EM UM CAFÉ, A INTERMINÁVEL BUSCA POR RESPOSTAS.
- obomdemossoro
- 16 de out. de 2015
- 4 min de leitura

FRANCINETE DE SOUZA ARAÚJO
Dos 24 filhos que o casal Francisco Ismael de Araújo e Maria Natividade de Araújo teve apenas oito se criaram. Alguns morreram no parto, outros bebês ou ainda crianças pequenas. Dos que venceram a batalha, sete continuam vivos, pois Aderaldo Ismael, o mais velho, que era proprietário da Eletro-Rádio na Avenida Augusto Severo e pilar de sustentação para seus irmãos, faleceu fazem oito anos. Entre eles está também Antônio Ismael, que acreditou em seu sonho e virou ator de novelas na Rede Globo, com livro a ser lançado em breve pela jornalista Lúcia Rocha. Já a mais nova, Francinete Araújo, trilha uma vida de luta e aprendizado, que O BOM DE MOSSORÓ conta a partir de agora. Sua infância foi no bairro Paredões, em uma casa humilde, mais que lhe oferecia condições de estudar, brincar com a turma que usava da criatividade para produzir seus próprios brinquedos e agradecer pela fase um pouco melhor que a família passava, comparando as dificuldades que seus irmãos haviam passado quando moravam em Assu, onde o pai fabricava tijolos. Já em Mossoró, seu Ismael continuou por um tempo aproveitando as margens do rio Mossoró para fabricar seus tijolos, mas também trabalhou em salinas e plantava milho e feijão em terras de posse em Alagoinha, onde hoje é o Abolição IV. Faleceu em 1994, deixando os filhos já encaminhados. Já dona Natividade, sempre forte e corajosa, se mantem firme aos 93 anos, lúcida e bastante religiosa, apenas tendo que conviver com a limitação de ter tido a perna esquerda amputada devido às diabetes. “Chegamos a achar que sua história de guerreira estava perto do fim. Já faz dez anos e todos os que a visitam ficam surpreendidos com seu vigor, saindo fortalecidos com a predestinação, fé e coragem de minha mãe”, conta Francinete. Além de sua mãe, moram com Francinete também seus dois filhos, Bernardo Araújo, estudante de Engenharia Civil, e Eduardo Araújo, estudante do ensino médio. Sua maior atenção atualmente, no entanto, está voltada para seu recém-empreendimento: um Café com proposta de valorizar trabalhos artísticos, culturais e literários, que abre espaço também para apresentações musicais e debates filosóficos.

A LIÇÃO DO MATRIMÔNIO – Francinete estudou nas escolas municipais Antônio Gomes, Circulo Operário e Cunha da Mota, concluindo o ensino fundamental na União Caixeral. No ensino médio fez o magistério no Centro Educacional Jerônimo Rosado. Logo em seguida, entrou em Pedagogia na UERN. Pouco antes, já havia se empregado na empresa Garcia Joias, do casal já falecido Severino Garcia e Norma Santana, onde passou em torno de seis anos. Em 1991, antes de concluir a universidade, casou com um funcionário do Banco Mossoró, com quem conviveu por 16 anos. “Foi um período de dificuldades, mas também de muito aprendizado e amadurecimento. Pude ver que não podemos mudar o mundo de acordo com aquilo que achamos ser o certo. Nem tudo é do jeito que a gente quer e não podemos ficar o resto de nossas vidas mergulhada em uma realidade que não nos faz bem. O fim do meu casamento foi doloroso, me deixando fissuras abertas até hoje, mas o tempo mostrou o quanto foi necessário”, resume. Durante boa parte do período em que esteve casada, Francinete trabalhou na empresa de ônibus Transal, na área administrativo-financeira. Também já estava na UERN, por onde atuou em diversas áreas, através de contratos provisórios. Esteve no Departamento de Filosofia, Recursos Humanos, Folha de Pagamento e, ainda, no Cerimonial da Reitoria. Em 2012, após a solicitação do Ministério Público junto à universidade para regularização do seu quadro funcional, Francinete acabou sendo desligada da instituição. Prevendo que um dia isto iria acontecer, já dava aulas de Educação Infantil para as turmas de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Durante três anos seu sustento veio desta fonte. Mas era um trabalho desgastante devido ter que dar suas aulas em vários municípios diferentes, enfrentando viagens até noturnas. Só para o leitor ter uma ideia, ela tinha turmas em Caicó, Santa Cruz, Venha Ver, Patu e Felipe Guerra. “Foi uma fase onde minha paciência e meu bom humor foram bastante testados”, revela.

AMBIENTE PARA REFLETIR SOBRE TUDO – Foi há pouco mais de um ano que a partir de sua vontade em ter o próprio negócio, e relatando este desejo para um amigo próximo, que deu inicio ao que hoje é o Rust Café. Jorge Natalício Koch, na época funcionário da Petrobrás na área de automação, colocou no papel o projeto e a convenceu que era possível realizar aquele sonho. Em outubro de 2014 foi iniciada a obra, em terreno cedido por sua cunhada Socorro Rodrigues. O próprio Jorge contribuiu com muitos detalhes, produzindo ele mesmo peças decorativas e artísticas que diferenciaram o ambiente. “Ele foi incluindo detalhes para que o negócio não só desse certo financeiramente como também fosse interessante para a mente e a alma de seus frequentadores”, conta Francinete.Em fevereiro, ela deixou definitivamente a UVA e se dedicou exclusivamente ao novo negócio, aberto no dia 30 de abril. “Tudo mudou em minha vida. Percebi no Rust como pecamos em sermos egocêntricos natos, em estarmos sempre pensando primeiro em nós mesmos. O Rust passou a ser minha nova escola de vida, meu refúgio, lugar de saber constante, de aprendizado no tratar com as pessoas, convivendo com suas expectativas e sentimentos”, explica.Segundo Francinete, o lugar foi planejado para oferecer a paz necessária na qual as pessoas possam se separar um pouco do agito e turbulências do cotidiano. “Muitos nem sabem o que os fazem ser atraídos para a energização positiva do lugar, mas quando chegam, sentem retomar o equilíbrio para respirar, pensar e voltar a decidir suas novas ações”, diz orgulhosa.Além dos produtos na área de alimentos, o Rust proporciona momentos como o ‘Café Filosófico’, iniciativa do próprio Jorge, que é um encontro de pessoas em volta de um tema predefinido, e ainda sedia o ‘Café e Poesia’, de um grupo de poetas de Mossoró coordenados pela professora Ângela Gurgel. Além disso, disponibiliza livros de autores locais que podem ser adquiridos ou degustados, como assim o cliente preferir. Em sua trajetória de interminável procura interior, Francinete acabou criando o ambiente perfeito para que muitos outros, nesta constante busca por respostas, encontrassem pelo menos um sinal de aconchego e cumplicidade. Por todos estes detalhes, indicamos o RUST CAFÉ como sendo O BOM DE MOSSORÓ desta semana.

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