A VIDA NÃO PARA.
- obomdemossoro
- 5 de set. de 2015
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SILVANA DE SOUZA GOMES
No dia a dia de Silvana do Samu nada é calmaria. Não que ela só tenha momentos agitados e urgentes. É que ela mesma não consegue conviver com a mansidão do tempo, pois quando ele se apresenta assim em sua vida, logo o torna agitado, com ventos fortes e previsão de novidades. Nascida em Mossoró no dia 31 de agosto de 1968, filha de José Gomes de Lucena, operador da Caern falecido, e Maria do Carmo de Souza Gomes, enfermeira aposentada, passou sua infância nos bairros do Alto da Conceição e Boa Vista até se mudar com a família para o conjunto Abolição, onde mora até hoje. Estudou na escola municipal Antônio Fagundes, no colégio 30 de Setembro e no Estadual. Foi ainda bolsista nos colégios Diocesano e Dom Bosco, por ser uma boa atleta de Voleibol. Jogando pela seleção da AABB, teve a oportunidade de viajar por muitas cidades do estado, além de capitais nordestinas. “Joguei vôlei por mais de 15 anos. Parei quando já era mãe”, conta. Com o curso técnico de segurança do trabalho, atuou durante onze anos em prestadoras de serviços à Petrobrás. Chegou a iniciar o curso superior de Gestão Ambiental, mas por falta de identificação com a área abandonou, preferindo cursar o técnico de enfermagem na Escola Tereza Neo, que funciona no prédio do Dom Bosco.
OS DRAMAS E ALEGRIAS – Em 2002, foi contratada pela Prefeitura de Mossoró para trabalhar no Serviço de Atendimento Médico de Emergência (SAME), inicialmente no Posto de Saúde do conjunto Redenção. Depois passou pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Alto de São Manoel, onde trabalhou por cinco anos, até entrar no SAMU. “Amei poder ajudar as pessoas em momentos difíceis como os que enfrentamos em nosso dia a dia. Ouvir um ‘muito obrigado’ ou ‘Deus lhe abençoe’ justifica qualquer esforço”, destaca Silvana. De tão identificada com este serviço, até por já estar há mais de dez anos na atividade, ela acabou ganhando um novo nome de guerra, nas ruas e nas redes sociais: ‘Silvana do Samu’. “Antes me chamavam de Silvana Doida, pelo meu jeito extrovertido e brincalhão, sempre agitado. No SAMU, temos que manter nossa bateria ligada com 100%, pois nosso trabalho pode custar a vida de alguém. E é assim como a minha passa o dia, sempre a mil por hora”, relata. Dois momentos em sua vida, no entanto, a deixaram desligada totalmente do mundo. Em 1988, ficou grávida de um namorado de cinco anos. A gravidez obrigou aos dois tomarem, finalmente, a decisão que vinham protelando: concretizar a relação através do casamento. Porém, duas horas antes, uma ligação dele para uma madrinha da cerimônia, baqueou Silvana. Ele comunicou que desistira, que não iria casar. O choque foi de tal tamanho que ela preferiu achar ser uma brincadeira. Foi para igreja esperar o noivo sem dizer a ninguém, na esperança de que aquilo não estivesse acontecendo em seu grande dia. “A realidade me bateu forte. Encarar os convidados na igreja, grávida, sem saber como seria minha vida, foi um momento de tristeza profunda. Chorei como nunca. Até que o tempo, curador de todos os males, me fez superar o drama que na hora parecia infinito”, conta emocionada. Ajudou muito o nascimento de Rafael Robson, que hoje é comerciante autônomo, casado, pai de dois filhinhos, Guilherme e Ana Beatriz, que ama e cuida com todo afeto, o mesmo que ele nunca teve do pai que nunca viu. O outro drama de Silvana se deu na morte do pai devido infarto, seu maior amigo e confidente. “Ele era meu pilar, moral e financeiro. Ao perdê-lo, minha vida se desmoronou, ficou vazia. Até hoje choro quando penso ou falo nele. Em meus aniversários ele era o primeiro a dar os parabéns e dizer a frase tradicional: filha tenha juízo. E completava: você é uma pessoa justa e bondosa. Ainda irá vencer na vida”, lembra com lágrimas nos olhos.
TEMPO NÃO SE DESPERDIÇA – Para Silvana, voltar a acreditar nos homens ficou mais difícil após o casamento não realizado. Mas por isso não deixou de ir à luta. Teve outros relacionamentos até se apaixonar novamente aos 26 anos, por Gilberto Jesus Cação Rodrigues, ex-jogador de futebol conhecido em todo o Brasil quando atuava com o nome de Deleon. Um excelente zagueiro que antes de jogar por Baraúnas e Potiguar, foi destaque do Botafogo/RJ, seleção brasileira de juniores e diversos outros times. Com ele teve a filha Vitória Geovana, hoje com 18 anos, concluinte do ensino médio, casada e com um filho de sete meses: Jeferson Kauê. Durante sua vida, além das atividades já citadas, e por nunca se acomodar, Silvana investiu em negócios como espetinho, lanchonete, marmitaria, vendeu roupas, bijuterias e perfumes e há cinco anos possui um lava jato. “Trabalhar muito é o caminho, mas também temos que saber gastar para todo o esforço valer a pena, para não ficar o sufoco no final do mês para pagar as contas”, justifica ela. Silvana tem como princípio a ideia de que só se consegue as coisas através do trabalho duro. “Minha mãe sempre disse que eu era imperativa, danada, resolvedora de tudo. Posso desperdiçar um dinheiro aqui e ali, mas o tempo não. Aproveitar o tempo é nossa grande obrigação”, ensina. Há alguns meses, assumiu a coordenação das mulheres em um partido político da cidade, alimentando o sonho de um dia ser candidata e ajudar as pessoas com toda a sua inquietude. “Minha vida toda fiz as coisas pensando no próximo, olhando para todos os lados. Não nascemos para ser egoístas, precisamos fugir do só pensar em nós mesmos”, finaliza.

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