UMA ‘LINDA’ LUTADORA ‘LEE’.
- obomdemossoro
- 17 de out. de 2015
- 7 min de leitura

LINDA LEE ELENILZA DA SILVA
Quando Linda Lee nasceu em Mossoró, dia 28 de outubro de 1988, seu pai, Francisco Arlindo da Silva, era instrutor de karatê, e quis homenagear Bruce Lee, considerado o melhor lutador de artes marciais do mundo no século 20. Sua mãe não podia reclamar de nada, já que o restante do nome da sua primeira filha ficou sendo o seu: Elenilza da Silva. Hoje seu Arlindo esta na atividade de gesseiro, fazendo serviços autônomos enquanto busca um emprego fixo para lhe dar mais tranquilidade. A mãe toma conta da pequena mercearia na sala de casa, na Vila Maria, bairro de Santo Antônio. Os outros dois filhos, Francisco, auxiliar de automação, e Lindacy, gerente na lojinha de roupas da família no mercado do Bom Jardim, também moram com eles. Linda Lee estudou nas escolas municipais Cunha da Mota, no antigo Municipal e concluiu o ensino médio na escola estadual Professor Abel Coelho. Seu primeiro trabalho foi na creche Vovó Ester, no Nova Betânia, na função de auxiliar de berçário, onde passou dois anos. Como muitos alunos da creche eram filhos de funcionários da UNP, ela soube que sempre surgiam vagas de trabalho naquela instituição de ensino, e foi orientada a deixar seu curriculum por lá. Foi assim que, em 2009, Linda Lee acabou selecionada para trabalhar como auxiliar no laboratório de parasitologia da UNP. No momento está de benefício junto à previdência social, devido um fato em sua vida que iremos começar a contar a partir de agora.

O ESTIGMA EM RELAÇÃO À PALAVRA ‘CÂNCER’ – A vida de Linda Lee caminhava normalmente girando em torno do trabalho, da casa e das festas que adorava frequentar para dançar muito. Sem nenhum vício, a bebida era sempre muito pouca, o que lhe animava mesmo era o som do forró ou do pagode, seus ritmos preferidos, apesar de que para ela tudo que tocasse era motivo para mexer o corpo. “Nós sempre gostamos do que é proibido. Como toda minha família já era evangélica, ir às festas nunca era de consentimento fácil por parte de meus pais. Apesar de entender, eu geralmente não aceitava as constantes negativas”, lembra. Apenas quando começou a ganhar seu próprio dinheiro, ficou mais fácil convencer os pais a liberá-la para as diversões comuns à sua idade. Muito ajudou o namoro que manteve por quatro anos com um rapaz a partir dos seus 15 anos, que para ela deixou boas experiências e amadurecimento. Hoje é noiva de Clesio Geovanaldo, funcionário de um posto de combustível e com quem mantém planos de casamento. “Já estamos namorando há mais de um ano e ele se tornou um dos principais pilares de minha vida, sempre ao meu lado, em todos os momentos que preciso estar com alguém”, ressalta Linda. Esta vida normal, no entanto, encontrou em outubro de 2011 com uma nova e inesperada realidade. Incentivada pela campanha do autoexame das mamas denominada de Outubro Rosa, ela foi orientada pela enfermeira Keylane Cavalcante a fazer um exame preventivo de toque. Foi quando a enfermeira sentiu um nódulo e recomendou uma ultrassonografia. Detectado o tamanho de cerca de 1cm a orientação foi para um procedimento cirúrgico. “A ideia que me ficou do mastologista que procurei foi a de que ele estava mais preocupado com o valor da cirurgia do que com o meu tratamento adequado”, acusa Linda. “Ele nem passou o exame de Punção, que indicaria a agressividade do nódulo, e assim, saberíamos os riscos de uma possível metástase, e nem citou em nenhum momento o nome ‘CÂNCER, que me alertaria para a verdadeira dimensão do problema. Se eu soubesse logo que se tratava desta doença, teria procurado de imediato a Liga do Câncer em Mossoró”, conta.

INICIOU SUA VIA CRUCIS EM BUSCA DA SAÚDE – Depois de uma negociação difícil em relação aos valores do procedimento, foi feita a cirurgia de retirada do nódulo com este médico particular. Dois dias depois que estava em casa, Linda sentiu seu seio inchado e febre no corpo. O médico então disse que era uma reação normal, passando medicação para evitar os incômodos. No dia 02 de fevereiro de 2012, quando chegou o resultado da biopsia, o médico olhava para Linda Lee e dizia: “Você não pode ter este resultado aqui, pois é muito nova.” Preocupada, Linda de pronto perguntou: “Que resultado doutor? Era Carcinoma Ductal Infiltrante, ou seja, o tipo mais comum de CÂNCER de mama, mas com a delicada situação de já ter rompido o ducto inicial e atingido os tecidos em volta, por isso o Infiltrante. Finalmente ela tinha ouvido que estava com CÂNCER, no entanto, segundo ela, o médico, constrangido, continuou a errar, sugerindo que ela fosse para outro médico amigo seu em Recife ao invés de encaminhar logo para Liga de Mossoró. Aquela notícia abalou de um jeito que a reação de Linda e de sua acompanhante, a vizinha Francisca Andrade, foi de completo desespero. Francisca foi rezar e Linda foi chorar em casa. A mãe então lembrou a ela da profecia que tinha ouvido na igreja de que ela iria passar por um ‘Abismo’ muito grande, e que juntos iriam vencer. Linda pediu fé, força e coragem para enfrentar tudo que viesse pela frente. Procurou orientação profissional e foi encaminhada para Dr. Dênis na Liga do CÂNCER, em Mossoró. De imediato lhe foi indicada a retirada completa da mama, que Linda não aceitou. Foi então encaminhada para uma mesa redonda em Natal que definiu pela quadrantectomia, cirurgia que remove o CÂNCER, mas deixa a maior parte da mama, que ela fez em abril de 2012.

