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VENCEDORA, REALIZADA E FELIZ.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 10 de set. de 2015
  • 5 min de leitura

FRANCISCA MARIA FERREIRA DA SILVA

Durante boa parte de sua vida, Francisca se perguntou, sem obter respostas, sobre as razões que fizeram seu pai roubar sua mãe, na época menina nova, para depois trocá-la pela bebida, causa de sua morte quando ela tinha apenas seis anos de idade. Uma magoa sempre presente enquanto escrevia sua história, de casa em casa, superando as adversidades com serenidade, bom coração e persistência, mas sem o calor de uma família que pudesse sentir que era sua, de verdade. Francisca, para alguns somente Chiquinha, nasceu em 13 de outubro de 1961, em Mossoró, filha de Raimundo Vicente da Silva e Maria Cícera Ferreira da Silva. O pai trabalhou em salinas e nos serviços de linhas telefônicas. Era um dos grandes amigos de seu avô, Antônio Moco, até inventar de roubar a filha do amigo. Criou-se a desavença na família. Sua mãe, que já havia casado nova com um senhor da idade do pai, de repente se viu viúva nova, tendo que novamente contar com o pai magoado. Com três filhos para criar – além de Francisca, a mais nova, tinha Francisco Sales, administrador de imóveis, e Júlia Maria, funcionária pública, dona Cícera, que já morava em terras de seu pai no Canto do Junco, também passou a depender financeiramente dele. A situação não era fácil, pois ela só tinha até o 5º ano de Admissão, sem saber fazer nada e sem recursos, não teve saída a não ser espalhar os filhos. Tempos depois, Joaquim Borges, que trabalhava no INSS, conseguiu para ela uma pensão de meio salário mínimo. Seu filho mais velho ficou morando com o avô no Sítio Cajazeiras, Júlia, traumatizada com a morte do pai, demorou a retomar os estudos e acabou ficando com a mãe, e Francisca foi morar na casa do casal Nelson Lucas e Marinete Leite, donos da Tecelagem Mossoró. Nos quatro anos em que lá ficou, mesmo cuidando de outra criança e ajudando na lida da casa, conseguiu estudar até a 4ª série.

O OBJETIVO ERA AJUDAR A MÃE – Quando Francisca tinha onze anos, a irmã de dona Marinete convidou-a para morar com ela. Maria José Leite, já falecida, foi de grande importância para sua vida pelos ensinamentos repassados com muito amor e carinho. “Tenho sua lembrança em meu coração. Com ela aprendi a ter firmeza de propósitos, com organização, educação, amor próprio. Foram quase dois anos convivendo com uma mulher que me deu sentido à vida”, confessa. Devido a necessidade de dona Maria José ir morar no Rio de Janeiro, Francisca teve que optar por uma nova moradia. A casa escolhida foi a do casal Assis Barra e Maria do Carmo Leite, Carminha. Nela foram mais quatro anos, até a conclusão do ensino fundamental. Sua vida escolar, que havia começado com o incentivo da mãe e da professora do Sítio Cajazeiras Maria Lair, que a ensinava à luz de lamparina, teve continuação no Patronato São Francisco, Escola Estadual Inalda Cabral e no Ginásio Municipal, onde hoje funciona a Escola de Artes. “Sempre gostei de ler, e isto foi fundamental na sequência de minha vida”, conta. Aos 17 anos, Francisca colocou na cabeça que chegara a hora de ajudar a mãe. O caminho era conseguir um trabalho, mas em Mossoró as portas estavam fechadas por ela ainda ser menor de idade. O jeito foi aceitar uma nova mudança, morando com o casal mossoroense Manoel do Piston e a costureira Maria de Lourdes Gonçalves, em Fortaleza. Foi uma indicação da irmã Julia que soube da necessidade que a senhora tinha de uma assistente faz tudo para os serviços de costura. Na capital alencarina, conseguiu concluir o ensino médio no Colégio Estadual Justiniano de Serpa, à noite, onde fez o curso Técnico em Contabilidade, fundamental na aprovação do Banco do Brasil que mais tarde lhe daria a estabilidade financeira. “Até este momento de minha vida nunca havia ganhado dinheiro. Em todas as casas em que morei, e sempre fazendo muitas coisas, apenas recebia a morada e a alimentação. Eu não tinha maldade e achava que estava tudo certo, não cobrava nada além disso”, relata. A situação começou a mudar quando uma conterrânea, Lucinha Pinheiro, arranjou-lhe um emprego de telefonista, recepcionista e almoxarife, tudo ao mesmo tempo, na Rent Serviços Empresariais. Ela continuou morando na casa de D. Lourdes, mas já contribuindo com parte do salário para ajudar nas despesas. Com este emprego Francisca conseguiu, também, mandar o primeiro dinheiro para ajudar a mãe. “Senti muita alegria em fazer isto. Minha mãe teve uma juventude de riqueza até casar. Sua família não tinha carne na mesa, tinha um boi inteiro. Não tinha prato de feijão, tinha sacas de feijão. Tinha Casa de Farinha. Os filhos não souberam manter o que meu avô havia construído. Se encontrar sem nada era muito doído para ela, me deixando também muito triste em vê-la naquela situação”, descreve.

A NOVA FASE E O PERDÃO AO PAI – Após um ano na Rent, Francisca recebeu uma proposta ainda melhor da Cialne, empresa de avicultura. Nela passou quase sete anos como telefonista, trabalhando meio expediente e ganhando o dobro do emprego anterior. No inicio de 1986, fez o concurso do Banco do Brasil e em 1º de abril recebeu o resultado de aprovação. De imediato procurou o melhor cursinho de Fortaleza com o objetivo de cursar uma faculdade. Poucos meses depois entrava no curso de Psicologia da Universidade Federal do Ceará – UFC. Quando estava no segundo período, no entanto, o Banco convocou-a para o trabalho e Francisca teve que fazer a opção de parar de estudar. Durante mais de seis anos trabalhou na agência da cidade de Belém do São Francisco, fronteira entre os estados de Pernambuco e Bahia. “A estabilidade me trouxe paz. Viajávamos muito nos finais de semana para cidades como Petrolina, Salgueiro, Juazeiro, Floresta e até as capitais João Pessoa e Recife. Namorava, mas nem tanto, sempre lembrando que minha mãe dizia para me divertir, mas que acochasse a boca da calça”, diz sorrindo. Em 1993, teve sua solicitação de transferência aceita e retornou para Mossoró para conviver novamente com a mãe e a irmã, o que faz até hoje no bairro Paredões. Sobrinhos também recheiam a família. Do irmão Sales tem a artista e publicitária Sabrina Bezerra e o estudante de CIT Igor. Das filhas do pai antes do casamento com sua mãe, Antonia Andrelina e Antonia Lisboa, são mais sete sobrinhos por quem tem muito apreço. “Não sei responder por que não casei. O tempo foi passando e fui buscando meus objetivos. Talvez não tenha dado prioridade a este”, explica. Para as perguntas que sempre lhe acompanharam nesta jornada, Francisca encontrou na filosofia Seicho-no-Ie a resposta satisfatória. “A doutrina explica que os pais dão aos filhos algo precioso e grandioso: a vida em um corpo carnal. Um presente que, independente das circunstâncias ou julgamentos, devemos apenas agradecer. Abri meus olhos e coração para o perdão, o sorriso e o entendimento sobre a vida. ‘Não julgues para não seres julgados’. As perguntas que me afligiam foram resolvidas, ficaram para trás, e hoje me sinto uma mulher realizada, feliz e com muita fé em Deus, o único que sabe tudo, único que tem todas as sábias respostas”, complementa Francisca.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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