NO AR, O JORNAL DAS CINCO.
- obomdemossoro
- 13 de set. de 2015
- 5 min de leitura

FRANCISCO TÁRCIO ARAÚJO PEREIRA
Tárcio Araújo nasceu em Natal em 22 de setembro de 1978. Sua mãe teve uma gravidez de risco e o município de Lajes não tinha condição de realizar a cirurgia. Durante um mês, dona Maria Salete de Araújo ficou internada, lutando pela vida, após o parto e a ligadura de trompas, pois os médicos descartaram a viabilidade de novas gestações. Mas ela estava feliz. Muito feliz de ter sido agraciada por Deus com aquele presente, fruto de uma promessa que havia feito anos atrás para Ele. A vida não estava fácil para dona Salete. Já tinha sete anos de casamento e nunca tinha conseguido engravidar. Morando no pé de uma serra, como meeira na Fazenda Santa Luzia, distrito de Angicos, muitas vezes o esposo saia para beber e farrear e ela ficava ao som de latidos e gritos de cachorros e raposas, isolada e infeliz. Aquele menino passaria a ser sua companhia de vida, seu verdadeiro parceiro de jornada. “Minha mãe foi a referência, a ancora de minha vida. Amiga, incentivadora, cumplice, acolhedora, conselheira, “ resume Tárcio. Quando no final dos anos 70 a seca arrochou no sertão quente, sua família mudou-se para a cidade de Laje, onde Tárcio fez, praticamente, toda a sua vida. A mãe trabalhou então de costureira e merendeira em escola, até ser vencida por um câncer de pulmão em 2011, vinte anos depois de ter deixado de fumar. “Foi a grande perda de minha vida, a maior dor que já senti”, revela emocionado.

JARDINS DAS ACÁCIAS – Sobre o pai, José Farias Pereira, não gosta muito de falar. O ver esporadicamente, pois ainda mora em Lajes com uma irmã, já aposentado do cargo de ASG daquele município. Nunca aprendeu a ler e escrever, nunca foi um incentivador do filho, pouco participou de sua vida. “Nossos momentos mais família era quando ouvíamos juntos os jogos do ABC, através do rádio. Talvez o início de minha paixão por este veículo de comunicação”, conta Tárcio. Durante sua vida, o pai foi também marchante e chegou a ter sua própria fazenda, a Palestina, onde matava e vendia gado e comercializava queijo. A bebida acabou com tudo. “O exemplo bom que ele me deixou foi o de cumprir com a palavra dada. Sempre foi bom pagador e honrava seus compromissos. Deixou a bebida quando, um dia, foi esmurrado e caiu. Eu tinha catorze anos e fui chamado para socorrê-lo. Passou uma semana em casa com o rosto inchado e, acredito, pela vergonha que passou, resolveu parar com as farras”, lembra. Esta dificuldade em casa refletia na vida escolar de Tárcio. Aluno indisciplinado e inquieto, repetiu várias vezes de ano. A mãe tentava lhe dar um rumo, mas segundo ele, quem refletia bem o seu momento era a música Jardins das Acácias, de Zé Ramalho: “Nada vejo por esta cidade/que não passe de um lugar comum/Mas o solo é de fertilidade/no jardim dos animais em jejum/Esperando alvorecer de novo/esperando anoitecer pra ver/A clareza da oitava estrela/esperando a madrugada vir/E eu não posso com a mão retê-la/e eu na passo de um rapaz comum.” Concluído o ensino médio na escola estadual Pedro II, já com 21 anos, tentou a sorte na capital com toda sua impaciência e imperatividade, buscando um norte profissional. Em Lajes, havia sido voluntário da Difusora Comunitária, uma amplificadora de som de comerciantes locais, trocando fitas e outras pequenas tarefas. Um dia lhe pediram para encerrar a programação, momento em que Tárcio estreou em microfone: ‘Difusora Comunitária de Lajes encerra seus trabalhos agora e retorna amanhã, às quatro da tarde’. Passou depois a vender espaços comerciais e ganhar comissões.

