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MEIO SÉCULO DE AMOR.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 29 de out. de 2015
  • 6 min de leitura

MARIA DAS GRAÇAS DIÓGENES

Graça Diógenes nasceu no Sítio Camponesa, município de Umarizal, no dia 07 de agosto de 1948, filha de Agábio Diógenes Pessoa e Mafalda Gurgel Diógenes. É uma vencedora desde então, pois é a mais velha dos cinco filhos que ultrapassaram a barreira dos sete meses de gravidez. Oito não conseguiram, pois a mãe tinha um problema de má formação no útero que fazia com que todos os seus partos fossem de risco. Dos quatro irmãos, os dois homens hoje moram em Pau dos Ferros, enquanto as duas irmãs moram em Natal. No Sítio, Graça morou até os oito anos, época em que estudava com a própria mãe. Depois sua família residiu nas cidades de Umarizal e Pereiro/CE, até chegar a Pau dos Ferros, quando a menina tinha 12 anos. Terminou o Normal Colegial em 1970, quando fez o concurso para o Estado e se tornou professora do ensino fundamental. Antes, em 1966, casou com Sebastião Diógenes Pessoa, um primo legítimo que morava no outro lado da cidade, na Fazenda Boa Vista, de seu pai, distante cerca de quatro quilômetros da Fazenda Recreio, do pai de Graça. “Nos três anos em que namoramos, a maioria das vezes, ele vinha de cavalo atravessando a cidade”, relembra. Ao casarem, foram morar em uma casa no centro de Pau dos Ferros, onde tiveram seus três filhos: Sedma Cristina, hoje com 48 anos; Expedito, 45 anos; e Everton, 43 anos. Chegou uma hora que para poder cuidar dos meninos Graça teve que deixar de ensinar no município, ficando apenas com o estado, e no horário intermediário, das 11 às 14:30h, que durante um bom tempo existiu na rede pública para dar conta da demanda de alunos.

EMOÇÕES E DESAFIOS – Quando estava grávida de Expedito, Graça descobriu finalmente a razão de certas atitudes da filha Sedma, que parecia estar sempre alheia a tudo, com dificuldades de entendimento das coisas e não falando uma palavra. Uma prima desconfiou e disse a Graça que colocasse Sedma de costas e batesse em panelas. “Chorei muito quando vi que ela não teve nenhuma reação. Minha filha era surda. Fiquei desesperada com a constatação, a levando de imediato para Natal”, conta. Na capital, os médicos foram diretos, afirmando que nada podiam fazer. Anos depois, quando esteve em Natal o navio-hospital americano SS HOPE*, Graça soube que devido à consanguinidade dos pais, possivelmente 70% de seus filhos teriam alguma deficiência. Na família Diógenes, já era tradição os casamentos entre primos, mas o caso de Sedma voltou a alertar a todos sobre os riscos que se corre neste caso. Logo que Expedito nasceu, Graça fez de imediato os barulhos necessários para sentir a reação de seu segundo filho, não sabendo dimensionar a alegria de vê-lo reagir normalmente a cada som. Agora ela poderia dar suas aulas com um pouco mais de alegria e despreocupação, pois saber que seu filho não precisaria de tanta atenção como Sedma, já era um grande alívio para ela e para sua mãe. Mafalda sempre foi sua parceira na criação dos meninos, garantindo na maior parte dos 32 anos de Graça em sala de aula as condições mínimas para um bom desenvolvimento de seu trabalho, pois cuidava dos netos com muito amor. Em 1972, chega à família o terceiro filho, mas Everton não reagiu da mesma forma que Expedito aos barulhos da mãe. Eles não chegavam aos seus ouvidos. De pronto Graça afirmou: é surdo como Sedma. Ali ela sabia que sua missão estava sendo duplicada, mas que precisaria de muita força interior para superar todas as adversidades. “Eu tinha 24 anos e dois filhos surdos para construir minha vida e fazer parte da vida deles infinitamente, incondicionalmente. Não entendia as razões para tamanha provação, mas sempre fui valente, jamais pensei em fugir dos meus desafios, muito menos com meus filhos tão queridos e bem vindos”, afirmou.

