APEGADO A FÉ, A VIDA É OUTRA.
- obomdemossoro
- 26 de set. de 2015
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FRANCISCO JORGE IVAN DE ALBUQUERQUE
O comerciante Jorge Ivan precisou se superar em alguns momentos de sua vida. Sozinho, claro, não conseguiria, pois fomos feitos para viver em sociedade, alimentando relações que conosco interagem e nos torna seres humanos melhores. As pessoas certas, na hora certa, fizeram de sua vida um aprendizado de fé, fazendo-o crer que mais do que nossos desejos e ambições, devemos ser movidos pelo guia do coração e da bondade. O terceiro dos sete filhos dos crediaristas aposentados João Euzébio de Albuquerque e Maria Dalvanir Silva de Albuquerque, nasceu em Mossoró no dia 18 de julho de 1971. A família morava no bairro Boa Vista, onde estudou até a quinta série na escola municipal Raimundo Gurgel. Sem interesse nos estudos, abandonou a sala de aula para iniciar suas aptidões na arte de vendedor. A primeira experiência se deu com os dindins que a mãe fazia para ele vender nos armazéns de sal que se espalhavam ao largo da linha de trem, próximo de onde moravam. O pai trabalhava em uma dessas empresas e Jorge, popular, não tinha dificuldades em vender tudo, inclusive os dois a que tinha direito de chupar. “Eu vendia e ficava com o dinheiro”, conta. Neste ritmo, começou também a buscar, de casa em casa, todo tipo de material que pudesse vender para seu Antônio Vital, no chamado Buraco do Tatu, uma feira que existia no bairro Boa Vista. “Era ossos para fazer botão, alumínio, ferro, plástico, vidro. Juntava o dinheiro que eu ganhava para comprar brinquedos como peão e bila, mas o bom mesmo era o prazer de ganhar ele por conta própria”, relembra.
NÃO SABE O QUE É DESEMPREGO – Quando tinha 13 anos, apareceu uma vaga para trabalhar das 17 às 21h enchendo de sal os saquinhos de um quilo na empresa F. Souto. Foi seu primeiro emprego, onde recebeu seus primeiros salários. Passou quatro meses neste serviço, e depois mais dois despregando os sacos e preparando-os para o transporte. Depois desta experiência, Jorge nunca mais deixou de trabalhar, nunca conheceu o desemprego. Foi para Anibaltec, onde entregava as máquinas de datilografia consertadas, além de lavar as que estavam em estoque. Após mais de um ano, desgostoso com a proprietária, pediu as contas. Antes de aportar no Mercado Central, onde hoje mantém sua própria loja, ainda passou pelas empresas Ebenezer e Pinheirão. Foi na banca de Paulo Lucilo onde passou mais de cinco anos aprendendo as manhas da venda de confecções, até que investimentos arriscados de Lucilo levaram sua loja a falência. Jorge foi então atrás de novas oportunidades. Primeiro na banca de Chico Saraiva, depois na loja Alexandre Confecções e, finalmente, aceitando o convite de Junior Maias para ser seu vendedor na loja que estava abrindo no Mercado. “Ele me ofereceu muitas vantagens e com ele passei um ano e seis meses”, conta.
Controlado e econômico, apesar de algumas farras, não tinha grandes despesas por ser solteiro e ainda morar com os pais. Por isto, conseguia juntar dinheiro e ainda obter alguns bens. Era um dos poucos vendedores do mercado a possuir uma moto, quando a maioria andava de bicicleta.
A IMPORTÂNCIA DA COMPANHEIRA DE LUTAS – Em 2000, Jorge casou com Josielma Sousa Tavares, com quem teve Ana Beatriz e Maria Luiza, os xodós de sua vida. Foi somente com o apoio e incentivo da companheira que realizou um dos mais importantes passos em sua vida: voltou a estudar, matriculando-se à noite no colégio Everton Cortez, localizado no Planalto 13 de Maio, onde concluiu o ensino fundamental. O médio fez no conjunto Liberdade, na escola estadual Maria Stella, tendo concluído em 2005. “Sentir-me realizado por ter conseguido. Ainda penso em fazer um curso universitário, pois sei agora que o estudo enriquece, amplia conhecimentos e cria novas oportunidades”, revela. No ano de 2002, decidiu que era hora de investir em seu próprio negócio. Vendeu sua moto, pegou o dinheiro que tinha, adquiriu duas bancas através de aluguel e foi para Caruaru comprar mercadorias. Com o sucesso das vendas, passou a fazer a viagem para o agreste pernambucano de 15 em 15 dias. Tudo corria tão bem que ele nem se importava de ir trabalhar de bicicleta, todos os dias, do Planalto 13 de Maio até o Centro. Até que uma dor de cabeça que persistia há três dias o derrubou. Desacordado, foi levado pela esposa para o hospital Tarcísio Maia, onde foi diagnosticada uma meningite, razão pela qual teve que ser transferido para o hospital Rafael Fernandes. Após sete dias sem resultados, pois a dor de cabeça continuava forte, resolveu ouvir um conselho de um amigo que tinha feito no hospital, motorista de ambulância, que o alertava para procurar ajuda em Natal, pois se continuasse ali acabaria morrendo. Contra a vontade da equipe médica, Jorge assinou o Termo de Responsabilidade e foi para o hospital Walfredo Gurgel, na capital. Segundo ele, durante os treze dias em que lá esteve em tratamento, não sentiu dor de cabeça hora nenhuma. Isto depois de ser medicado para combater um abcesso no cérebro, provocado por uma larva, provavelmente de alface ingerido.
O GRANDE DESAFIO E O ENCONTRO COM DEUS – Agora já eram dois anjos em sua vida, a esposa e o amigo da ambulância, que os ajudaram a vencer os dois grandes desafios: a conclusão dos estudos e o combate à doença misteriosa. Porém, um terceiro estava por vir, quase o fazendo se perder pelo desgastante mundo da ambição. Retornando à Mossoró, após quase um mês afastado de suas bancas, teve que se reerguer. Retomou sua agenda, seus clientes, suas viagens e suas receitas. Adquiriu carro e moto, como também comprou as duas bancas onde comercializava. Começou a visualizar mais longe. Alugou um ponto maior, que pagava com a ajuda do aluguel das duas bancas menores. Foi quando cometeu o erro: contratou uma pessoa para ficar na loja, enquanto viajava para vender suas mercadorias pelas cidades da região. Ele queria mais, e acabou ariscando tudo que tinha. Este funcionário era viciado no jogo de baralho, o que acabou lhe causando um prejuízo de grande vulto. Quando Jorge se deu conta da quantidade de cheques sem fundo que possuía, só pensou em matá-lo. Mas ao chegar em sua casa, no entanto, viu que suas filhas tinham a mesma idade das dele, e desistiu de cometer o crime que o mancharia para o resto da vida. “Só me restou vender o que eu tinha para manter minha credibilidade junto aos fornecedores. Às vezes, caminhava a pé para minha casa, momento em que pensava sobre toda aquela situação que eu mesmo havia criado, por ambição, sem ter dado ouvidos a minha esposa e minha mãe”, descreve. Jorge conseguiu se levantar e há seis anos passou a se dedicar mais à família e a religião. É membro do Encontro de Casais em Cristo da igreja do Alto de São Manoel, levando a vida com mais paciência e equilíbrio. “Aprendi a ouvir mais e exigir menos das pessoas. Muitas vezes, erramos em pensar que aquilo que temos é pouco, nos deixando insatisfeitos. Na verdade, tudo que temos é muito, e devemos agradecer por isto e por nos dar força para merecer tudo que ainda podemos ter”, ensina.

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