional e profissional. Concluiu Pedagogia na UERN em 2005, e em seguida se especializou em Gestão do Sistema de Ensino, procurando estudar para concurso público. Logo passou no primeiro em Areia Branca, mas nunca foi chamada. Quando estava trabalhando no Programa CREAS Mulher, da Prefeitura de Mossoró, passou e foi logo chamada para assumir o cargo de professora do ensino infantil do município de Governador Dix-sept Rosado. Durante quatro anos foi a responsável pela escola da comunidade de Lagoa de Pau, acompanhada apenas da merendeira. Em 2011 voltou a passar em concurso público, desta vez para professora do Estado, assumindo em março de 2012 na escola Dom Jaime Câmara, no bairro Costa e Silva, onde permanece até hoje. Em 2014, também foi aprovada para técnico de nível superior da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Mossoró, atuando no CRAS do conjunto Pintos. Foi quando entregou o cargo em Dix-sept Rosado.

A DESCOBERTA DA DOENÇA RENAL – Ainda em 2012, em um exame de rotina, Erana foi diagnosticada com uma Nefropatia, uma lesão ou doença do rim. Normalmente, os doentes renais possuem histórico de diabete, ou hipertensão, ou até mesmo devido uso continuado e abusivo de analgésicos e anti-inflamatórios. O caso de Erana não foi por nenhum desses motivos, mas por uma causa rara. “Haviam surgido umas feridas no meu corpo que começaram a coçar muito. Foi quando procurei um dermatologista que me indicou os exames. A constatação que eu já era uma Renal Crônica foi dramática para mim, pois de forma silenciosa uma bactéria havia devastado meus rins, só fazendo com que eu percebesse quando a situação já estava em estágio avançado”, descreve. A partir daí uma série de exames foram realizados para identificar e esclarecer a rápida perda das funções renais e indicar o tratamento adequado. Erana passou 15 dias no Hospital do Coração, em Natal, onde foi feita uma biopsia. Foi constatada a inevitável necessidade de um transplante, a colocação de um novo rim, sem a necessidade de retirada dos dois, pois a bactéria já não mais existia. Erana passou então a ter que conviver com as suas imaginações e pensamentos negativos. “Fiquei com duas escolhas: ou me entregar à doença, ou continuar a viver a combatendo-a com todas as minhas forças. Quando procuramos as razões para passar por uma situação como está, chegamos muito próximo da depressão e do isolamento do mundo. O apoio de Francisco, de meus pais, filhos e amigos mais próximos foram fundamentais para eu encarar a realidade de frente”, explica. Erana passou a não comer carnes e derivados de leite, bem como evitar esforços físicos. Tudo para não sobrecarregar os rins, que já estavam bastante delicados. “Medimos os níveis de Creatinina e Ureia semanalmente, pois quando constatarmos o funcionamento de apenas 10% desses órgãos teremos que iniciar as sessões de hemodiálise, três vezes por semana”, conta. Por enquanto, toma os medicamentos para o não agravamento dos sintomas, indicados para os ossos, o sangue e para o organismo de Erana como um todo. Frequentadora da Igreja Cristã Evangélica, mantem sua fé em Deus na certeza de que ‘nenhuma folha cai sem a sua permissão’. “Muita gente que convive comigo não sabe os problemas que estou enfrentando. Vai saber agora com esta história sendo contada, pois acredito que deva dividi-la para que todos tenham a compreensão de um caso raro como este, que pode acontecer com qualquer pessoa. Apesar de conviver com enjoos, fraqueza, cansaço e dores de cabeça enormes, me sinto útil e esperançosa a espera de um doador. Vou sair desta com toda certeza”, acredita Erana.

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