NINGUÉM PODIA COM ‘CONFUSÃO’.
- obomdemossoro
- 19 de ago. de 2015
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FRANCISCO CESÁRIO (IN MEMORIAM)
Nascido em Caraúbas no dia 05 de março de 1929, chegando cedo com a família em Mossoró, Francisco Cesário viveu seus 85 anos de forma bastante intensa, produtiva, cheia de aventuras e vaidades. Um roteiro de filme de ficção onde procurava sempre ser o personagem principal, estrela de um elenco que aprendeu a amá-lo do jeitinho que era, dentro de seus interesses, conveniências e bondades.
Chiquinho Confusão deixou seu nome marcado na história de Mossoró por muitos motivos. O sobrenome sugestivo que ganhou por se só já revela um deles. Gostava de uma briga bem brigada, e quanto mais difícil ela fosse melhor seria.
Formado eletricista pela vida, trabalhou nas instalações das redes de fiação da antiga COMENSA (Companhia Melhoramentos de Mossoró S.A.), empresa que foi posteriormente absorvida pela Cosern quando da sua criação. Também trabalhou muitos anos para Sertel, fazendo fiações telefônicas, onde foi chefe de redes de cabo, apesar de não saber ler e escrever. Mesmo aposentado em junho de 1979, não deixou de realizar inúmeros projetos elétricos para empresas privadas como as redes de postos Líder e Estrela Dalva. Trabalhou para muitos políticos da cidade nas épocas de eleição instalando a energia nos palcos dos comícios.
MULHERES DE MUITOS AMORES – O setor onde Chiquinho fazia sucesso de verdade, porém, era outro bastante diferente. Dizia ter tido 25 filhos em sua vida, mas a estatística feita por sua família oficial registrou 19. Antes mesmo de casar no cartório com Raimunda Gomes da Silva Cesário, com quem conviveu por 57 anos e teve seis filhos, ele já tinha casado no religioso, sem dizer nada, com Adalgisa de Lima, com quem já tinha duas filhas e que depois ainda viria a ter mais nove. A confusão começava a ser formada.
Dona Mundinha tinha 16 anos quando conheceu Chiquinho nos pastoris de Leôncio, de Maria de Pencinha e da Rua Pedro Velho. Ele ficava dando em cima da menina ao ponto que João Salustro, irmão dela, conhecido como Cambeba, acabou se irritando e partindo para a troca de murros e bofetões com seu futuro cunhado. Nada adiantou. Ela aceitou as conversas bonitas do namorador profissional e casou com ele sem saber da outra.
Mas esse era só o começo de problemas ainda maiores que iriam surgir nesta área sentimental. Apareceu uma terceira mulher fixa na vida de Confusão. Francisquinha era outra menina nova e bonita que ele deu em cima, atiçando a ira de Mala Véia, seu tio, que foi atrás da honra de sua sobrinha em um bar na Baixinha para encontrar Chiquinho e fazer as honras devidas. Foi tabefe pra tudo que é lado. “Com meu pai não tinha isto de fugir da briga”, conta Nerialba, uma das filhas de Mundinha.
Com Francisquinha, Chiquinho teve um filho apenas, já falecido, assim como com a quarta mulher com quem convivia, esta do bairro Bom Jardim. Dôca teve com seu grande amor uma única filha, que hoje mora no Maranhão. Já de Vicenza, da Rua Marechal Hermes, não se tem notícias de filhos. Com ela nem chegou a morar devido à ‘confusão’ que se instalou com os irmãos dela. “Não tinha quem desse jeito, onde tivesse festa e mulher nova e bonita lá estava Chiquinho se fazendo presente”, conta Mundinha.

PROCUROU EM TODAS AS MULHERES A FELICIDADE – Vaidoso, só queria andar de branco, inclusive as cuecas. As calças tinham que ser de linho. Quando teve lambreta, enfeitou-a com ‘foguitos’ de luz que ele mesmo instalou, para se destacar diante dos demais motociclistas da época. Queria pintar o cabelo toda semana, pois dizia que cabelo branco era para velho. Sua filha Edjane contou que certa vez, já com mais de 80 anos, insistiu com ele para aproveitar a fila preferencial em um banco e ele teimou em não ir dizendo que não era velho.
Por amar a marca Volkswagen, possuiu três fuscas. Dirigindo-os, se sentia um verdadeiro dono de harém, pois gostava de passear com suas ‘esposas’ para comprar e presentear a elas tudo de bom, em um rodízio de mulheres que só ele mesmo entendia. Conformadas com a situação, todas elas o aceitavam com respeito e fidelidade.
Devido quedas de moto após bebedeiras, possuía platina na bacia e nas pernas. Mas isso não lhe afetava, pois na boca tinha dentes de ouro, só para mostrar que estava podendo. Nos últimos anos de sua vida bebia todos os dias umas duas a três latinhas de cerveja, com tira gosto de melancia. Vitorioso e triunfante durante toda a vida, Chiquinho só não resistiu ao carnaval de 2014. Na segunda-feira teve um primeiro Acidente Vascular Cerebral – AVC, que deixou seu lado direito paralisado. Na quarta-feira de cinzas um novo AVC atingiu seu lado esquerdo. Passou apenas a balbuciar palavras e chorar bastante quando da visita de seus filhos. “Ele nunca discriminou filho nenhum, era amoroso com todos eles”, lembra a filha Edjane Oliveira.
Durante todos os 52 dias em que esteve internado, contou com a companhia da filha Maria Neuman, a mais velha de D. Mundinha. Ela lembra ter conhecido lá a última namorada do pai. “Era uma mocinha de uns 26 anos chamada Marcia. Chegou, chorou muito e disse que ele sempre foi muito bom para ela, que a havia ajudado bastante. Assim como ela, muita gente chegava para visitá-lo que eu nunca havia visto antes”, relembra.
No dia 24 de abril de 2014 Chiquinho Confusão faleceu, deixando na memória dos que lhe amavam a letra da música ‘Mulheres’, de autoria de Toninho Gerais, famosa na voz de Martinho da Vila.
Já tive mulheres de todas as cores/De várias idades de muitos amores
Com umas até certo tempo fiquei/Pra outras apenas um pouco me dei
Já tive mulheres do tipo atrevida/Do tipo acanhada, do tipo vivida
Casada carente, solteira feliz/Já tive donzela e até meretriz
Mulheres cabeças e desequilibradas/Mulheres confusas de guerra e de paz
Mas nenhuma delas me fez tão feliz como você me faz
Procurei em todas as mulheres a felicidade/Mas eu não encontrei e fiquei na saudade
Foi começando bem mas tudo teve um fim/Você é o sol da minha vida a minha vontade
Você não é mentira você é verdade/É tudo que um dia eu sonhei pra mim.
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