O BRILHO DA SUPERAÇÃO.
- obomdemossoro
- 17 de ago. de 2015
- 4 min de leitura

MARIA SOLANGE DOS SANTOS COSTA
Solange Santos, idealizadora e ancora do programa Revelando Historias (UERN TV - Canal 21 TCM), cresceu no seio de uma família humilde e numerosa. Viviam com ela seus avós maternos, um tio, duas primas, a mãe e duas irmãs somente por parte da mãe. Sempre sentiu a falta de alguém que não conhecia: seu pai. Sua mãe, como uma forma de defesa, sempre a dizia que ele tinha a abandonado ainda quando estava em sal barriga. “Às vezes, em momento de maior raiva, dizia que ele não gostava de mim, que não se importava comigo, do contrário, não teria ido embora”, falava.
Nesta situação, Solange se sentia diferente das demais crianças. Algumas coleguinhas não tinham os pais por perto, mas pelo menos os conheciam, enquanto ela só tinha uma foto 3x4 do pai. Chorava muito por não o conhecer, como também pelas consequências que sua ausência a causou. “Sentia-me sem valor por acreditar que nem meu pai me queria. Repeti isso várias vezes para mim, apesar de alimentar um desejo enorme e a certeza que Deus um dia me concederia o privilégio de vê-lo de perto”, conta.
A renda da família era apenas as aposentadorias dos avós, meio salário mínimo cada, e do tio, que ganhava um. Com este dinheiro pagavam o aluguel da casa e o que sobrava nunca chegava até o final do mês. “Sempre estávamos de mudança e as casas eram bem simples. Moramos em uma que nem energia elétrica tinha. Usávamos lamparina. Tínhamos poucos moveis, entre eles, um pote de água”, recorda Solange.
Uma vez, lembra que seu avô chegou em casa com alguns alimentos numa sacola. Descobriu anos depois que ele era pedinte, o que a faz ter muito orgulho dele. Apesar de velhinho, sem poder trabalhar, buscou de alguma forma não deixar faltar alimento para família.

TRAUMAS QUE NÃO SE APAGAM – Solange nasceu em Assu no dia 07 de julho de 1979, quando a mãe já havia se separado do pai de suas duas filhas. A mais velha, Maria da Conceição de Fatima, era como se fosse uma segunda mãe para ela, pois suas diferenças de idade chegava perto dos 10 anos. Até que aos 17 anos Maria foi vítima de afogamento na Barragem Armando Ribeiro. “Ela morreu na sexta-feira santa e seu corpo foi encontrado somente no domingo. Foram dias de angústias. Sua morte me causou alguns traumas. Fiquei uma criança nervosa, não podia ouvir que alguém estava demorando a chegar, que logo começava a gritar, tremer e uma forte dor de barriga. Ainda hoje luto para controlar esses sentimentos”, revela.
Depois desta tragédia, Solange foi abalada com novas perdas. Primeiro do avô, seis meses depois foi a vez de a avó falecer, e logo em seguida do tio. De repente sua família foi se desfazendo. Cada ano era certeza alguém morrer. “Eu passei a ter problemas para me relacionar com as pessoas, pois tinha medo delas morrerem. Passei a ter problemas na escola, era sempre calada, não aguentava muita pressão. Era travada”, diz.
Ela se lembra de uma professora que ao invés de educar, orientar, acalentar, mangava dela quando ficava nervosa e chorando. Com este exemplo negativo, os colegas faziam o mesmo. Sua casa já não era o melhor lugar, faltavam pessoas, e a escola passou a também ser um tormento. Era na igreja evangélica onde se sentia em paz. “Sentia-me feliz e especial pela voz que Deus me deu. A música sempre foi uma aliada para mim. Através dela, falava o que sentia, pois durante toda minha infância e adolescência fui uma garota complexada e cheias de traumas”, revela.
Frequenta a igreja desde os seis anos, e já nesta fase participava dos cantos. Com o tempo, foi assumindo seu lado musical, cantando sozinha no púlpito e sendo cada vez mais reconhecida, até que em 2007 gravou o CD denominado ‘Eu Sou Contigo’, com ótima aceitação nas igrejas.

A VOLTA POR CIMA – Sem poder mudar o passado, Solange passou a lutar todos os dias para que ele não atrapalhasse seu futuro. Casou aos 19 anos com Magno de Souza Costa, mestre em física e funcionário da UFERSA, com quem teve o filho Petrus Magno, hoje com 12 anos. Seu casamento foi ainda mais especial por ter podido realizar o sonho de ter seu pai a levando ao altar. “O conheci quando tinha 16 anos. Nossa, como foi importante. Amo o meu pai e sei que ele também me ama. Conheci outros irmãos e sempre que dá certo, estamos juntos”, revela.
Em relação à realização profissional, até ela mesma duvidava que fosse capaz de cursar uma universidade, devido seu atraso nos estudos. Hoje, cursando na reta final o curso de Comunicação Social, habilitação em Radialismo, Solange relembra que prometeu a Deus que se entrasse, honraria a oportunidade. Jornada acadêmica que deve muito ao esposo, por ter sido seu maior incentivador. “Sem seu apoio e compreensão não teria conseguido chegar até aqui. Posso dizer que sou feliz, pois tenho um esposo e um filho que são tudo para mim”, emociona-se.
Para quem antes tinha medo de falar até entre seus colegas, hoje se ver apresentando um programa de televisão que ela mesma idealizou, buscando vencer os novos obstáculos, medos e inseguranças como estagiária da Uern TV. “Não podemos deixar que as marcas do passado nos tire o brilho de viver o presente. Quero trazer na memória só o que pode me dar esperança”, finaliza.
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