LIBERDADE COM TEMPERO DE AMOR.

KLEDNA SUYANA DE OLIVEIRA

Nascer em 03 de dezembro de 1981 foi uma vitória para Kledna Suyana. Sua mãe estava em difícil tratamento de tuberculose e confessara a algumas funcionárias do Hospital Rafael Fernandes, especializado em doenças infectocontagiosas, que não iria ter como criar o bebê que estava para nascer. A informação chegou aos ouvidos da auxiliar de serviços gerais do estado, Dalvacir Barbosa de Oliveira, uma areiabranquense determinada, mas também desiludida com os relacionamentos amorosos. Tinha tido dois filhos homens de dois amores que não foram exatamente exemplos de lealdade, e vivia pensando em adotar uma menina, pois achava que na velhice ficaria só já que, diferentemente de um marido, uma filha jamais abandonaria uma mãe. Ela então procurou a mulher e disse-lhe que se fosse menina ficaria com a criança. E assim aconteceu. No dia 04 de dezembro, dia seguinte do nascimento, a menina já estava na casa de Dona Dalvacir, no conjunto Liberdade I, para uma grande receptividade de amigos e vizinhos que lhes trouxeram roupas, fraudas e alimentos.

ENFIM, A LIBERDADE – A infância de Kledna foi de brincadeiras e estudos, mas sempre ajudando a mãe e a avó Luzia Avelino nos trabalhos de casa. Estudou nas escolas estaduais José Martins de Vasconcelos (Liberdade) e Antônio Gomes (Paredões), e na municipal Celina Guimarães Viana (Barrocas). Concluiu o ensino médio na estadual Dix-sept Rosado. Seus irmãos Kleber e Kleilton, mais velhos do que ela 12 e 9 anos, respectivamente, procuravam não se envolver muito em sua vida. Assim, ela cresceu buscando a experiência e a liberdade por conta e risco, aspirações de qualquer adolescente. Aos 14 anos, acreditando ser uma menina ‘presa’ demais, teve um relacionamento com um rapaz que durou sete anos, pois sua mãe exigiu que ficassem juntos devido ele ter ‘mexido’ com sua filha. Por opção, não tiveram filhos. Priorizando os estudos, Kledna tomava anticoncepcional. “Quando o encanto acabou, resolvemos terminar a relação de forma amigável”, conta. Dois meses depois, Kledna reencontra um amigo de infância que havia, inclusive, sido afilhado de fogueira de Dona Dalvacir. O namoro com Tiago Diógenes de Oliveira durou cerca de um mês. Por imprudência, ou destino, Kledna havia deixado a prevenção de lado após o termino da antiga relação achando que não correria maiores riscos. No entanto, dois meses depois, descobriu que estava grávida. “O chão sumiu de meus pés. Não tinha a menor condição financeira para ter aquela criança, e nem queria que Tiago voltasse para mim pelo fato de estar grávida”, lembra. Após muito aperreio e muita conversa eles acabaram se entendendo. Tiago assumiu a paternidade, registrando a criança e dando a assistência possível durante pouco mais de cinco anos. Foi um período difícil na vida de Kledna. Sua filha nasceu em 14 de abril de 2004 e ganhou o nome de Klednadja Taine de Oliveira. Passou o primeiro ano morando com sua mãe, até decidir ir para uma casa que sua avó havia ganhado de um programa de residências populares do governo federal. “Foi quando encontrei, finalmente, o sentimento de liberdade, uma independência que me fazia sobreviver com dificuldades, mas que me dava prazer. Trabalhava em uma fábrica de beneficiamento de castanhas, ganhava meu dinheiro e não precisava estar prestando contas do que fazia para ninguém. Em relação ao amor, raramente procurava porque queria cuidar bem melhor de minha filha. Quando aparecia alguém, sempre aparecia um motivo qualquer para não dar certo”, relembra.

A RECONCILIAÇÃO BEM VINDA –Passados alguns anos, Kledna começou a perceber que Tiago tentava uma reaproximação amorosa. De temperamento duro, personalidade forte e firme nas decisões, deixou claro que ele precisaria saber lhe reconquistar, pois haviam ficado mágoas e traumas de toda aquela história mal resolvida. Assim ele fez, mandando flores, pedindo música nos programas de rádio que ela gostava de ouvir durante a noite, e ainda, por ser excelente cozinheiro, se oferecendo para fazer almoços especiais para ela na casa de dona Dalvacir. Deu certo. Em 2008 estavam de volta para uma relação de amor que dura até hoje. Foram morar na casa da mãe de Tiago, Dona Rosa Neci, considerada Por Kledna sua segunda mãe. Em 09 de julho de 2009, casaram de papel passado sob as bênçãos da Catedral de Santa Luzia. Com a ajuda da sogra, conseguiu emprego em um consultório de oftalmologia, enquanto Tiago era auxiliar de cozinha em um renomado hotel da cidade, onde ainda exerceu posteriormente as funções de padeiro, confeiteiro e cozinheiro. Anos depois, quando os dois se viram desempregados, colocaram uma lanchonete no conjunto Liberdade que os satisfizeram financeiramente até começar a escassez de clientes, levando preocupação para Tiago e o caminho da bebida exagerada, o que os levaram a fechar o negócio. Ele ainda trabalhou em um posto de combustíveis e em uma empresa na estrada para Baraúna. Ao entrarem para uma igreja evangélica, encontraram na fé a força necessária para manterem-se unidos em busca de novas soluções para suas vidas.

A MAGIA DOS MOLHOS E TEMPEROS – Foi quando a ‘santa’ Rosa entrou mais uma vez em ação e, através de amizade, conseguiu que o filho e a nora fossem contratados, no mesmo dia, por uma grande rede de supermercados de Mossoró. Enfim, a estabilidade financeira que Kledna tanto buscava começava a virar realidade. Ela entrou na empresa como auxiliar de cozinha no restaurante de uma das filiais. Ele no setor de padaria de outra filial, onde hoje exerce funções variáveis, pois sua habilidade e conhecimento o faz ser sempre convocado para resolver diferentes questões. “Aos poucos fui criando gosto nos preparos dos pratos, passei a conversar mais com Tiago sobre dicas de cozinha, sobre molhos e temperos que poderiam ser utilizados para diferenciar os sabores”, revela Kledna. Esta dedicação foi recompensada quando abriu a vaga de cozinheira. Em outubro de 2014, após uma reunião com os funcionários do setor, o gerente da loja anunciou que ela seria a nova cozinheira responsável pelo cardápio diário do café da manha e do almoço. Depois de viver a liberdade, sentir o prazer de ser mãe, ter seu grande amor de volta para construir uma família, só lhe faltava o reconhecimento profissional. “É gratificante ouvir a satisfação dos clientes sobre nossos pratos. Sinto-me feliz em poder ter ultrapassado tantos obstáculos em minha vida e, com a ajuda de pessoas queridas e a fé em Deus, poder ter tido a paciência e lucidez necessárias para chegar até aqui”, descreve Kledna. Em janeiro passado ela, Tiago, Klednadja e Dona Rosa se mudaram para uma casa nova no Alto de Sumaré. Grávida de quatro meses, espera continuar recebendo da vida a luz necessária para abrir os caminhos da real felicidade. “Todos nós temos problemas a serem enfrentados, desgostos e desilusões. A diferença é o tempero de amor e otimismo que colocamos em cada caso. É ele que faz com que tudo seja resolvido da melhor forma”, ensina.

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