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TU QUE ANDA PELO MUNDO... 1ª parte

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 23 de out. de 2015
  • 4 min de leitura

JOSÉ WILSON DA COSTA (SABIÁ DA COSTA)

Era um domingo de carnaval, dia 24 de fevereiro de 1963, quando dona Terezinha Oliveira da Costa deu a luz ao seu terceiro filho. Ao som de todos os instrumentos, que faziam a alegria de um povo festeiro, nascia José Wilson da Costa, mais tarde batizado com o nome artístico de Sabiá da Costa. “Nasci no Rabo da Gata, próximo a Rua Chapéu Gagado, hoje Rua Chateaubriand, uma região fronteiriça dos bairros Nova Betânia, Doze Anos e Boa Vista, lugar de movimento eclético, aonde só vinha que tinha aqueles negócios obscuros, tempo em que o Forró da Creuza era a coqueluche da sociedade provinciana de nossa Mossoro”, resume Sabiá, no seu estilo harmonioso e sábio. “O meu presente é um futuro que no meu passado nunca havia imaginado. E começa no dia em que acordei e vi cinco pães em nossa humilde mesa, com doze pessoas para serem alimentadas, meus pais e seus dez filhos. Vi aqueles pães serem transformados em dez, mas minha anatomia precisava de mais do que aquele meio pão, e fui para rua buscar o que faltava”, recorda. Aos doze anos Sabiá se transformou em um menino de rua, fascinado pelos ensinamentos daquela atmosfera livre. Sem donos ou correntes, viu o que não via em casa ou na escola: brigas, namoros, exploração do rico ao pobre, do filhinho de papai à menina prostituida pela vida, do dono de carro ao flanelinha desamparado, que tinha na bebida sua paz diária. “Eu era da rua e na rua fiz minha escola de vida. Uma escola de uma sociedade doente, de uma casta que não queria se misturar, mais que buscava nos mais humildes, nos que nada possuíam, os prazeres de uma vida mundana”, relata.

ASSOBIANDO, GANHOU O SEU NOME ARTÍSTICO – O pai de Sabiá era um jogador de futebol que fez sua vida profissional como artesão de mosaico, o melhor de Mossoró. Pedro Jerônimo da Costa, hoje com 83 anos, jogou muitos anos no Potiguar. Dizia que se jogador fosse profissão precisaria fazer vestibular. ‘Nunca foi expulso de uma partida, era um gentleman no campo de futebol’. Estudou cores, cal e cimento para viver de uma arte que era para poucos: fazia em torno de 15 metros quadrados de mosaico por dia, de forma artesanal. De tão habilidoso, ajudou a fundar as principais fabricas do setor em Mossoró, cada uma no seu tempo, de Quincas Moura, Zaude Heronildes e Sr. Diógenes. Pedão aposentou-se desta atividade, e hoje tem uma ‘Praça’ com o seu nome no quintal de sua própria casa. A mãe Terezinha hoje tem 80 anos e se orgulha de ter sido uma das primeiras mulheres negras, empregada doméstica, lavadeira de roupas, com pouco estudo, a ter um filho formado agrônomo na ESAM: José Maria da Costa, o mais velho. “Ele estudava sob a luz de lamparina e tirava as dúvidas da agronomia com minha mãe, que tinha larga experiência na roça”, descreve Sabiá. Através de Carmelita Régis, dona Terezinha entrou para o governo do estado e durante 25 anos trabalhou como merendeira no Instituto Presidente Kennedy. Enquanto a vida corria para todos, a de Sabiá estava sendo escrita com sutileza e minucias espirituais que poucos irão entender. Vendia jornal, engraxava sapatos, lavava carros. Estudou até a quinta série, mas antes já tinha ido à luta. Aos sete anos começou a trabalhar no armazém de sal de Raimundo Alves, e lá tinha um senhor chamado Doca que lhe vendo chegar da Praça dos Pássaros assobiando, colocou-lhe o apelido de Sabiá. Todo mundo passou a lhe chamar de Sabiá e isto o estava deixando louco da vida. Até que um dia, passando em frente à Igreja São José, 18 hs, ouviu a música ‘Ave Maria’, cantada por Luiz Gonzaga. Logo em seguida, começou a tocar ‘Sabiá’, outra faixa deste mesmo disco do Rei do Baião: ‘Tu que andas pelo mundo (sabiá)/Tu que tanto já voou (sabiá)/Tu que cantas passarinho (sabiá)/Alivia minha dor/Tem pena d'eu (sabiá)/Diz por favor (sabiá)/Tu que tanto anda no mundo (sabiá)/Onde anda o meu amor/Sabiá.’ “Identifiquei-me totalmente com aquela música que nunca tinha ouvido antes. A partir daquela noite, passei a me sentir um verdadeiro Sabiá”, conta.

O MUNDO PASSOU A SER SUA CASA – Tinha 15 anos quando certo dia Sabiá saiu de casa para cumprir compromisso na casa de Dr. Leodécio Néo: engraxar seus sapatos e lavar o carro da família. O Dr. foi verificar o serviço e viu um livro de história na lata de óleo que Sabiá utilizava para lavar o carro. Entrou em casa e perguntou a esposa: ‘Maria Luiza, este menino estuda?

A partir daquele momento Dr. Leodécio disse a Sabiá que ele não iria mais precisar lavar carros. O levou para Natal e durante três anos o empregou como seu assessor direto, tanto para os serviços no Instituto da Previdência do Estado (IPE), no qual era o Presidente, como durante sua campanha para Deputado Federal, em 1982. Neste tempo, Sabiá estudou no Colégio Marista e jogou basquete, ganhando assim o status de ex-aluno Marista, que abriu portas em muitas cidades brasileiras nos anos posteriores, quando fez seus roteiros de viagem em busca do que não conhecia.

“Uma tarde em Natal tive um pressentimento. Fui ao supermercado e fiz uma compra enorme. Peguei o ônibus e vim parar na casa de minha mãe, em Mossoró. Quando cheguei não tinha nada para comer em casa. Desde esse dia ela me chama de melhor amigo dela”, conta Sabiá.

Aos 18 anos, ele resolveu iniciar uma nova etapa em sua vida. Se despediu de seu companheiro Dr., que havia lhe dado uma oportunidade de ouro da qual é eternamente agradecido, e ganhou o mundo. Quis também rever seus amigos de rua que tanto o ensinaram e o divertiram em épocas difíceis: Jorge Guerreiro, Luís Dorme Sujo, Zé Galinha, Zé do Lubim, Edilson Sabugo, Bibao, Pé Podre, entre outros. Sabiá precisava voar.

A música já fervilhava sua alma desde que conheceu e tocou com Valdemar dos Pássaros e Concriz, nas praças de Mossoró, e Luisão, que o levava para tocar surdo nos cabarés, circos e grupos carnavalescos, como ‘Os Baraúnas’. “Apaixonado por som, experiente nas ruas e sem me preocupar com fronteiras geográficas, passei a viajar pelo Brasil, pesquisando sons, formando meus ouvidos, sendo guiado pelos bons espíritos de luz que nunca me abandonaram”, conta Sabiá.


Obs.: A 2ª parte da história de Sabiá da Costa será publicada à tarde, no O BOM DE MOSSORÓ.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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