FRUTOS DO TALENTO E DA SUPERAÇÃO.
- obomdemossoro
- 27 de out. de 2015
- 6 min de leitura
JOSÉ WELINGTON FREIRE SANTANA
A vida nunca foi fácil para José Welington, mas nem por isso nunca lhe faltaram humildade e perseverança para lutar e superar as adversidades. No caminho do aprendizado, demonstrou paciência, conquistando seu espaço com talento e valores, sendo hoje reconhecido pelo que faz e admirado pela arte que aprendeu. Sua família morava na Vila São Paulo, Serra do Mel, quando Welington, caçula dos quatro filhos do casal José Felipe Santana e Maria Lucia Freire Santana nasceu em 18 de fevereiro de 1986. Com muitas dificuldades para sustentar a família e fazê-la sobreviver com o pouco que ganhava o pai, que além de trabalhar nas terras doadas pelo sogro também fazia serviços de pedreiro, acabou sumindo quando o menino tinha dez anos de idade. “Eu era o filho mais apegado, e senti muito a ausência dele no começo, até porque minha mãe ficou com toda a responsabilidade em suas costas. Hoje só sinto pena dele ter nos abandonado desta forma, e nunca mais ter dado notícias”, conta. Na terra em que vivia um assentamento do INCRA, cada família, possuía 10 carreirões de cajueiros, cada um com 250 metros. “O que se colhia, na safra, só dava para entregar na mercearia para pagar o que a gente estava devendo do alimento já consumido. Tínhamos que produzir carvão e trabalhar em outras terras colhendo castanhas para ter ao menos um pouco de dignidade”, lembra Welington. Ele estudou no colégio da Vila São Paulo todo o ensino fundamental, mas devido às safras de castanha, já vivendo só ele e a mãe, pois os irmãos já tinham vindo para Mossoró, ele tentou cursar o ensino médio cinco vezes e não conseguiu. “Começava, indo no transporte escolar para Vila Brasília, e quando chegava à safra tinha que ir apanhar castanha de madrugada, ficando sem condições de continuar o ano letivo”, explica.
A VINDA PARA MOSSORÓ E O ABANDONO DAS TERRAS – As limitações financeiras, apesar do grande esforço desprendido para o trabalho braçal, não dava espaço para luxo algum. Roupas novas era uma raridade, conforto quase nenhum na pequena casinha de poucos móveis. O que Welington e a mãe conseguiam recolhendo castanhas era algo em torno de R$ 5,00 a R$ 10,00 por dia, com o latão cheio ao preço de R$ 0,45. Em 2006 também Welington deixou sua mãe, que passou a morar com o pai e uma irmã, até que anos depois o pai morreu e a irmã foi morar em Tibau, não deixando alternativa para dona Maria Lucia do que também vir para Mossoró, abandonando de vez a terra, abrindo um vazio no peito que a fere até hoje. Cada um de seus irmãos tomou seu próprio rumo: Francisco Junior é padeiro em Mossoró; Rodrigo voltou para Serra do Mel e vende frango, espetinho e é apicultor na Vila Brasília; e a irmã Renê Agda casou, possui uma lanchonete e trouxe a mãe para morar com ela e sua família. Welington ficou em Mossoró por acaso, não foi uma decisão planejada. Veio para assistir o show de Zezé de Camargo e Luciano no Mossoró Cidade Junina de 2006, com a roupa do corpo e R$ 10,00 no bolso. O dinheiro gastou comprando um ‘Capeta’ antes do show, uma mistura de Vodca, frutas e sabe-se lá o que mais que deixa qualquer um pronto para uma boa noitada. Após o show, os irmãos Junior e Rodrigo o convenceram a ficar na cidade para trabalhar na obra em que estava um condomínio de casas no Alto da Pelonha. Durante uma semana, até chegarem às roupas e a rede que sua mãe iria mandar da Serra do Mel, Welington dormia no chão, com os sapatos de travesseiro, e andava de pés descalços. O emprego prometido não se concretizou, e ele acertou em pelo menos ficar cozinhando para a turma em troca das refeições diárias. Após passar um mês morando na obra, sem nada ganhar, resolveu procurar sua irmã e pedir para morar um tempo com ela. “Foi um período difícil, pois passei seis meses em sua casa sem poder ajudar em nada, pois não havia arranjado emprego, e sempre ouvindo dela as dificuldades. Sentia-me mal por isso”, conta.
