UM FILHO EM BUSCA DE LUZ.
- obomdemossoro
- 8 de ago. de 2015
- 5 min de leitura

ANTONIO LAURINDO MATOS (PARTE I)
Nascido em 12 de abril de 1960, o mossoroense Antônio Laurindo viveu seus primeiros anos de vida no bairro Santo Antônio, região da popular Baixinha, com sua única irmã, Maria das Graças da Silva Matos, filhos do pedreiro Francisco Laurindo de Matos e da dona de casa Aurea Maria da Silva. O casal se separou quando ele tinha apenas 3 anos e a irmã 2. Foram morar na casa da avó materna. “Lembro do parque de diversão, das peladas com os amigos, mas bicicleta mesmo só tive aos 20 anos, como instrumento de transporte para trabalhar”, diz.
Por falta de recursos financeiros, a avó tinha costume de bater nos dois netos, revoltada e sem paciência, distribuía brutalidade enquanto faltava carinho e estimulo para dar. Nesta situação seu Antônio encerrou seus estudos na 5ª série, e já aos 11 anos foi trabalhar como auxiliar de padaria. A partir daí sua vida foi sempre no trabalho, quando não encontrava na cidade ia para roça. “Nem conheci minha mãe, e talvez por isso a perdoo por ter nos abandonado. Meu pai, no entanto, não tem como perdoar, pois o tempo me fez conhecer a sua maldade”, confessa.

VIRANDO-SE SOZINHO – Aos 12 anos resolveu sair da casa da avó. Fugiu para Fazenda Formosa, dormindo em baixo de uma lona, próximo de um açude e alimentando-se de mortadela crua ou assada na brasa. Algumas vezes, ele e outros trabalhadores na mesma situação arrebatavam do leite jogado aos porcos. “Foi mais de um ano trabalhando em troca de comida, fornecida de quando em vez pelo barracão da fazenda”, lembra. Entre os 12 e 15 anos, seu Antônio trabalhou na Fazenda Bom Destino cortando lenha, apanhando feijão, algodão, plantando, colhendo e quebrando milho, arrancando toco e brocando a terra. Recebia tão pouco que só dava para comer. “Mas já era melhor do que na fazenda anterior”, ressalta.
Um emprego melhor conseguiu no supermercado Jumbo como auxiliar de padeiro, foi apenas três meses, mas que significou muito quando ele decidiu viajar de carona para São Paulo. Chegando na capital paulista, sem conhecer nada nem ninguém, logo identificou uma placa do Jumbo no percurso. Parou, e foi direto procurar emprego por lá. Não encontrou dificuldade, sendo contratado como entregador de pizza. “Minha sorte foi que uma pessoa passou uma semana comigo mostrando os locais de entrega. Neste emprego fiquei oito meses”, conta.
Seu Antônio queria conhecer o mundo, assim, não aguentava ficar muito tempo em um mesmo serviço. Não sabia era que o próximo seria uma experiência das mais perigosas. Foi contratado pela fábrica das pilhas Rayovac no pior setor de produção, onde ficavam as caldeiras, com fogo e brasa por todos os lados. Hoje em dia o processo já foi modernizado, mas na época o trabalhador respirava fumaça e gases tóxicos com muita facilidade. “O meu corpo foi exigido ao máximo, tanto que no setor só se podia ficar três meses. Passado este tempo, fiquei mais um ano e três meses no corte do flandre”, conta.
Teve ainda a próxima parada, desta vez na fabrica da Volkswagen, como repositor de peças. Seu Antônio providenciava as peças solicitadas por outros setores. Ficou apenas nove meses na empresa. Também trabalhou como pedreiro, fazendo acabamentos, onde ganhou um pouco melhor. Através de conhecidos, foi parar no Porto de Santos, onde foi biscateiro durante mais de um ano. Em toda a sua estada em São Paulo, sempre morou em barracos, que na verdade só serviam para dormida, já que saia de madrugada e só voltava tarde da noite. “Somente no último trabalho é que consegui construir um barraco de alvenaria que, ao vender, me deu as condições de voltar para Mossoró”, explica.

AS NOVAS AVENTURAS – No dia 28 de fevereiro de 1986 seu Antônio estava de volta a sua terra e não tardou para arranjar emprego. A sua fisionomia de trabalhador, aliado a experiência adquirida, ajudou a ser escolhido pela Usibrás entre muitos outros que ali esperavam. Só que o trabalho não era para qualquer um. “A película da castanha queimava todo o meu corpo. Só aguentei um dia e pedi minha carteira de volta. Só que eles me mandaram para o médico que me orientou a passar álcool no corpo durante o expediente. Fiquei ainda dois dias no setor com o pensamento de pegar minha carteira e ir embora”, lembra.
No entanto, algo surpreendente lhe aconteceu. Foi chamado na ‘gaiola’, o obscuro e tenebroso lugar onde ninguém queria colocar os pés. É lá onde fica a gerência geral, e quase sempre, vai para lá quem fez algo errado. Contudo, ao invés de ser demitido, seu Antônio recebeu o convite para ser o Chefe da Umidificação. “Só podia ser Deus atuando em meu destino”, afirma.
Começava ali o melhor período de sua vida. Logo de cara, evitou a perda de sete mil quilos de castanha, problema criado por seu antecessor, demitido justamente por isto. “Não sei como tive a sensibilidade para resolver aquela situação, pois nem conhecia ainda aquele serviço. O que sei é que no outro dia o Sr. Assis me parabenizou pelas decisões e ainda aceitou me adiantar um dinheiro que eu pudesse comprar uma bicicleta para minha locomoção”, lembra.
O SUCESSO DOS PINTINHOS COLORIDOS - Após quatro anos de bom salário e estabilidade, uma discussão com o chefe imediato provocou a saída de seu Antônio da Usibrás. Novamente, o inusitado marcou sua trajetória. Foi procurar serviço em Campina Grande, Paraíba, onde foi acolhido por um amigo taxista que estava com um filho voltando do sul desejando colocar um negócio na cidade. Seu Antônio, perspicaz, deu a receita que até hoje não sabe de onde surgiu: “Vamos comprar uma Kombi e trocar pintinhos coloridos por ferro velho”.
A ideia foi recebida com receio pelo dono do capital, Sr. Josias, mas ele acabou aceitando o desafio. Seu Antônio foi então a Salvador/BA para regularizar a documentação da Kombi sonorizada que haviam comprado. Foi ele também que providenciou a compra dos primeiros 300 pintinhos, comprou a tinta adequada para pintá-los, além de ele próprio fazer o tratamento artístico nos animais. “Era pinto amarelo ovo, azul, rosa choque e natural. Comprávamos por R$ 0,10 centavos e quando não trocávamos vendíamos por R$ 0,50. Não sobrava um”, relembra.
No sistema de som da Kombi tocava a música Estica e Puxa, sucesso do Show da Xuxa na época, e na locução seu Antônio dizia: “Opa que beleza garoto... chegou o carro do pintinho colorido... o carro do troca-troca. Aqui o moço troca o pintinho por litro, garrafa, chumbo e metal. É só trazer que o moço troca.”
Será que aquele negócio daria certo? A resposta foi imediata. A primeira viagem não percorreu 100 metros. “Embaixo de um pé de azeitona paramos a kombi pela primeira vez com os trezentos pintinhos no estoque. No final da manhã estávamos com nove mil quilos de ferro velho e a certeza de um grande negócio em nossas mãos”, diz. Oito meses depois, seu Antônio novamente voltava para Mossoró, desta vez com um caminhão de pintinhos coloridos e sua mesma garra e dedicação para o trabalho.
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