VIVENDO O APRENDENDO – Quando tinha vinte anos, a rádio Itaretama 93,5FM era inaugurada na cidade e Tárcio ganha seu primeiro programa: Super Tarde 93. Dava então os primeiros passos, de forma intuitiva, na trajetória radiofônica, tendo como base os locutores das emissoras maiores do estado e do Brasil que costumava ouvir. Nesta época também participava de atividades junto à Prefeitura e era correspondente do jornal Central, de Aclecivam Soares e JúniorGomes. Meses depois, passou a comandar a manhã da rádio Cabugi Central, de Angicos, a convite de Toinho de Quincas, diretor da rádio, que por acaso o ouvira no rádio de seu carro. Com a popularidade em alta e a criação de seu próprio jornal mensal, chamado ‘O Pico’, Tárcio aproveita o convite do PMDB local, devido à falta de candidatos, e aceita preencher a última vaga do partido para disputar um lugar na Câmara de Vereadores. Na condição de primeiro suplente, assume em 2002 a titularidade após o falecimento de um titular. Mas não tinha experiência política. Descobriu depois que o cargo é passageiro e que os interesses políticos são complexos e envolvem muitos sentimentos e ações. “Pequei pela imaturidade. Não tive noção da responsabilidade que havia assumido e me deixei levar pelos maus conselhos”, resume. Em 2004, tentou a reeleição, mas teve metade dos votos da eleição anterior. Sua imagem refletia as confusões as quais havia se metido. Não percebeu que tinha se transformado em um espelho do pai, que tanto criticava por suas bebedeiras e farras. “Só vim recuperar minha imagem em Lajes com o tempo. Trabalhando muito, vivendo e aprendendo com as experiências da vida”, explica.

O RECONHECIMENTO – À volta por cima começou na cidade de João Câmara, para onde foi trabalhar como locutor da rádio 89FM. Não ter um curso superior lhe atormentava a cabeça, fazendo-o refletir que deveria se esforçar para passar em um vestibular. Conseguiu em 2007, na UERN, no curso de Comunicação Social. “Ao chegar a Mossoró, tive o apoio do professor Fabiano Morais, um dos meus grandes incentivadores na profissão. Ele me arranjou uma bolsa na rádio comunitária da UERN, que apesar de ser pirata, funcionava sob liminares”, recorda. A partir daí Tárcio pôde mostrar suas qualidades, sendo reconhecido pelos prêmios que recebeu por onde passou. Na TV Mossoró, também por intermédio de Fabiano, foi contratado para ser o produtor do Jornal da Cidade, ao lado da editora Cintia Fragoso, e depois do programa Linha de Fogo, de Ciro Robson. Foram dois anos e meio nesta emissora até que o Grupo TCM adquiriu a 95FM e montou sua primeira equipe. Foi então contratado para apresentar o Jornal 95 Segunda Edição ao lado de Clara Jordany. “Os cinco anos de dedicação, esmero e amor, trazendo notícias e fatos para os ouvintes, me trouxeram o reconhecimento e a visibilidade profissional que todos desejam”, resume. Em junho passado, Tárcio foi conversar com Dr. Milton Marques, proprietário da emissora, para lhe falar que era chegada a hora de abraçar novos projetos, o agradecendo pela oportunidade que ele o havia proporcionado. “Ouvi que as portas continuariam abertas, o que para mim era o atestado de que havia feito algo bom, minha maior gratificação”, enaltece. A partir desta segunda, dia 14, ao lado do também radialista Fábio Oliveira, Tárcio estreia o Jornal das Cinco, que vai ao ar de segunda a sexta, a partir das 17hs, na 105FM. “Um grande desafio, algo motivador que pretendemos consolidar com a necessária agilidade e modernidade que os tempos exigem dos veículos de comunicação. Sem jogar conversa fora, com críticas ponderadas, muita informação e participação de articulistas”, descreve. E assim Tárcio vai caminhando, com coragem, retidão, sempre à frente, como a vida lhe ensinou a fazer.
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