O TRABALHO ASSALARIADO CHEGOU A SUA VIDA – Certo dia, um caminhoneiro conhecido chamou Welington para viajar com ele distribuindo sacos de 50kg de farinha de trigo pelo interior do estado. Serviço de cabeceiro. Saíram de tarde e só chegaram no dia seguinte, passando à noite na boleia do caminhão. Ele só aguentou um dia de trabalho, pois chegou com o pescoço inchado do peso dos sacos, mas feliz por ter ganhado pela primeira vez na vida um dinheiro pelo seu trabalho. “Foram R$ 40,00 que comprei todo de alimento para casa de minha irmã, até para pagar um pouco do que já havia consumido”, lembra. Pouco depois, Welington conseguiu um emprego de servente em uma empresa de construção, e teve sua carteira assinada pela primeira vez. Passou nove meses nesta empresa e mais quatro na empresa seguinte do mesmo ramo. Juntou um dinheirinho e comprou uma bicicleta. Ela serviria muito para Welington ir trabalhar e namorar com Elis Regina, uma ex-colega de colégio. Andou 100 metros com a bicicleta nova para testar, e seu irmão pediu para ir trabalhar nela. Bondoso, Welington emprestou. Mais tarde a notícia: o irmão encontrou um conhecido da Serra do Mel que pediu para dar uma volta na ‘bike’ e até não voltou. Coisas da vida. Melhor que o namoro com Elis Regina estava caminhando bem. Eles se reencontraram no Mossoró Cidade Junina de 2007 e começaram um relacionamento que se transformou em casamento em novembro de 2009. Dele nasceu Emilly Lauany, hoje com 3 anos. No ano anterior, quando trabalhava na segunda construtora, Welington ia quase todos os dias no supermercado Queiroz do Alto de São Manoel para saber se tinha alguma vaga de emprego, incentivado por amigos que lá trabalhavam. No dia 28 de agosto de 2008, finalmente, seu sonho de colocar a farda do Queiroz se concretizou. Foi contratado para o setor de hortifrúti, para fazer a reposição dos produtos. A estabilidade no emprego deu a Welington a confiança necessária para demonstrar suas qualidades como homem e profissional sério e dedicado. Em 2014, foi convidado para ser o encarregado do setor de açougue, cargo que ocupa até hoje. “Segundo a gerência, eu tinha a capacidade de liderar, responsabilidade e habilidade no tratar com as pessoas. Mas sempre tive claro comigo que em um ambiente de trabalho, devemos ser antes de amigos, profissionais, pois os serviços precisam ser realizados com toda seriedade”, resume.
A ARTE EM FRUTAS – Esta ascensão profissional já bastaria para que sua esposa, mãe, irmãos e amigos o vissem com orgulho. Mas um fato novo viria a enriquecer ainda mais a vida de Welington. Durante a abertura do novo prédio do Supermercado, em 2012, uma equipe de decoração foi trazida de fora de Mossoró para cuidar de todos os detalhes da festa de reinauguração. Alguns funcionários da loja foram escolhidos para ajudar esta equipe, e Welington foi um deles. Uma mesa de frutas foi produzida e pela primeira vez ele se deparava com a arte de esculpir frutas como melão e melancia. “Fiquei maravilhado com aquilo. Logo me interessei em adquirir as ferramentas necessárias para também fazer aquela arte. Mas eram caras. Então mandei produzir minhas próprias, com a ajuda de meu irmão Junior. Eram facas especiais de bico reto, longo e fino”, conta. Mas foi apenas em 2014, quando Welington conseguiu adquirir seu primeiro computador, que começou a pesquisar sobre esta arte na internet e ganhou o estímulo para produzir. Fez seu primeiro desenho em um melão: uma rosa, que mostrou aos colegas de trabalho e toda sua família. Não faltou incentivo para que ele continuasse a fazer mais. Com a ideia da loja em fazer todos os sábados o café da manhã para seus clientes, Welington passou a decorar as mesas de frutas com sua arte, e ganhar uma maior projeção em Mossoró. Hoje, muita gente o procura para fazer algum trabalho para aniversários ou eventos especiais, como o feito para a festa cigana do Vale do amanhecer neste último final de semana. A expectativa de Welington é poder continuar aprimorando sua arte para participar de campeonatos pelo país. Mas sem que isso prejudique seu trabalho fixo, que é o que garante o sustento de sua família. Talento não lhe falta, e fé muito menos. Desde 2011 é membro da Assembleia de Deus, onde todos já o conhecem e admiram sua história de superação. “Estou feliz em ter conseguido o reconhecimento e a admiração a partir do meu trabalho, fazendo algo tão valioso para as pessoas”, afirma. Para os que desejarem conhecer ainda mais a arte em frutas de José Welington, pode fazer contato pelo Oi (9) 8774-2069, ou mesmo acessar sua página no facebook para conhecer um pouco mais do que ele já produziu em melões e melancias: https://www.facebook.com/jose.welington.756?fref=ts

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