‘TENHO AMOR PELO TARCÍSIO MAIA.’
- obomdemossoro
- 22 de out. de 2015
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RITA ELITA RODRIGUES GOMES
Agora em outubro, Rita Elita completou 24 anos de serviços prestados ao Hospital Regional Tarcísio Maia. Após todo este tempo, o que ela poderia dizer do seu local de trabalho, constantemente alvo de críticas por parte da imprensa, de autoridades políticas e da própria sociedade? “Tenho amor pelo Tarcísio Maia”, responde ela. A mesma resposta da grande maioria dos funcionários que, diariamente, está a postos esperando a chegada, a todo instante, dos inúmeros pacientes com suas dores e sofrimentos, sejam de Mossoró, sejam das inúmeras cidades oestanas ou até mesmo paraibanas e cearenses que para ali recorrem sem maiores cerimonias. “Trabalhar no Tarcísio Maia é muito bom. Apenas fico triste quando vemos a falta de reconhecimento por parte da sociedade em relação ao grandioso trabalho que é feito aqui. Falhas existem, atendimentos que algumas vezes não correspondem às expectativas, medicamentos que uma hora ou outra acabam, mas é preciso lembrar que até mesmo em nossa própria casa existem os problemas. Não é pelo fato de ser público que o Tarcísio Maia deva ser desrespeitado”, defende Rita.

DA GUARARAPES E DOS CAMPOS DE FUTEBOL NOS BAIRROS – Rita Elita nasceu em Mossoró no dia 08 de fevereiro de 1949, filha de João Abdon Rodrigues, um misto de pedreiro e agricultor, e Luzia Elita Rodrigues. O casal teve apenas duas filhas, Antônia Elita, hoje aposentada e mãe de cinco filhos, e nossa protagonista nesta história. Rita estudou até o 5º ano na Escola Ambulatório José Pereira Lima, uma escola pertencente à igreja Nossa Senhora da Conceição, que também disponibilizava serviços na área de saúde. O ensino fundamental terminou no Estadual, enquanto o médio fez apenas até o segundo ano, quando cursava técnico de contabilidade na escola estadual Elizeu Viana. Nesta época, já trabalhava na fábrica Guararapes e também engravidou, deixando os estudos em definitivo. Antes, e durante cinco anos, trabalhou para esta mesma igreja do bairro onde morava, sempre sem carteira assinada, até que decidiu pedir emprego na fábrica de roupas, sendo aprovada para ficar no setor de retoques, passando ferro nas roupas que seriam embaladas para venda. Logo no primeiro dos três anos que por lá passou, em 1976, casou com Francisco de Assis Gomes, para ela Didi, com quem namorava havia oito anos. Conheceram-se nas barracas da Festa de Nossa Senhora da Conceição, e por muitos domingos Rita e sua turma se divertiram assistindo os torneios de futebol dos bairros para acompanhar o desempenho de Didi, que jogava pelo time dos Pereiros, onde morava. “Íamos a pé para assistir os jogos que movimentavam toda a cidade. Tinha campo de futebol por todos os lados: Papoco, Aeroporto, Boa Vista. Era nossa diversão, sem drogas, sem violência”, lembra. Após dois anos de noivado, Francisco, que trabalhava em uma fábrica de mosaicos, decidiu que era hora de assumir seu compromisso com Rita. Durante dois anos moraram no Alto do Xerém, até Rita receber sua casa pela COHAB no Abolição 2, onde moram até hoje., e onde criaram os três filhos: Márcio Christian, bancário; Eva Cristina, formada em Letras, professora de Espanhol e estudante de Direito; e Roberto Rodrigues, enfermeiro e agente de saúde.

