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UM FRANCÊS EM MOSSORÓ.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 14 de out. de 2015
  • 5 min de leitura

MICKAEL ROBERT MILLET

Ele nasceu na cidade de Romilly-sur-Seine, de pouco mais de 15 mil habitantes, situada cerca de 130 quilômetros ao Nordeste de Paris, capital da França, no dia 19 de junho de 1977. Mickael Millet é filho de Robert Emile Millet, aposentado da companhia de trens da França, e de Laurence Choiselat. Irmão mais velho de David Millet, construtor de casas, e Maroussia Millet, motorista de ônibus escolar da Prefeitura de Romilly. A infância escolar de um francês é estudar e aproveitar as demais horas para se envolver em outras atividades educativas, culturais, sociais ou esportivas. Mickael foi em sua fase escolar, também membro presidente do Clube de Jornalistas infantis, que atuava nos intercâmbios de estudantes da França com os de outros países. Formou-se Economista Social e Familiar. Sim, familiar, pois naquele país as contas do orçamento familiar são levadas a sério, com profissionais dedicados para orientar e planejar as despesas do lar como se fosse uma empresa. Uma das despesas que, segundo Mickael, praticamente não existe nos orçamentos domésticos, é o da formatura dos filhos. “Na França você terminou, recebeu o diploma e cada um vá se virar. Acabou a universidade a gente sabe que poucos iremos nos vê e acabou. É diferente do Brasil, onde a festa de formatura muitas vezes é preparada como algo mais importante até do que o próprio Diploma. Lá o que vale mesmo é o conhecimento adquirido, aqui parece ser o tamanho da festa”, comenta.

Em Mossoró, Mickael Millet ganhou o primeiro lugar no concurso de fotografia do Hotel Villa Oeste.

O SERVIÇO MILITAR (DES) OBRIGATÓRIO – Quando fez 22 anos, Mickael teve que servir as forças militares francesas por dez meses, que seria o período obrigatório. Poucos escapam desta obrigação com o país. No entanto, por ter se apaixonado pelo mundo militar terrestre, onde serviu na base francesa de Saarburg, pequeno distrito localizado na Alemanha, Mickael optou em continuar mais tempo. Ficou ao todo seis anos servindo e aproveitando para conhecer muitos novos lugares. Além de vários países na Europa, a serviço do exército francês esteve na Guiana Francesa, Martinica, nas Antilhas, em Guadalupe, sempre em exercícios intercambiais de militares. Neste tempo, chegou a passar dois anos casado com Mariel Tiü, uma diretora de empresa na cidade de Hans, capital do Estado de Champagne. Quando desfez a relação, aproveitou para solicitar sua transferência para o sul do país. Foi morar em Perpignan, na região das Pays Catalan, banhada pelo mar mediterrâneo, e a apenas 100 quilômetros de Barcelona, na Espanha. A vida que Mickael pediu a Deus. “Povo mais quente, caloroso, mais latino. Foi um tempo em que me senti livre em busca de conhecimentos. Tive novos relacionamentos mais nada perto de uma grande paixão. Minha luta na época era em defesa do meio ambiente e dos direitos dos animais. Não tinha ‘papas na língua’, dizia o que pensava, reivindicava aquilo que acreditava ser justo, sempre, claro, respeitando as opiniões contrárias”, relata. Foi este amor à política que o fez sair do serviço militar para ingressar nas lutas, pois assim como no Brasil, na França o militar não pode participar de partidos ou sindicatos. “O comandante não queria que eu me afastasse, pois no quartel eu era um dos que gostava de organizar os eventos, sempre disposto a tomar à frente das atividades internas”, lembra. Defendendo as bandeiras da ecologia, Mickael foi eleito para o parlamento local, como presidente do Departamento Geral da Ecologia na região, composta por cerca de 130 mil habitantes.

DE REPENTE, A VIDA DE CABEÇA PARA BAIXO – Na França, parlamentar é diferente do Brasil. Não passa o ano sem fazer absolutamente nada, a não ser a promiscua política partidária e eleitoral. Por lá, Mickael também dava aula em uma creche. Os meses de férias são junho e agosto, período de temperaturas mais amenas, quando os franceses viajam mais e se divertem mais. Em agosto de 2012, Mickael foi visitar seus familiares e deu alguns pulinhos na sua Paris querida. Em uma dessas ocasiões, através de amigos em comum, conheceu uma empresária mossoroense com a qual fez uma amizade fulminante, ao ponto de naquele mesmo dia, convidá-la para conhecer à noite de Paris. Quem em sã consciência se negaria a conhecer à noite de Paris? Ainda mais com o convite para no outro dia conhecer Hans, sim nada mais nada menos do que a capital de Champagne. Irrecusável. “Foram dois dias fortes, intensos, divertidos, fulminantes. Havia encontrado a alegria em pessoa, o entusiasmo em forma humana. Nos apaixonamos irrestritamente. Descobri que a mulher brasileira era emoção pura, tanto chora mesmo, quanto rir mesmo, de si própria, e do mundo”, descreve Mickael. Após conversas diárias por telefone, o convite para conhecer Mossoró foi aceito em setembro. A família, os amigos, os colegas de trabalho, os companheiros militares e ecológicos, todos, sem exceção, o perguntavam o que ele fazer no Brasil. “Minha resposta era: não sei. Apenas tinha a certeza de que deveria viver esta relação. Estou aqui há três anos e voltei apenas uma vez para França. Consegui em novembro de 2013 minha Classificação de Permanente e estou feliz com minha decisão”, conta.

MOSSORÓ NA VISÃO DE MICKAEL – Apaixonado por cerveja e política, não votou mas torceu pela vitória de Claudia Regina em 2012. “Acreditava que ela faria coisas boas. Infelizmente aconteceu o que todos já sabem”, diz. Mickael luta a té hoje para se acostumar com o calor da terra de santa Luzia. Mas o que lhe incomoda mesmo no Brasil, é que a população se acostumou com as coisas erradas. “Veja bem, se a Prefeitura está com problemas financeiros, como pode trazer cantores caros para a festa junina? Gasta-se muito mal no poder público, sem planejamento, sem organização. É preciso aprender a tratar com as finanças. Na França, ser pego desviando dinheiro público é vergonhoso. Motivo para demissão ou renuncia na mesma hora. Aqui um corrupto denunciado fica no cargo o tempo que bem entender, até que a justiça prove”, compara. Mickael diz não perceber do povo brasileiro um verdadeiro desejo de mudanças. Ele cita as praias sujas, ruas menosprezadas, desumanidade entre as pessoas como sinais de que não estamos perto de melhorar. “O que vejo aqui de bom é a cultura. Muita coisa boa é feita nas artes. Muitos artistas talentosos na música, no teatro, na dança, na fotografia. Mesmo assim, o ar condicionado do Teatro não funciona. O brasileiro se acostumou com seus próprios erros e defeitos”, descreve. Outro ponto negativo na visão de Mickael é o perigoso estado de violência que se atingiu. “As pessoas estão com medo. Tem crianças armadas nas periferias das cidades e isto é muito ruim. Enquanto o Brasil estiver sendo administrado por pessoas corruptas, desonestas, tudo o mais será vítima: a educação, a saúde, a ecologia, as crianças. Vamos torcer para que comecemos a mudar esta realidade”, conclui este francês em terras de Mossoró.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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