APOIO, AMIZADE, SOLIDARIEDADE – Após o procedimento, Linda foi encaminhada para oito sessões de quimioterapia, que foram realizadas na Liga de Mossoró. Um fator que ajudou muito para encarar as reações no corpo provocadas pelo tratamento foi a amizade que fez com a técnica de enfermagem Susy Soares, como ela, especialista em Bandas de Forró. Logo na primeira sessão realizada, não faltou assunto entre elas devido ter sido realizada no dia seguinte ao show de Garota Safada no Mossoró Cidade Junina. Já antes da segunda sessão, Susy a presenteou com o adesivo, copo personalizado e o novo CD do Forró dos Três. Tudo que Linda precisava para quebrar o clima pesado daquela realidade. Para as 33 sessões de radioterapia, Linda teve que fazer em Natal. Ficou na casa de Maria das Graças, tia de Eylha, uma amiga da UNP. Concluídas em fevereiro de 2013, um ano após a notícia do nódulo. Ainda devido ao tipo de CÂNCER detectado, ela foi indicada para tomar durante cinco anos o Tamoxifeno, medicamento que desestimula o crescimento das possíveis células cancerígenas. Em julho, porém, Linda sentiu um novo nódulo próximo de onde havia retirado o primeiro. Feito o exame de ultrassom e desta vez a punção, foi detectado que seria apenas uma lesão benigna, um tecido resultante da cirurgia. Dr. Dênis então aconselhou a retirada, o que foi feito em setembro. O problema é que em outubro, quando chegou a biopsia, o resultado trazia o que ninguém esperava: tratava-se novamente do temido CÂNCER. Desta vez, o mundo de Linda veio abaixo de verdade. Até então, todos os procedimentos ela vinha encarando com sofrimento contido, pois jovem, estava lhe dando com a situação da forma mais guerreira que fosse possível. Agora não, a doença estava lhe exigindo um amadurecimento ainda maior, e imediato. Uma nova mesa redonda foi convocada em Natal e nele foi decidida a retirada da mama por completo. Linda teve que aceitar, mas a ela foi garantida a Mastectomia com Reconstrução. Devido as constantes greves, a cirurgia só veio ser realizada em abril de 2014. Logo em seguida quatro sessões de quimioterapia e 25 sessões de radioterapia.

O ANJO ENVIADO DOS CÉUS – Em maio, um mês após a cirurgia, aconteceu um fato novo e alentador na vida de Linda que só mesmo os anjos de Deus para explicar. Ainda com pontos no seio e no abdome, lugar de onde foi retirado material para reconstrução da mama, ela pediu ao pai para ir se divertir um pouco no Bar Acapulco, no Alto de São Manoel. Foi nesta noite que conheceu o noivo. Geovanaldo a chamou-a para dançar e ela disse que não podia sem lhe explicar os motivos. Ele então se afastou. Era uma quinta-feira. Dois dias depois, no sábado, Linda foi para uma calourada no Ôba Restaurante, e por coincidência, até hoje inexplicável, lá estava ele a lhe chamar novamente para dançar. Diante de sua insistência, Linda teve que contar toda sua história ao que ele disse: “Então, já que não pode dançar, pelo menos pode beijar”. E tacou-lhe um beijo. Era uma nova companhia que surgia em meio a uma luta interminável, onde a solidariedade, a amizade e os sentimentos sinceros ganham dimensões ainda maiores. A nova queda dos cabelos passou a ser algo ainda mais difícil para Linda enfrentar, pois agora temia a reação do namorado. Mas o pior ainda estava por vir, quando após a terceira sessão de ‘quimio’ o corpo rejeitou a reconstrução realizada na mama. “Nunca baixei minha cabeça, em nenhum momento. Tinha que buscar forças para enfrentar todas as situações, até mesmo a retirada da reconstrução em agosto de 2014”, conta. Conviver com a falta de um seio era sua realidade. Jovem, se sentindo uma velha, teve que ter paciência para fazer os constantes curativos até a cicatrização completa da mama, antes de iniciar o tratamento de radioterapia, em dezembro. Neste intervalo, a equipe médica toma mais uma difícil decisão para nossa heroína. Com o objetivo de bloquear os hormônios, sugeriram a retirada dos ovários. Em março de 2015 foi realizada a Ooforectomia, mesmo procedimento que meses depois a atriz Angelina Jolie fez com todo o estardalhaço da imprensa mundial. Os sinais da menopausa antecipada deixaram Linda arrasada, com reações esquisitas e desagradáveis. Foi por isto que ela pediu para realizar novamente todos os exames, que ficaram prontos em agosto passado. O resultado? Desnecessário sabermos. O importante é que a jovem Linda Lee faz parte do Grupo das Poderosas criado na própria Liga de Mossoró por pacientes que enfrentam problemas parecidos com o dela. Pessoas que estão lutando pela vida dando força aos demais para enfrentar tudo, de todas as formas, com alegria e esperança. “Hoje minha fé em Deus aumentou e peço a Ele que me faça entender tudo isso. Quero realizar meus sonhos, mas estou com medo de não poder. Não posso me desanimar, sempre esperando que os medicamentos e tratamentos possam me dar o merecimento de ter minha saúde de volta”, admite Linda.
Obs: optamos em destacar a palavra CÂNCER em todo o texto para que a sociedade entenda que esta doença precisa ser encarada e combatida com toda fé e coragem, assim como tem feito nossa personagem Linda Lee.
Comments