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O FILME DA FOME, NUNCA MAIS.

  • Foto do escritor: obomdemossoro
    obomdemossoro
  • 1 de set. de 2015
  • 4 min de leitura

JOÃO BATISTA DA SILVA

Diante da pobreza extrema, João Batista tinha um sonho: tirar a família daquela situação que não deseja para ninguém neste mundo de Deus. O quarto filho de Pedro Paquete da Silva e Antônia Dantas da Silva nasceu na comunidade de Ingá, bairro de Bom Jesus, Mossoró, em 02 de fevereiro de 1951. Seu trabalho, desde a terna infância, era arrumar sobre o jumento, juntamente com seus irmãos, as lenhas que seu pai cortava nas matas e que se transformariam no dinheiro para as despesas daquele dia. Andavam a pé por mais de uma légua até chegar ao mercado central, depois de descarregar o produto nos clientes de casas mais abastadas pelo caminho. Era hora de cada filho se virar para arranjar seus trocados. Carregar os baldes de feira das donas de casa era a melhor opção. João e os irmãos Luís Paquete e José Paquete se dividiam, com cada um indo para um lado da Feira do Alho que ali se realizava todos os dias. O pai, pequenino no tamanho mas gigante na dedicação à família, ficava vendendo os alhos e cebolas produzidos no município de Governador Dix-sept Rosado. Apesar da paralisia na perna esquerda que o fazia andar puxando-a, não descansava um só minuto. Em Ingá, na companhia da mãe, ficava a primogênita Maria Antônia e os dois filhos menores.


SEM ESTUDOS MAS COM SABER – Para não dizer que não estudou, João conta que aos doze anos entrou pela primeira vez em uma escola, improvisada em uma casa lá mesmo em Ingá. Porém, no terceiro dia de aula, a professora da qual nem lembra o nome, mas sabe que era filha do Cabo Cicero, fugiu com o namorado e nunca mais apareceu no lugar. Anos mais tarde, já adulto, querendo aprender a ler e escrever, inventou de contratar uma professora. “Não deu certo, até meu nome que eu sabia fazer desaprendi com aquela professora que só queria que eu fizesse as letras tudo bonitas”, relembra. Em relação às contas matemáticas, para passar o troco aos seus clientes, João é superdotado. Faz tudo de cabeça e rapidamente. Multiplica com a maior facilidade. Aprendeu mesmo acompanhando e fazendo negócios desde criança. “Hoje em dia não me interesso mais em estudar, pois não teria paciência. Mas que sinto falta de um saber melhor, isso sinto”, confessa. Sua brincadeira principal quando criança era jogar futebol gol a gol, com bola de meia e dois de cada lado em campo de areia. Namorou pouco, até que aos 21 anos conheceu Maria José de Assis, uma garota bonita de 17 anos que trabalhava com o pai em uma lanchonete do mercado central. Depois de quase um ano de namoro, casaram e vieram morar na Rua Marechal Hermes, Paredões. Tiveram cinco filhos, sendo que a terceira morreu de repente quando tinha apenas seis meses. “Foi um quebranto”, afirma João. Os demais, Sergio Reis, Célio Roberto e Célia Regina estudaram e são técnicos mecânicos, e Cleiton tem uma banca de temperos na Cobal. Completando a família têm ainda os quatro netos, aos quais João se derrete todo quando chega em casa. “Peço todos os dias a Deus que não deixe faltar a eles o que faltou a mim e meus irmãos, e depois ainda aos meus filhos”, revela. Desde 1992, quando abriu a Casa dos Temperos, João pôde respirar um pouco mais na luta pela sobrevivência. Sem desperdiçar tempo, nem dinheiro, tem conseguido por comida nos pratos dos seus, além de ajudar aos irmãos no que pode. O filho Sergio, que ficou desempregado a pouco e mantém presença constante na loja, diz que seu pai é muito inteligente e de grande dignidade. “Nunca quis nada de graça, sempre batalhando com seu suor. É um exemplo que orgulha a mim e aos meus irmãos”, afirma. Já o pai, Seu Paquete, faleceu aos 94 anos como agricultor aposentado vendo o sonho do filho se realizar. Quando vinha receber seu dinheiro no banco, gostava de ficar na calçada da loja conversando com os amigos da época das grandes lutas diárias.

VARIEDADES QUE MUDARAM A VIDA – Para competir com a concorrência, João diz que o segredo é manter sempre a loja abastecida com os produtos que o povo procura. “Para quem não sabe ainda tem muitos meninos que gostam de brincar de baladeira, senhores que fumam cachimbo e donas de casa que usam lamparinas no lugar de velas quando falta energia”, exemplifica. Entre os produtos mais procurados atualmente estão os tradicionais Boldo, Marcela, Cidreira, Camomila, Erva-Doce e Canela, para fazer chá; HIbisco para dieta; ervas como as Sementes de Chia e Sucupira, Seca Barriga, Unha de Gato, Alcachofra e Garra do Diabo; Óleos de Girassol, Andiroba e Gergelim; cascas de Catuaba, Babatimol e Torém; e gel massageador da cartilagem de tubarão. Tem ainda os produtos variados na linha de temperos e especiarias como alho, pimenta em grão ou moída, colorau, salsa e cravo. Mel e lambedores, além de corda, vassoura, balaio e colher de pau, completam o estoque de itens que fizeram a vida de João e de sua família ganhar novos tons de cores e sabores. “O filme da miséria não quero que minha família assista nunca mais”, finaliza o bom e trabalhador João.

 
 
 

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Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.

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