APRENDENDO E ENSINANDO SEMPRE.
- obomdemossoro
- 5 de nov. de 2015
- 6 min de leitura

FRANCISCO ALVES MAIA (TITICO MAIA)
Vida de empresário no Brasil não está nada fácil. Além de ter que conviver com sucessivas crises econômicas, provocadas por administrações públicas perdulárias e corruptas, eleitas de forma equivocada por eleitores mal instruídos, ainda enfrenta uma escassez de mão de obra qualificada, impostos e taxas a perder de vista, leis trabalhistas que pesam na folha de pagamento e um mercado inconstante, formado por uma gama de consumidores endividados. Titico Maia entende bem esta realidade, pois há quase 70 anos é empresário, tendo vivido momentos de auge, sucesso e apogeu, mas também de perdas, desgastes e prejuízos. Ultimamente está mais contido, sem as muitas agitações ou correria de um passado de tantos empreendimentos e viagens, dando seu expediente diariamente na sua loja de alinhamento e balanceamento de automóveis, no Alto de São Manoel. Hoje se diz satisfeito em morar sozinho, desfrutando da vida, dos ensinamentos e das experiências acumuladas, aberto para as novas e imprevisíveis que ainda estão por vir. “Priorizo uma boa leitura, receber os amigos de vez em quando para um bom papo, algumas vezes na casa de praia, lugar onde gosto de estar, e acompanhando a situação política e econômica do país neste momento de tantas incertezas”, resume.

O INICIO DO EMPREENDEDORISMO – Nascido Francisco Alves Maia no dia 27 de julho de 1934, em Mossoró, Titico é filho de Veríssimo Alves Maia e Lilian de Souza. O pai era dono de um caminhão ‘Misto’ que durante anos fez a linha Mossoró/Fortaleza, que só deixou de circular devido seu falecimento ocorrido no ano de 1951. A mãe era dona de comércio. Primeiro o ‘Café da Lilian’, transformado no conhecido ‘Bar Tamandaré’, em frente ao Mercado Central. Tinha ainda uma lanchonete dentro do mercado que servia todas as refeições. Quando seu Veríssimo faleceu, eles já eram separados, e dona Lilian já sustentava os sete filhos, sendo Titico o mais novo dos homens. A família morava no bairro Paredões, e todo dia ele acompanhava a mãe até o comércio, sempre passando em frente a Padaria de Juvenal. Certo dia, Titico fez uma proposta de trabalho: em troca de comer os pães doce que quisesse entregaria os pães de seu Juvenal em alguns locais do Centro da cidade. Foi seu primeiro emprego. Quando abusou de comer pão doce, passou a receber mil réis pelo serviço. Com o dinheiro, aproveitou para fazer o curso de datilografia de Antônio Dantas de Amorim, chegando a digitar 33 palavras por minuto com 70% de acerto, uma excelente marca para um garoto de 11 anos. Fez o curso técnico de contabilidade na Escola Técnica de Comércio e, em 1954, formou-se em Contabilidade, ambos na União Caixeral. Entre 15 e 17 anos fez também parte da 2ª turma de aviação de Mossoró, promovido pelo Aeroclube. Quando ainda tinha entre 13 e 14 anos, iniciou sua vida de empreendedor. Recebia mercadorias de Recife/PE e era responsável por distribuí-las por toda a Região Oeste através do trem. Com os primeiros lucros, comprou um Chevrolet 1939 e mandou fazer um misto com três boleias para explorar o trecho Mossoró/Fortaleza, dando continuidade ao serviço que o pai já tinha realizado. Para isso, adquiriu a agência de transporte de Raimundo Justino Filgueira, que a chamou de Fátima. Durante nove anos a Agência Fátima fez circular seu Misto na estrada esburacada que muitas vezes provocava quebras e dores de cabeça, mas que prestou grandes serviços para os mossoroenses até o ano de 1962.