VIDA DE DIFICULDADES, MAS DE MUITA FÉ – O tempo que Rita não esquece foi quando Didi ficou desempregado. Foram 20 meses de preocupações, inclusive, sem pagar a prestação da casa, o que a fazia conviver com o drama da ameaça de perder para COHAB aquele único bem material da família. “Desesperada, sem condições de negociar à dívida, tinha muito medo de ter a casa tomada. Nesta época íamos de bicicleta todos os dias, eu, Didi e as duas crianças, para nos alimentar na casa de meus pais, no Alto da Conceição”, revela. A história começou a mudar devido à falta de leite que estava afetava toda a cidade. Em busca do produto, Rita saiu a pé na direção do bairro Boa Vista para ver se encontrava. Foi quando reconheceu uma amiga das antigas e conversaram sobre a vida. Carminha ouviu as dificuldades e prometeu conversar com seu esposo Josimar, que trabalhava na fábrica de cimento Itapetinga sobre a situação de Didi. Para surpresa de Rita, logo no outro dia, pela manhã, Josimar bate na casa de sua mãe chamando Didi para ser vigilante na fábrica. Neste emprego Didi passou 24 anos e pôde ganhar o direito de se aposentar. Sempre esperançosa e com muita fé, Rita Elita não se acomodou com a estabilidade do marido e foi à luta. Em 1991, fez e passou no concurso do Estado para o cargo de ASG. Na época já estava com 42 anos e viu com muita alegria a estabilidade financeira, finalmente, chegar à sua vida. Mas não foi tão fácil como podemos imaginar. Durante meses Rita se deslocou a pé do Abolição até a Regional de Saúde para saber quando iria ser chamada para trabalhar. A carta para que ela se apresentasse nunca chegava a sua casa e na Regional a má vontade dos funcionários tinha sempre a mesma resposta: ‘não saiu seu nome ainda no Diário Oficial.’ “Eu já estava sem forças, sem saber a quem recorrer, quando vi na Regional Lázaro, um amigo da liturgia da igreja Nossa Senhora de Fátima. Falei minha situação e ele se dispôs a esclarecer o que estava acontecendo. Foi quando viu que meu nome já havia saído no Diário Oficial fazia dez meses”, conta. Rita foi então falar com o diretor da Regional, na época Dr. Leodecio, que de pronto mandou uma funcionária resolver a papelada junto à Natal, lhe orientando que em dois dias voltasse para saber o resultado, já que para algumas pessoas diziam a Rita que ela já havia perdido o direito de ser chamada. Para sua indescritível alegria, o próprio Dr. Leodecio fez questão de lhe dar a notícia de que já estava lotada no Hospital Tarcísio Maia. A mãe chorava, a vizinha Erismar foi pagar uma promessa que havia feito, enquanto Didi e seus filhos faziam uma festa com Rita pelo sucesso alcançado. “Foi um dos dias mais felizes de minha vida”, confessa Rita. “Fiz aquele concurso levada pela necessidade mas acreditando que poderia passar, pois gostava de ler, tinha minha base do curso de contabilidade e a fé inabalável em Deus”, relata.

NO BATENTE E NA ALEGRIA DE SERVIR – Durante sete anos Rita trabalhou no setor de limpeza do Tarcísio Maia, passando pelos corredores, clínicas, pronto-socorro, centro cirúrgico, centro obstétrico, UTI, até chegar à área administrativa. Em 1998, aproveitou 15 dias de suas férias e fez um curso de Auxiliar de Administração oferecido pelo próprio Governo do Estado com o objetivo de melhor capacitar seus funcionários. Foi o que faltava para ser aproveitada em um setor que lhe exigiria menos esforço físico. Foi relocada para a Farmácia Satélite do hospital que havia sido criada a pouco tempo. “Agradeço até hoje à diretora administrativa da época, Milena Pinto, que viu minhas potencialidades e me deslocou para assumir a distribuição de medicamentos para o pronto-socorro”, Registra. Para Rita, que também faz parte do coral Canto e Saúde, formado por funcionários do hospital, boa parte das criticas e reclamações que o Tarcísio Maia recebe provém da própria condição humana. “É da natureza humana reclamar, ainda mais quando a pessoa está impaciente, em uma situação de preocupação, carência e angustia. Mas é bom dizer que enquanto tem gente que esbraveja, diz que vai para imprensa denunciar algo, tem aqueles que agradecem o atendimento e elogiam o esforço e dedicação dos profissionais. Reconhecem que triste seria se não existisse o Tarcísio Maia, pois ele acolhe a todos, em todos os momentos”, descreve. Ela que muitas vezes se deslocou de casa a pé ou de bicicleta para trabalhar, diz que quando ver algum paciente reclamando do Hospital lembra logo as dificuldades pelas quais passou em sua vida e que lhes serviram de ensinamento. Lembra os milhares de pacientes que foram salvos graças à dedicação e amor de muitos funcionários do Tarcísio Maia. “Ficamos velhos ligeiro se não tivermos amor no coração, se não amarmos aquilo que fazemos e quem realmente somos. Hoje já penso como será no momento em que me aposentar. O que farei sem estar aqui, respirando este clima de tanto corre-corre, mas que nos dá tanto prazer. Sei que fará muita falta em minha vida, pois tenho amor por meu Tarcísio Maia”, descreve emocionada Rita Elita.

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