É AMERICANO O FUTEBOL EM MOSSORÓ.
- obomdemossoro
- 4 de set. de 2015
- 5 min de leitura

ARMANDO GOMES DE MELO JUNIOR
Na última quarta-feira centenas de mossoroenses se deslocaram até Natal para viver uma paixão inexplicável pelo seu time de coração. Flamenguistas mossororenses se deliciaram na vitória contra o Avaí, de Santa Catarina. O jogo foi realizado na Arena das Dunas e 22.825 pessoas deixaram nas bilheterias o valor de R$ 1.639.485,00 para serem divididos entre as duas equipes não potiguares e a administração do estádio. A emoção dos que ali estavam não tem preço, mas como explicar o amor que existe do povo nordestino pelo futebol do Rio de Janeiro? Todas as vezes que se tenta debater este assunto, seja nas redes sociais, nos programas esportivos de rádio e TV ou mesmo nas mesas de bares, nunca se chega a uma conclusão racional, pois quando se fala em paixão, não existe explicação. E ainda tem aquela famosa frase que diz: política, religião e futebol não se discutem. No entanto, um novo amor esportivo tem surgido em Mossoró, atraindo público cada vez maior ao Nogueirão, com fã clube começando a ser criado e crescente número de jogadores interessados em viver suas emoções. Uma paixão fácil de explicar, com história real de como iniciou e se desenvolveu nos últimos oito anos, e o melhor, uma paixão barrista, por uma equipe local, de mossoroenses que dão o suor e o esforço de seus corpos por uma vitória que representa sua terra, sua gente.

DE RECIFE PARA MOSSORÓ – Armando Gomes de Melo Junior, recifense, torcedor do Santa Cruz, uma das três principais equipes de Pernambuco, nasceu em 11 de junho de 1986, filho de Armando Gomes de Melo, motorista profissional com larga experiência em caminhões pesados e em prestadoras de serviços à Petrobrás, e Gercina Cavalcante de Melo, falecida há dois anos vítima de um Acidente Vascular Cerebral, de família atuante no comercio de bananas de Recife. Sua única irmã, Amanda Melo, formada em jornalismo, trabalha na Inter TV Costa Branca, emissora da Rede Globo em Mossoró. Em 31 de dezembro de 2000, o pai Armando trouxe sua família para a Capital do Oeste Potiguar com a missão de gerenciar a distribuição de bananas na cidade, convidado que foi pelo cunhado Geremias Cavalcante, responsável pelo serviço na região. Armando, o filho, se adaptou com facilidade a mudança, apesar da diferença climática que no começo lhe trouxe alguns problemas respiratórios e ressecamento de pele. “Sair de um clima ameno do litoral para uma Mossoró pegando fogo não foi fácil. Mas logo nos adaptamos, pois fomos bem acolhidos pelos mossoroenses, inclusive pelos amigos que fiz com facilidade no Colégio Pequeno Príncipe”, lembra. Havia cursado até o primeiro ano do ensino médio na Escola Cenecista Santa Luzia, em Recife. Ao concluir na escola mossoroense, diz ter encontrado aqui um ensino de melhor qualidade do que a da cidade de origem. Na sequência de sua vida escolar, passou em Educação Física, na UERN, e em Agronomia, na UFERSA, curso que acabou abandonando para se dedicar as atividades esportivas, que amava. Devido às greves seguidas, formou-se apenas em março de 2008, tendo feito concurso quatro anos depois e se tornado professor de educação física da UFERSA.

DESAFIO PARA FORMAR A EQUIPE – Em 2007, próximo de concluir o curso, Armando participou do Congresso Internacional de Atividades Físicas e Fisioterapia, em Fortaleza. No hotel em que ficou, de frente à praia de Iracema, avistou uma turma de rapazes treinando e jogando futebol americano na areia. “Aproximei-me, por curiosidade, e pedi para participar. Era treino da equipe Dragões do Mar, uma das melhores daquele estado. Até então não conhecia o esporte e nem que ele era praticado nas praias nordestinas. Após o treino, fui convidado para jogar na equipe, mas como comuniquei que morava em Mossoró, eles me desafiaram a montar uma equipe na cidade para depois jogarem um contra o outro. Viajei de volta à Mossoró com esta ideia fixa na cabeça”, conta. Assim surgiu o Futebol Americano em Mossoró. Armando convidou colegas da faculdade e seus alunos do CEFET, onde estava estagiando. Conseguiu reunir 15 atletas que deram à equipe o nome Mossoró Petroleiros. O primeiro jogo foi realizado em 27 de março de 2008, contra o Ceará Cangaceiros, em Fortaleza. Amistoso que ficou marcado por ter sido o primeiro no Nordeste a ser realizado em gramado. “Até o surgimento de nossa equipe, todas as demais do Nordeste treinavam e jogavam nas areias da praia. Como não treinava na grama, a equipe Dragões do Mar não quis jogar conosco neste tipo de terreno, indicando outro time de Fortaleza para cumprir o desafio que me havia feito meses antes”, explica Armando. Ainda em 2008, foi realizado o 1º Campeonato Estadual, com três equipes de Natal e a de Mossoró, que se tornou também a primeira competição em grama deste esporte no Nordeste. “Até 2012 já havíamos participado de dois RN Bowl, um NE Bowl e duas Taças de Fortaleza, onde fomos Bi Campeões. Já contávamos com 35 atletas, mas ainda não tínhamos os equipamentos adequados. Neste ano paramos e nos dedicamos à aquisição deste material”, conta.

ORGANIZAÇÃO PARA PROFISSIONALIZAR – Ao entrar na UFERSA, Armando inseriu o futebol americano como uma atividade esportiva de extensão, fator que acabaria sendo de fundamental importância para a estruturação de treinamentos e logísticas das viagens da equipe. Além da troca de nome, pois a equipe passou a se chamar UFERSA Petroleiros, este fortalecimento fez crescer ainda mais os adeptos, que hoje chega ao número de 60, mesmo não sendo baixas as despesas com os equipamentos individuais necessários para a prática do esporte. A equipe perde muitos atletas pela impossibilidade de prover os custos individuais de cada um. Para manter a equipe durante todo o ano, Armando diz ser necessários algo em torno dos R$ 65 mil. Entre os jogadores estão estudantes, petroleiros, advogados, policiais, entre outras profissões, com idades variando entre 16 a 35 anos. É preciso ter um adequado preparo físico, pois os jogos que são divididos em quatro tempos de 12 minutos costumam durar mais de duas horas e meia. Armando tem na torcida do UFERSA Petroleiros sua esposa desde 2013, a funcionária do IBGE Aryane Praxedes. Assim como as demais esposas dos jogadores, ela ajuda a vender os produtos oficiais do time como as camisas, confeccionadas em São Paulo, e os bonés, encomendados em Caicó. Neste sábado, a equipe viaja para Aracajú para o quarto compromisso do ano pela Superliga 2015, quando enfrentará o Sergipe Bravos. O torneio conta com quinze equipes, sendo sete do sul/sudeste e oito do Nordeste. A UFERSA cede o ônibus que só cabem 35 atletas, para tristeza dos que ficam. “Se fosse possível todos os nossos jogadores iam a cada viagem, pois somos movidos pela paixão”, revela Armando. Uma paixão que levou ao Nogueirão no último jogo da equipe mais de 500 torcedores, público maior do que muitos jogos de Potiguar e Baraúnas nos últimos anos. “Tem grupos de gestores interessados em investir no esporte, e nós queremos estar organizados para a fase da profissionalização. Este é o nosso sonho, esta é a nossa paixão“, finaliza.
Comments