A LUTA SE AMPLIA COM O FIM DO CASAMENTO – Em 1975, os pais de Graça vieram morar em Mossoró e como Sebastião era assistente de seu Agábio, também trouxe Graça e os filhos para cidade maior, que daria, inclusive, mais condições para que eles tivessem uma vida mais completa e saudável. Era o governo de Cortez Pereira e seu Agábio assumiu a condição de chefe de Vila na recém-criada Serra do Mel. No entanto, pouco mais de um ano depois, Sebastião demonstrava insatisfação com sua vida, bebendo e não se sentindo capaz de contribuir na formação e orientação de seus filhos especiais, optando em retornar sozinho para Pau dos Ferros. A relação se desgastou ao ponto de dois anos depois não mais haver razões para se sentirem casados. Graça pôs um fim definitivo ao seu casamento, o que gerou mágoas ainda hoje abertas por parte da família do ex-esposo, falecido em 1986, em consequência da cirrose, doença crônica que afeta o fígado. “Não pude ir ao seu velório, pois a família não aceitou minha presença. Mas quando vi de longe seu sepultamento, um filme de nossas vidas passou em minha cabeça. Era algo escrito, que tinha que acontecer, eu o amava muito e não poderia fugir do meu destino. São missões que temos que cumprir na Terra, assim como é a minha com meus filhos”, acredita Graça. Sua sorte é que sempre contou com seus pais, que enquanto vivos amaram sem medidas os netos especiais, da mesma forma como os demais nove com quem puderam conviver. Por morarem na casa vizinha a de Graça, Agábio e Mafalda deram o conforto necessário para que ela pudesse decidir sua vida tendo como prioridade a atenção e o cuidado para com seus filhos. Ele foi parceiro até 1991, quando faleceu de trombose, e ela até 2012, por problemas naturais de uma idade avançada. “Passei a ser a provedora da casa, responsável em dar aos meus filhos as condições para que tivessem tudo que fosse possível, não se sentindo menores. Contei para isso com o carinho, compreensão e solidariedade de irmão que sempre Expedito demonstrou”, revela. Filho que já lhe deu dois presentes grandiosos em sua vida: os netos João Victor, 10 anos, e Maria Tereza, de apenas 2 meses.

A VIDA QUE SEGUE, SEMPRE – Em Mossoró, Sedma e Everton puderam ter as condições de um bom desenvolvimento através de instituições como a APAE e o Centro Regional de Educação Especial. Nelas, os cuidados eram constantes e intermináveis, segundo Graça. Por usarem óculos desde os três anos, e todos os anos terem que trocar devido não mais servirem, Graça desconfiava que eles também teriam problemas graves na visão. Quando tinham mais de vinte anos, ela ouviu a exata explicação: sofriam de Retinose Pigmentar, doença hereditária que causa a degeneração da retina. “Com o passar do tempo, víamos que eles batiam em cantos dos móveis com mais frequência. Mas a constatação de que ficariam cegos me deu mais uma vez a sensação de que não conseguiria dar conta. Entrei em desespero e dirigi até minha casa me perguntando as razões de tanta provação”, lembra. Apenas cinco anos atrás eles dois perderam quase que 100% da visão. Em 1999, em uma viagem que Graça fez com a amiga Fábia Lúcia, da Droga Nossa, recebeu dela o convite para frequentar a Casa do Caminho, casa espírita que funciona no bairro Nova Betânia. “Foi lá onde obtive as primeiras respostas às minhas muitas indagações. Estudei o evangelho, o espiritismo, e comecei a entender as questões carmicas que influenciavam em minha vida. Ouvi que tudo aquilo era uma benção e eu tinha sido escolhida para passar por toda esta experiência. Fiquei tão aliviada”, explica. Durante toda sua vida, Graça não teve tempo nem disposição para ficar se maldizendo, chorando miséria. Diz que nasceu para sorrir, ser feliz, viver o que lhe for de merecimento. “São 48 anos de muito amor que dedico à Sedma, e 43 à Everton. Todo este tempo nunca dormi regularmente, pois eles não possuem a exata dimensão do tempo e, por isso, dormem e acordam muitas vezes em horários diferentes. O meu maior medo é de morrer, com pena de deixa-los, apesar de saber que meu filho e minha nora não os deixarão sós. O que eu não posso é me torturar com isso, pois estou convicta que tudo tem seu tempo e suas razões”, finaliza Graça.


* Obs: Ver detalhes sobre o navio SS HOPE neste link: https://ensinofotecufrn.wordpress.com/2012/11/28/passagem-do-hospital-flutuante-hope-em-natal-faz-40-anos/

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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