UMA VIDA DE ENTREGA AOS CORREIOS.

DÉCIO LAZARO VIEIRA

O próximo dia 15 de setembro será de emoção na agência do Centro dos Correios de Mossoró. O dia de despedida de um casal de funcionários muito especial. Décio Vieira e Maria de Fátima de Góis Vieira se conheceram nesta agência em 1978, onde também ocorreu o eficaz incentivo dos colegas para que surgisse entre eles o amor que já dura mais de 35 anos. “Lembro o dia em que Décio chegou à agência e foi se apresentar ao gerente”, revela Fátima. Será que já estava de olho? Após uma risada tímida desconversa: “Que nada, apenas ficou aquele registro em minha cabeça”, confessa. Décio nasceu na cidade de Paraú no dia 11 de fevereiro de 1954, filho de Raimundo Nonato Vieira e Afonsina Batista Vieira, ambos falecidos. Eles tinham uma farmácia na cidade e era dela que vinha o sustento da casa. Como não tinha muitas responsabilidades por ser o filho caçula, a obrigação era apenas estudar, assim o fazendo na Escola Estadual Luíz Gondim. Aos vinte anos, no entanto, teve que se virar sozinho e quando passou em uma prova para ingressar na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, agência de Assu, distante 37 quilômetros. “Viajava na segunda e voltava no sábado. Fui morar em um pequeno apartamento que servia mesmo só para dormir. Passava o dia nas ruas entregando correspondências, e fazia as refeições em um restaurante modesto próximo ao trabalho. A roupa usada juntava e trazia para ser lavada em Paraú. Do meu salário uma parte deixava para meus pais, pois nunca tive vaidades”, conta.

ENCONTRO DO DESTINO – Em 1978, quando os pais já haviam se aposentado, a família veio morar em Mossoró para oferecer as duas filhas mais novas um estudo mais adequado. Décio então pediu sua transferência para ficar novamente morando no seio familiar. Foi quando conheceu a areia-branquense Fátima, com quem viria a se casar em janeiro de 1983 e com quem teve a única filha, Deciomara Tereza de Góis Vieira, acadêmica de enfermagem. Durante seus 37 anos de atividade em Mossoró exerceu a profissão de carteiro em todos os bairros da cidade, na entrega de Sedex aos sábados, e no serviço convencional durante a semana seu setor foi sempre a área central da cidade. “Muitas coisas mudaram neste período. Hoje já não entregamos aquelas quantidades de revistas pesadas. Cada editora das publicações nacionais possuem sua própria rede de distribuição. Já diminuiu também, em época de eleição e de final de ano, aqueles pacotes de impressos dos políticos para seus eleitores. Mandavam até para quem já havia morrido”, brinca Décio. Confirma ainda que é o cachorro realmente o maior inimigo do carteiro. “Eles não podem ver a farda da empresa”, relata. Apesar de nunca ter sido mordido por um, diz que um colega, após ser atingido pela dentada feroz, retribuiu com uma bela pedrada, motivo pelo qual acabou sendo transferido de setor depois que o dono do cão foi reclamar da atitude do funcionário. “O gerente achou melhor prevenir, pois aquele relacionamento entre o animal e o carteiro não estava caminhando bem”, comenta.

UNIDOS TAMBÉM NA FÉ – Décio é hoje o carteiro mais antigo em exercício na cidade de Mossoró, tendo abraçado seu ofício com muito amor e dedicação, buscando estar sempre atento e tratando a todos com gentileza. Recebeu por isso o título de Operário Padrão dos Correios do Rio Grande do Norte em 1994, além de ter sido personagem da foto vencedora de um concurso de Fotografia promovido pela empresa no âmbito nacional. Guarda com carinho os Diplomas recebidos durante toda sua trajetória profissional, como a do Carteiro Amigo, por participar de uma Campanha de Aleitamento Materno, e os de Relevantes Serviços Prestados, quando chegou aos 15, 25 e 35 anos de empresa. Seis anos atrás pegou sua aposentadoria, mas optou em continuar trabalhando. A mesma coisa havia feito sua esposa. Agora, com o incentivo oferecido pelos Correios, ambos optaram em deixar o serviço definitivamente. “Vamos curtir mais a vida. Continuar viajando com os amigos da igreja e participar mais dos eventos religiosos”, antecipa Fátima. Juntos já conheceram Nova Jerusalém, Garanhuns, Canção Nova em Cachoeira paulista, a Catedral de Aparecida do Norte, Campos do Jordão, o Rio de Janeiro, Recife, Olinda e várias vezes estiveram em Fortaleza, na casa de parentes. Católicos atuantes, o casal faz parte da Pastoral do Dízimo da igreja São José e são cursilistas, fazendo retiros espirituais periodicamente. “A fé é a forma mais simples de obtermos a resposta sobre a razão de nosso viver. Minha união com Fátima foi um encontro já marcado pelo destino e nele vamos sendo cumplices nos caminhos que a nós destinados por Deus”, acredita Décio. No próximo dia 15 terão que estar bastante preparados, pois não será fácil controlar os sentimentos de toda uma vida ligada a empresa que lhes deu tudo que possuem. “Damos graças por tudo que conseguimos através do trabalho dedicado. Estamos saindo de cabeça erguida e na certeza de que muitos gostariam de ter vivido esta oportunidade. Uma história de muitas amizades, alegrias e fé”, finaliza.