OS ALTOS E BAIXOS DO MUNDO EMPRESARIAL – Neste tempo, Titico também foi trabalhar em Almeida Aires e Companhia, na época a maior casa de peças de Mossoró. Com o passar do tempo, foi adquirindo ações na empresa e acabou se tornando seu gerente geral. Foi quando comprou a agência de Zé Agostinho e mandou fazer dois ônibus na Caio Norte, em Recife. “A gente comprava o chassi e mandava fabricar a carroceria. Com os dois veículos exploramos as linhas Mossoró-Natal e Areia Branca-Natal, entre 1958 e 1960”, lembra. Um importante fator para empresa foi o credenciamento da Inter Brasil, uma grande distribuidora de mercadorias do país, que garantia um reforço no caixa. Titico pôde então enveredar também no comércio de veículos, viajando para o Rio de Janeiro por diversas vezes para trazer os caminhões que comprava e vendia, transformava em Misto, negociava de diversas formas. “Eu mesmo dirigia os caminhões até Mossoró”, conta. Nos anos 70, ao participar ativamente das campanhas políticas ao lado do ex-governador Tarcísio Maia, e vendo o asfalto ir chegando às cidades do interior, resolveu investir ainda mais no setor de transporte, criando a Viação Oeste em 1973 e ganhando concessões para explorar o serviço. Durante 29 anos, e chegando a ter 28 ônibus, foi a principal empresa de transporte intermunicipal da região, explorando linhas a partir de Mossoró para quase todos os principais municípios, como Alexandria, Martins, Portalegre, Umarizal, Gov. Dix-sept Rossado, Grossos e Tibau, além de fazer Natal-Martins e Natal-Alexandria. Em 2002, após anos de uma luta combatendo os transportes alternativos, impossível de ganhar devido às mudanças de costumes que o tempo implacavelmente provoca, Titico encerrou as atividades da Viação Oeste, assim com praticamente todas as demais empresas do setor no estado, como Riograndense, Jardinense, Guanabara e Dois Irmãos. Passou a investir na área pneumática, criando a Oeste Pneus e trazendo contêineres do produto a partir dos Estados Unidos. “Demos 14 viagens para aquele país para negociar a compra de pneus, aproveitando também para visitar a feira anual de aviação de Lakeland, na Flórida, ao lado de outros empresários mossoroenses como Assis Neto, Wilson Mendes e Zé Agostinho. A aviação sempre foi um hobby prazeroso em minha vida”, recorda. Prejuízos causados pelas mudanças cambiais, fez com que Titico deixasse os importados para negociar com a fábrica Michelin uma exclusividade em Mossoró. Mas o preço para ter a famosa marca acabou se mostrando muito alto: foi preciso adquirir uma cota mínima, o que lhe causou novo prejuízo diante de dificuldades em receber de parte da clientela, que lhe deixou como resultado um calhamaço de cheques sem fundos em volume considerável. Uma lembrança que Titico guarda com muito carinho de seu variado histórico empresarial, foi quando fez o investimento para trazer à Mossoró o primeiro sinal de TV. Em 1974, através de sua empresa Telesom, de equipamentos elétricos e eletrônicos, que mais tarde ficaria sob os cuidados de seu filho Paulo, Titico comprou retransmissor, antena e demais acessórios, instalando em mata fechada na Serra Mossoró o equipamento completo para receber o sinal do Canal 2, TV Ceará, possibilitando aos mossoroenses assistir a Copa de Futebol daquele ano ao vivo e a cores. “Com a emissora pioneira na cidade chegamos a vender mais de mil aparelhos de TV Philips durante os meses seguintes à instalação da antena”, revela.

O APRENDIZADO CONSTANTE É O QUE IMPORTA – Em 1956, Titico casou com Maria Manoelita Pereira Maia, filha única do fotografo Manuelito Pereira, com quem teve três filhos: Francisco Alves Maia Junior, psicanalista; Paulo Eduardo Pereira Maia, engenheiro elétrico e de prospecção de petróleo; e Daniela Pereira Maia, médica pediatra. No mesmo período, enquanto Titico se formava em Contabilidade, Manoelita se tornava professora através da Escola Normal. Em 1977, ambos com mais de 40 anos, estudaram e se formaram juntos no curso de Economia pela hoje UERN, pois haviam sentido necessidade profissional de possuírem mais uma formação. Com ela, Manoelita chegou a ser diretora da Faculdade de Economia, para em seguida se tornar pró-reitora da mesma instituição em que se formou. Apesar de manterem um casamento estável e sem muitas preocupações financeiras por tanto tempo, a relação entre eles não escapou das naturais incertezas, questionamentos, indisponibilidades de gêneros, busca por novas realizações ou outros fatores que mexem com a cabeça de qualquer ser humano em sua caminhada evolutiva. Razões como estas fizeram com que Titico resolvesse, há cerca de 12 anos, morar sozinho, causando um mal estar familiar. “Optei em ter mais liberdade em minha vida depois de tantos anos de trabalho. Gosto de fazer minhas coisas, de cozinhar, de ter meus momentos comigo mesmo. Um casamento sempre chega a um ponto em que as realizações e os desejos comuns se sobrepõem aos desejos pessoais, aos interesses individuais. E eu senti que precisava de meu espaço”, explica. Segundo Titico, hoje ele mantém com a ex-esposa uma relação de ‘grande amizade, legítima, onde um se preocupa com o outro sem aqueles sentimentos de posse que aniquila aos poucos a relação.’ “Desapareceu ciúme, obrigações, sentimentos que servem apenas para ir destruindo o que um sente pelo o outro. Posso dizer que ficou entre nós um sentimento de grandeza, de cumplicidade e reciprocidade. O melhor é que nossos filhos já entenderam e hoje veem com mais naturalidade a individualização da relação”, resume. Para Titico, o mais importante é o aprendizado que fica em cada experiência vivida. E para que ele não pare, seu maior desejo é o de continuar trabalhando, ocupando a mente e transmitindo sua experiência para as novas gerações. “Quero morrer trabalhando, aprendendo e ensinando”, descreve.

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