top of page

JOCA, O BOA PRAÇA.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 25 de set. de 2015
  • 4 min de leitura

JOÃO VICENTE PESSOA

Ontem seu Joca completou 27 anos e sete meses na Praça de Mossoró. Taxista respeitado pelos colegas de profissão, paciente e honesto, atrai a confiança da clientela acostumada a contratar suas corridas. Mantém ponto fixo em frente ao supermercado Cidade do Centro, convicto de que só deixará a profissão quando o corpo não mais aguentar. “No ano que vem vou me aposentar, mas nem pensar em parar com o taxi. A gente faz amizades, participa das rodas de conversas, se diverte, acompanha o movimento da cidade e o dia a dia dos passageiros. Esta é a minha vida. Como pensar que um dia vou parar minha vida?”, argumenta. Uma vida que começou em Janduis em 17 de dezembro de 1953, no Sítio Boa Vista. Neste dia nascia o quarto filho homem dos seis que o casal de viúvos Manoel Vicente Pessoa e Antônia Benigna de Queiroz teve, pois dos seus casamentos anteriores haviam mais onze. De seu Manoel vieram para esta ‘Família Mosaico’, como é chamado este tipo de formação familiar pelo mundo jurídico, sete filhos homens; de dona Benigna, quatro filhos, apenas uma mulher. No total eram 15 filhos homens e apenas duas mulheres. Para sustentar toda esta gente plantava-se algodão no sistema de meia com o proprietário das terras. Teve safra da família colher 500 arroubas. Para alimentar o gado que fornecia a carne e o leite diário, plantavam na vazante do açude. Para comer tinha o feijão, a batata, as galinhas que corriam por todo o terreiro. Uma família unida e sob a disciplina de seu Manoel, que não permitia nenhum dos filhos pegar em espingarda para caçar antes dos dezoito anos.

CONHECENDO O MUNDÃO – Seu Joca estudou até o primário, em escola improvisada no próprio Sítio. Depois não pegou mais em livro, apesar de ser muito bom nas contas matemáticas. Lembra bem dos banhos de açude em tempos de bom inverno. Nos períodos de seca a família se virava com a água de cacimbão. “Era uma vida aperreada”, resume. E foi pensando assim que aos 19 anos resolveu partir para cidade grande. Aportou em São Paulo, onde já estava o irmão Severino trabalhando como encarregado de obras. Seu Joca começou também como Ajudante de Pedreiro, mais em pouco tempo já havia sido elevado à condição de Pedreiro, o que lhe rendia um bom salário, principalmente para quem não tinha grandes despesas, morando, inclusive, no próprio alojamento das firmas por onde trabalhava. Entre 1973 a 1983, rodou São Paulo, São José dos Campos e Guarujá, muitas vezes com jornada estendida das 7 às 20hs. “Quando era pra encher uma laje de concreto não tinha como parar. A gente virava a noite. Eram horas extras que valiam a pena, pois quando regressasse a minha terra, teria como criar meu próprio negócio. Passei muito frio, mas valeu a experiência”, resume. Foi o que aconteceu. Chegou a Mossoró em 1983, comprou uma casa no Abolição I e abriu sua ‘Bodega’. Trabalhava todos os dias, inclusive aos domingos. De vez em quando se dava ao luxo de fechar um final e partir para visitar os familiares na própria Mossoró, em Janduis, Caicó ou Jucurutu. Nesta última se engraçou pela prima Ivonete de Queiroz Santos Pessoa, com quem casou em 1985, fazendo nascer Daniel Alexandre, comerciário e estudante de Mecânica no IFRN, e Simone Queiroz, concluinte de Direito na UFERSA. Agora com a ajuda da esposa nos serviços da ‘Bodega’, seu Joca poderia, finalmente, apostar em um sonho que vinha desde São Paulo, quando observava as frotas de taxi e batia aquela vontade de dirigir um deles. “Quando pegava algum taxi por lá, ficava perguntando ao motorista como era a Praça, o serviço, se valia a pena, essas coisas”, relembra. Em 1988, comprou o carro e a vaga do Sr. Laércio, um taxista que morava próximo e que já sabia do desejo de seu Joca em entrar para profissão.

SEM DESCANSO, MAS COM FÉ – “A ‘Bodega ainda ficou aberta por uns três anos, com o Caderno de Fiado recheado, mesmo com minha dureza em cobrar”, diz D. Ivonete, que aproveitou o nascimento de Simone para fechá-la de vez, já que a Praça estava rendendo bem para a família. “Até 1995 ter taxi em Mossoró era muito bom. Quando veio o Plano Real e a estabilização da moeda, a facilidade nos financiamentos deu a população melhores condições para adquirir seu próprio carro. Foram criadas também mais vagas para taxistas no município, e depois vieram os moto-taxi e os taxi lotação. O mercado ficou mais duro, competitivo. Mas ainda vale a pena estar nele”, descreve seu Joca. A filha Simone diz ser ele um viciado no taxi, quando nem mesmo aos domingos se dá ao direito de ficar em casa com a família. “Ficamos preocupados quando ele sai, pois a violência é grande”, afirma. Mas ele pensa: se não sair no domingo pela manhã para pegar seus clientes da Igreja Universal, ou depois do almoço para levar para casa aqueles que se divertiram no domingão do SESC, outros irão aproveitar e lhe tomarão a clientela. “É meu serviço personalizado, se eu falhar, irão roubar meu mercado”, explica. Para a crise econômica de que todos falam, inclusive nas conversas em seu taxi, seu Joca tem sempre a mesma receita: ‘não baixar a cabeça, enfrentá-la de frente, cada um fazendo sua parte.’ Bondoso, muitas vezes deixa de cobrar a viagem para exercer a solidariedade. “Deus sempre está com a gente, nos dando aquilo que precisamos e merecemos. Assim, devemos lembrar-nos de ser humano todas as vezes que pudermos ajudar alguém necessitado, como uma mãe desesperada que precisa levar um filho ao hospital e não tem dinheiro para isso”, exemplifica o ‘Boa Praça’ Joca.

 
 
 

댓글


DIÁRIOS DE MOSSORÓ
SIGA
  • Grey YouTube Icon
PARCEIROS
PENSAMENTO DO DIA

 

Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

Cazuza

 

PROCURE POR TAGS
  • Grey Facebook Icon

© 2015 por O bom de Mossoró

bottom of page