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BENDITA SEJA A CONSCIÊNCIA NEGRA.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 6 de set. de 2015
  • 4 min de leitura

FRANCISCA LENILDA DA SILVA ‘SOUSA’

A atriz, professora e ativista política, social e cultural Lenilda Souza nasceu no sítio Alivio, comunidade rural de Olho d’água dos Borges, em 08 de outubro de 1965, filha de Raimundo Paulino da Silva e Maria das Dores da Silva, ambos aposentados. Primogênita de uma prole de sete, logo aos três anos se mudou com a família para Mossoró, bairro Lagoa do Mato, onde colocaram um quiosque que o tempo transformou em Mercearia Paulino. É nela que atualmente seus pais se divertem regando as amizades feitas ao longo de todo este tempo. Lenilda conta que na bagagem trazida do sítio para Mossoró, vieram uma cabra, uma bicicleta e uma pequena economia que deu para comprar uma casa de taipa. Além dela, vieram os irmãos Railson (falecido) e Rivailson. Depois nasceram Cosma, Robelilson, Roberto e Nilma, que já presentearam os pais com nove netos. “Meus pais não sabiam ler e nem escrever, assinavam apenas o nome, em função da obrigatoriedade de tirar o título eleitoral. Tinham noções básicas de matemática, mas nunca tiveram intimidade com o universo da escrita”, conta. Para garantir o sustento dos filhos, seu Paulino foi trabalhar de cabeceiro na salina do Senhor Francisco Souto Soares, enquanto dona Das Dores vendia cocadas e doces.


O RACISMO E SEUS PORQUÊS – Lenilda só entrou em sala de aula quando em 1972 foi inaugurada a Escola Reunida Alto do Xerém, momento em que começou a sentir a invisível barreira do racismo. “Chegando à escola tive que me socializar, precisei aprender a conviver com o preconceito e com as piadas pejorativas em relação a minha raça. Senti como é duro para uma criança ter que conviver com o sentimento de desprezo e negação”, conta. Ela ainda não tinha a maturidade necessária para entender ‘os porquês’ da rejeição: o porquê da professora beijar as crianças na despedida e não lhe beijar; o porquê das crianças não quererem segurar em sua mão na roda; o porquê de não poder se candidatar à rainha do milho; o porquê de não poder ser o anjo na festa da igreja. “Eram muitos os porquês, que nunca tinham respostas concretas”, explica. Entrou na fase da adolescência com dificuldades na aprendizagem e falta de interesse na vida escolar. Procurava fazer coisas que lhe dessem suporte para enfrentar as dúvidas e angústias de uma jovem, pobre e negra, que sonhava em ser artista, sem ao menos saber o que era arte. Durante esta fase, Lenilda teve ainda que conviver com sérios problemas de saúde do pai, enquanto vivia a descoberta da sexualidade e o fervor da juventude. “Comecei a frequentar outros lugares fora do bairro, fazendo contatos com intelectuais e artistas da cidade e com os movimentos populares. Foi quando senti que estava me inserindo no mundo do teatro, o mundo que queria viver e que desde 1983 não mais me afastei”, relata.

NO TEATRO O RESGATE DA AUTOESTIMA – Desenvolvendo atividades voltadas para a discussão da igualdade racial, juntamente com os professores e artistas Nonato Santos e Augusto Pinto, Lenilda encontrou o caminho para se desvencilhar da baixa estima, impregnada pelo racismo e sua ‘cruel’ exclusão social. Fundaram o grupo Raízes Movimento Negro de Mossoró, realizando shows e palestras com o tema ‘Negro e Lindo’. “Enfrentamos muitas resistências, inclusive com setores hegemônicos da sociedade querendo convencer as pessoas que em Mossoró não havia negro. Diante de tantos desafios, buscamos apoio de outras pessoas que assumiam sua negritude. Foi quando veio somar a nossa luta a professora Ivonete Soares, que em muito ajudou a desenvolver discussões sobre o racismo e a igualdade racial”, descreve. Em 1985, quando tinha 19 anos, apaixonou-se pelo músico Adonis Bezerra de Sousa em um relacionamento que durou apenas oito meses, mas que lhe deixou o sobrenome artístico do qual não mais deixou de usar. O ciúme, a possessão e a inexperiência que afetaram este primeiro casamento, não foram problemas em sua segunda grande paixão: a Companhia Escarcéu de Teatro, com quem nutre um amor profundo e de inteira cumplicidade. Com o grupo, Lenilda viabilizou seu sonho de se tornar uma atriz reconhecida. Atuou em mais de 30 espetáculos, tanto para a rua, quanto para o palco. Participou de vários cursos, oficinas e festivais de teatro, nacionais e internacionais, tendo conquistado o prêmio de melhor atriz, em 1996, em Pernambuco, interpretando a personagem Marquesinha, da peça A Árvore dos Mamulengos. Também teve a indicação de melhor atriz em Betim/MG (1997) e no Festival Nordestino de Guaramiranga-CE, com a personagem Genoveva da Baviera, no Espetáculo Trupizupe O Raio da Silibrina. Em meio a toda esta agenda cultural, há 24 anos Lenilda reserva um lugar especial para sua relação com o ator teatral e técnico administrativo da UERN Nonato Santos. Seu esposo e pai de seus dois filhos, Ilê dos Santos, de 23 anos, estudante de Ciências Sociais na UERN e Odara Inaê, de 22, cursando de Turismo na UERN.

PRODUTORA DE IDEIAS E AÇÕES – Em seu ativismo, Lenilda participou ainda da criação do Centro Feminista 08 de março, exerceu o Cargo de vice-presidente da Cooperativa de Artistas Técnicos e Produtores de Mossoró (COOCAR), foi assistente de direção do diretor Amir Hadd no Auto da Liberdade, e interpretou Santa Ágata no Oratório de Santa Luzia, Ana Floriano no Auto da Liberdade e uma carpideira no espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró. Também atuou, durante dez anos, na ONG Visão Mundial, contratada como educadora cultural, além de ser associada da Academia Feminina de Letras e Artes de Mossoró – AFLAM. No inicio dos anos 90, foi contratada pela Prefeitura de Mossoró como professora das séries iniciais no bairro Rincão. Também foi professora de Arte no SESI e de Teatro na Escola de Arte do município. Fundou a agremiação carnavalesca O Sapo da Lagoa, que todos os anos está nas ruas na terça-feira de carnaval trazendo alegria e autoestima para dezenas de famílias de sua localidade. Atualmente, exerce o cargo de Gerente do Patrimônio da Secretaria Municipal de Cultura, responsável também pela coordenação, em Mossoró, da Marcha das Mulheres Negras que acontecerá em 18 de novembro, em Brasília. “Conquistei um espaço de respeito na sociedade buscando fazer do trabalho sério uma referência positiva. Esta é a verdadeira luta contra o racismo: a possibilidade de reconhecer que ele existe e denunciá-lo como algo atrasado, que prejudica a todos e em nada contribui para a evolução da sociedade”, discursa com autoridade a guerreira mulher negra e feliz Lenilda Sousa.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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