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LUTAR POR TODOS, VENCER A SI MESMO.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 3 de set. de 2015
  • 5 min de leitura

MANOEL DE SOUZA

Manoel de Souza, nascido em 01 de maio de 1944, não se lembra do pai. Dele só sabe que trabalhava na fazenda de Odorico Ferreira, em Santa Cruz do Inharé, região do Traíri, quando faleceu de uma doença chamada crupe, infecção viral contagiosa dos canais respiratórios, neste caso provocada pela queima dos resíduos do algodão. Quando este fato ocorreu, a mãe Teodora Cardoso da Silva sem saber o que fazer com sete filhos na bagagem, resolveu distribuí-los nas casas dos padrinhos. Manoel tinha apenas dois anos, e por ser o mais novo, foi o único a ficar com a mãe na casa de seus avós e tias, na cidade de Barcelona/RN. Abalada, a mãe se viu sem condições para criar os filhos e seguir a vida diante da perda do companheiro. Anos mais tarde, ingeriu de forma proposital veneno, desistindo de lutar contra suas próprias angustias. Manoel passou então a considerar como sua mãe a tia Cidalina, tanto que ficou conhecido na cidade como Manuelzinho de Cidalina. Durante 24 anos, conta, não tirou os pés deste pequeno município que mesmo hoje conta com apenas quatro mil habitantes. Sua infância não foi fácil. Ao invés de escola, roçado para ganhar alguns trocados. Puxava capinadeira, juntava seixos para vender, fazia qualquer serviço.

A JORNADA DOS IRMÃOS – Em 1958, teve finalmente contato com dois de seus irmãos. Eles vieram para Barcelona se alistar, juntamente com Manuel, na Frente de Emergência, a forma como o governo federal combatia os efeitos de uma estiagem prolongada. Deca veio de João Câmara, Francisco do Sítio Machado. “Era a única forma que tínhamos de sobreviver. Recebíamos alimentos pelo trabalho de abrir estradas. Feijão, farinha, rapadura e carne de jabá, que era duradoura. Terminada a seca ficamos com um grande estoque de comida. Apenas no último mês que o pagamento foi em dinheiro”, lembra. Quando começou a invernada, seus irmãos ficaram um tempo em Barcelona até tomarem novos rumos. Deca veio para Mossoró, onde já estava na casa do tio Joaquim outro irmão, o Zé Caicó, mecânico da oficina do tio. Ao chegar à Capital do Oeste, Deca foi trabalhar na Organização Anápolis, empresa do Grupo Porcino que funcionava onde hoje está a Casas Bahia. Atualmente, Deca mora em Boa Vista, Roraima, para onde levou o irmão Jesir, que por lá se tornou funcionário público federal. Francisco foi para Minas Gerais trabalhar na agricultura, junto aquelas levas de nordestinos em busca de trabalho no sul do país. Tem ainda o irmão Geraldo que mora em Brasília depois de ter ralado na vida como agricultor e trabalhador autônomo, e a que se deu melhor, Josefa, que passou por Brasília e São Paulo, bem amparada, vivendo sem dificuldades e pertencente a uma igreja evangélica. A irmã mais velha, Maria Anair, casou e é a única que até hoje mora em Barcelona, inclusive na casa de Cidalina, falecida em 1971. Com a morte da tia/mãe, Manoel aceitou o convite do tio Joaquim para vir morar em Mossoró. Seu dilema, ao chegar, era a falta de emprego, já que em Barcelona era funcionário do município na área de comunicação, participando de todas as atividades sociais, culturais e esportivas do município. Pensou em voltar, mas um convite do radialista Evaristo Nogueira para trabalhar na equipe de esportes da rádio Tapuyo o segurou na cidade. Trabalhou dando suporte às transmissões com os resultados dos jogos pelo Brasil e outras informações do mundo dos esportes entre 1972 e 1974. Neste ano, por um acaso ou obra do destino, em um dia onde vinha caminhando em direção à rádio, se deparou com Valter Lopes, um ex-prefeito de Barcelona que, da caminhoneta onde estava, o reconheceu dizendo que estava mesmo querendo falar com ele, indicando que fosse o encontrar no edifício Monte Negro para uma conversa urgente. Chegando lá, Manoel foi surpreendido com a presença do chefe do Posto da Secretária de Agricultura do Estado, Sr. Adalto Soares, a quem Valter comunicou: - É este o rapaz. Naquele momento Manoel estava sendo convidado a trabalhar no serviço público, na época em que concursos eram dispensados. Neste emprego ficou até 1992, quando se aposentou por invalidez ao sofrer um deslocamento de retina.


