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- obomdemossoro
- 27 de jul. de 2015
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MANOEL VIEIRA GUIMARÃES NETO
Nascido em Mossoró em 14 de janeiro de 1952, padre Guimarães é filho do ferroviário José Vieira Guimarães (in memoriam) e de Angelita Fernandes da Mota Guimarães, 93 anos. Terceiro de cinco filhos, tem sua história de vida envolvida desde cedo na religiosidade, uma raiz que vem de longe, tanto por parte da família do pai quanto da mãe.
Seu bisavô, avô de seu pai, Manoel Antônio de Albuquerque, foi o responsável pela construção da primeira capela onde hoje se encontra a matriz de Nossa Senhora da Conceição. O local na época era chamado de Alto dos Macacos. Sua filha, avó de Pd. Guimarães, Lucia Albuquerque, por muitos anos deu continuidade ao trabalho de seu Manoel naquela comunidade, tanto na profissão de professor, comum a ambos, como nas tarefas religiosas. “Muitos pais a convidavam para ser madrinha de seus filhos, daí o fato de por onde andar ter sempre alguém a lhe pedir a benção. Se tornou uma referência importante em Mossoró”, lembra o neto.
Por parte da mãe, Pd. Guimarães tem como forte lembrança um caso misterioso ocorrido com sua bisavó, Deolinda Fernandes, considerada uma ‘Devota das Almas’ pelo fato de a cada falecimento, informado através dos sinos da igreja, ela mandar saber o nome para rezar por sua alma. Vitimada por um glaucoma irreversível, ficou cega, mas jamais perdeu a fé. Certa vez, ao tomar banho de rio no município de Assu, sentiu seu rosário sair do pescoço e se perder na correnteza.
Durante a noite, sob a luz da lamparina, triste pela perda do seu objetivo valioso, sentou em sua rede e fez uma oração o mentalizando. De repente, diz ter ouvido o som de algo caindo na vasilha de alumínio utilizada para lavar o rosto. Pediu a ajuda de outras pessoas indicando que seu rosário havia voltado. Em meio a descrença de todos, a surpresa: na vasilha, o colar perdido na correnteza. “Diante dessa e de tantas outras peculiaridades e histórias do mundo sacerdotal envolvendo minha família, eu não posso dizer que entrei para o mundo religioso. Eu já nasci nele”, explica Pd. Guimarães.
A BASE ACADEMICA – Aos 13 anos foi matriculado no Seminário Santa Terezinha, levado pelo Monsenhor Uberto Bruenning, de quem já era coroinha. Em 1969, foi para Natal fazer o ensino clássico no Atheneu norte riograndense. No entanto, sua visão revolucionária, crítico do sistema militar da época, somado ao sonho de criança de se tornar um ator famoso, o levaram para a cidade do Rio de Janeiro antes de começar o segundo ano.
“Não pensava apenas em me tonar um ator da Rede Globo, meu sonho mesmo era ganhar um Oscar em Hollywood. Entrei para o grupo ‘Teia de Teatro’ com este objetivo, apaixonado que eu era por cinema. Pude conviver naquele período de grande riqueza cultural em nosso país com nomes como Regina Casé, Luís Fernando Guimarães, Daniel Dantas, Patrícia Travassos, Evandro Mesquita, entre outros. Era o tempo do chamado teatro experimental, pois não queríamos ser chamados nem de profissionais, nem de amadores”, recorda.
Pd. Guimarães passou quatro anos na cidade maravilhosa. Apesar de seu amor pela arte nunca ter morrido, tanto que veio depois a criar em Mossoró o grupo Mutirão - Teatro de Gente e de Bonecos, que durante 15 anos revelou inúmeros talentos, o amor pelo sacerdócio foi ficando mais forte em sua alma. Por orientação de Dom Gentil, então bispo de Mossoró, cursou Filosofia no Seminário Maior de Fortaleza. Ao concluir, pediu ao então bispo coadjutor D. Freire para fazer Teologia no Instituto Teológico de Recife - ITER, o que foi prontamente atendido.
O SACERDÓCIO – Em 1980 Pd.Guimarães retorna à Mossoró para, após o período de seu estágio pastoral, ser ordenado padre em 07 de junho de 1981. Entre as muitas lembranças, destaca sua convivência marcante com o bispo Dom José Freire de Oliveira Neto, falecido em 2012. “Era mais do que um orientador, era um pai. Sempre teve por mim um carinho especial, me oferecendo todas as condições necessárias para que eu pudesse exercer meu sacerdócio de forma plena”, lembra.
Em sua trajetória eclesiástica, atuou nas paroquias do Alto de São Manoel, em Mossoró, por cerca de vinte anos, de Alexandria, alto oeste potiguar por três anos, e de São Sebastião do Cordeiro, em Recife, por mais de um ano. “A gente pensa que sabe de muita coisa quando se ordena. Na verdade, é o contato com o povo que nos oferece a verdadeira formação para a vida. As experiências, as conversas, o sofrimento e as angustias alheias, sobretudo a alegria das pessoas, ensina a humildade, lição que Jesus nos deixou, mas que é preciso viver intensamente para poder absolvê-la por completo”, ensina.
Atual diretor da Biblioteca Pública Municipal Ney Pontes Duarte, tem hoje como principal missão religiosa fundar um mosteiro beneditino no conjunto Liberdade I, um trabalho que diz fazer por amar servir ao próximo. Para executá-la, gosta de lembrar as palavras do bispo de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga: ‘o povo é a cruz onde eu me crucifico todos os dias, mas como a cruz é sinal de redenção, é o povo que me redime todos os dias.’ “É assim que me sinto em relação ao povo de Mossoró”, descreve Pd. Guimarães.

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