MARIMILIA E OS FILHOS – Conheceu em 1968 a inseparável esposa e companheira das lutas comunitárias Marimilia Matos de Souza, ao visitar Mossoró pela primeira vez. Voltando à cidade, voltou a encontra-la e passaram a namorar até o casamento que se deu em 06 de outubro de 1977. O nome diferente surgiu de uma história ocorrida no sítio Ibicuitapa, distrito de Icapuí/CE, cidade onde nasceu. Sua vó, que vendia artesanato e por isso viajava para Natal, conheceu por lá a Madre Emília que muito admirava por apoiá-la nos seus trabalhos. Ao nascer a neta, sugeriu que colocasse o nome de Madre Emília, mas o padre local disse ser impossível colocar o nome Madre, já que era um título, e não um nome de pessoa. Então o jeito encontrado foi o de colocar Maria Emília. No entanto, no cartório, sem que ninguém percebesse o erro, ficou registrado o nome de Marimilia. Com ela, Manoel de Souza teve três filhos: Hidalyn, doutor em física da UFRN, pai de Kaleo, único neto do casal; Nyladih, nome do irmão escrito ao contrário, cursando também doutorado em física, só que a especialidade do primeiro é física cosmológica, e a dele voltada para materiais condensados; e Isabel Maria, Belinha, nome escolhido por Marimilia para homenagear a madrinha que lhe criou, formada em Biologia com especialidade em Biologia Marinha. Os três moram em Natal.

AS LUTAS COMUNITÁRIAS – A partir de sua chegada em Mossoró, Manuel de Souza foi se interessando pela geografia humana da cidade. Participando cada vez mais ativamente de sua vida social, cultural e política, particularmente das lutas dos bairros. Aos poucos, foi atuando na criação de Conselhos e Associações comunitárias, associando seu nome à história desse movimento. Seu empenho e liderança o fizeram representar com naturalidade as reivindicações comunitárias das diversas regiões de Mossoró. Ocupou espaços importantes na mídia como o comando do programa ‘A Voz da Comunidade’, na Libertadora, e o ‘Encontro Comunitário’, criado por Benicio Silva, na rádio comunitária 96FM. “Um evento que marcou esta luta foi a exposição comunitária realizada no SESI, nos anos 90, onde o movimento mostrou sua força e união, o que o levou ao fortalecimento e expansão”, lembra Hoje, Manoel de Souza faz parte do conselho comunitário do conjunto Abolição 3, possuindo um rico arquivo da história de luta deste movimento social e se orgulhando de nunca ter se filiado à partido político para não envolver a luta de todos com os interesses pessoais. “Tem muito vereador que diz ter sido eleito pelos movimentos comunitários, quando na verdade tiraram foi proveito do movimento para se elegerem”, acusa. Segundo ele, muitas vezes os filhos perguntam o que ele ganha com todo este trabalho em prol das comunidades, que tanto dissabores geram entre acusações e comentários maldosos. “Minha resposta sempre foi a de que o mal juízo estará presente contra todos os que se destacam em qualquer atividade da vida, porém, a consciência deve ser o guia de cada um”, relata. Sobre o apoio e companhia da esposa Marimilia em todas as suas lutas, diz ser de fundamental importância, pois com ela vive plenamente tudo aquilo que acredita. “Marimilia é minha maior paixão, e o movimento comunitário minha terapia”, confessa. “Sou gratificado por tudo pelo qual lutei, sem radicalismo e envolvimento partidário. Uma luta digna em favor do coletivo”, conclui.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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